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Miliciano da Liga da Justiça preso tinha patrimônio de R$ 15 milhões, 27 imóveis e 77 carros

Kadu do Gás é suspeito de chefiar esquema criminoso que movimentou R$ 191 milhões em quatro anos

Por Portal Eu, Rio! em 28/04/2020 às 19:08:04

Anel da Liga da Justiça encontrado com a quadrilha. Foto: Divulgação/Rafael Moraes

Foi preso hoje (28), em Nova Iguaçu (RJ), o homem suspeito de erguer um império com a formação de um cartel milionário a serviço da maior milícia do país, que já foi conhecida como Liga da Justiça. Carlos Roberto da Silva Rocha é apontado como o responsável pelo monopólio do fornecimento de gás nos municípios da Baixada Fluminense. Outros três suspeitos de integrar a quadrilha também foram detidos. Um homem ainda está foragido.

A expansão do grupo para a região nos últimos anos foi feita como "franquias do crime". Kadu do Gás, como ficou conhecido na área onde atua, tem um patrimônio de ao menos R$ 15 milhões em imóveis, veículos e outros bens bloqueados pela Justiça, segundo a Polícia Civil. Entretanto, quebra de dados bancários e fiscais deve ajudar a revelar uma fortuna bem mais expressiva, acreditam os investigadores. Apontado como o proprietário de 27 estabelecimentos em Nova Iguaçu e Seropédica, ele é um dos suspeitos de chefiar um esquema que movimentou cerca de R$ 191 milhões nos últimos quatro anos.

80 policiais cumprem 68 mandados

Uma força-tarefa com mais de 80 policiais civis e apoio da Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas) foi formada para cumprir 68 mandados de busca e apreensão e cinco mandados de prisão temporária —incluindo o de Kadu do Gás, que foi levado para a Cidade da Polícia, no Jacarezinho, zona norte do Rio. Ele chegou ao local acompanhado por um advogado e com máscara de proteção fornecida pelos próprios policiais que fizeram a prisão. O grupo foi indiciado por lavagem de dinheiro, organização criminosa e crime contra a ordem econômica.

A Justiça do Rio bloqueou um patrimônio formado por 115 veículos, 33 imóveis e outros bens que pertencem ao empresário, encobertados com o auxílio de "laranjas", segundo investigação do Departamento Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro.

O sequestro dos bens foi decretado pela 1ª Vara Criminal Especializada da capital do Tribunal de Justiça, após manifestação favorável do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro).


Kadu do Gás. Foto: Divulgação

Ligação com “Tandera”

De acordo com a investigação, o grupo tem ligações com Danilo Dias Lima, o Tandera. Responsável pela expansão dos paramilitares para os municípios da Baixada, o miliciano integra a lista dos criminosos mais perigosos do país, divulgada em janeiro pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública.

A quadrilha se impôs na região com um sangrento ritual de iniciação, que inclui assassinato, esquartejamento e ocultação de cadáver em cemitérios clandestinos.

77 carros e 40 motos

Kadu do Gás é dono de 77 carros, incluindo veículos de grande porte, como caminhões, tratores, reboques e até ônibus. Ele também é proprietário de quase 40 motocicletas, segundo as investigações. A Polícia Civil ainda investiga a origem de outros R$ 15 milhões ligados aos outros suspeitos de integrar o grupo, responsável pela criação de um monopólio no fornecimento de gás aos moradores da Baixada.

A apuração começou após um relatório de inteligência do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) identificar movimentações de valores incompatíveis com o patrimônio dos investigados. A meteórica ascensão financeira de Kadu, um ex-ajudante de entrega de gás de cozinha que se tornou o chefão do império do ramo, despertou a atenção dos investigadores.


Um dos veículos de Kadu do Gás. Foto: Divulgação

Ameaças, cobranças e assassinatos

Ameaças, extorsão e criação de monopólio De acordo com a investigação, a milícia afasta concorrentes com ameaças e cobrança do pagamento de taxas mensais, que acabam obrigando os empresários a abandonar o ramo. E, assim, é estabelecido o monopólio formado por empresas legais, que ajudam a fazer a lavagem de dinheiro para as atividades criminosas exercidas pela milícia, aponta o inquérito da Polícia Civil.

Outro entrave na investigação é a dificuldade de testemunhas que denunciem. Ex-integrantes que viraram informantes das autoridades acabaram sendo assassinados.

Segundo o inquérito policial, a maioria das empresas era de fachada, já que havia funcionários registrados em apenas três dos 27 estabelecimentos comerciais supostamente a serviço da milícia.

Preso pela primeira vez pela Corregedoria da Polícia Militar do Rio de Janeiro em outubro de 2018 por suspeita de envolvimento com a milícia, Kadu do Gás começou a se desfazer de parte do seu patrimônio desde então. Segundo o inquérito, o empresário já repassou cerca de 70% das empresas que estavam em seu nome para "laranjas".

Não conseguimos localizar os advogados do empresário para ouvir a sua versão.

IMPÉRIO DO GÁS

Patrimônio

R$ 191 milhões

Movimentação financeira em 4 anos ligada ao empresário conhecido como Kadu do Gás
R$ 15 milhões

Valor bloqueado ligado aos 27 estabelecimentos na Baixada Fluminense com o auxílio de “laranjas”, para ocultar parte do patrimônio do empresário

Bens

R$ 2.097.215

É o valor de 30 carros de grande porte (caminhões, tratores, reboques e ônibus)

R$ 9.175.000

É o preço do mercado de 33 imóveis ligados ao empresário

R$ 1.662.510

É o patrimônio correspondente a 47 carros

R$ 282.042

É a avaliação de mercado de 38 motos

R$ 477.700

Cotas sociais bloqueadas em 16 das empresas investigadas

Fonte: Polícia Civil/RJ

Fonte: Herculano Barreto Filho - UOL/RJ

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