Sofrendo racismo nas redes sociais brasileiras, sejam em piadas ou mesmo xingamentos, os negros e negras do Brasil ganharão uma rede social, tipo Facebook, por exemplo, onde poderão interagir e discutir sobre os mais diversos assuntos e divulgar os seus trabalhos. É a Black & Black, desenvolvida pela Favela Holding, um conjunto de empresas que tem como objetivo central o desenvolvimento de favelas e de seus moradores. O lançamento da versão beta da rede será no próximo dia 15, na Serra da Barriga/AL.
O CEO da Favela Holding, Celso Athayde, teve a ideia de lançar a primeira rede social indicada para o público negro do mundo. "Eu trabalho na CUFA (Central Única de Favelas) com negros, e esse tema faz parte do nosso debate, ainda que a gente use o foco central na favela. Sempre fez parte dos nossos projetos. Existe música negra, movimento negro e concurso de beleza negra, enfim, diversas manifestações de negros. A gente queria uma plataforma que pudesse congregar esses pensamentos. Que não fosse uma plataforma que as pessoas ficassem xingando umas às outras. A gente quer transformar essa rede em uma grande família", contou Athayde, que investe há quatro anos no projeto, batizado por ele de corrente global, cujos membros serão chamados de Elo.
O lançamento da rede aconteceria em março de 2019, mas, a versão beta do projeto será antecipada a pedido de três amigos do empreendedor social, Nega Gizza (PSOL-RJ), a deputada estadual, Anderson Quack (PSOL-RJ), a deputado federal, e Preto Zezé (PC do B-CE), a deputado estadual.
A Black & Black terá o intuito de promover uma maior interação entre negros e negras, nas mais diversas atividades como empreendedorismo, empregabilidade, beleza, religião, política, debates, cultura, lazer, saúde, entre outras. Está sendo desenvolvida pela empresa de tecnologia Plah, e será a primeira do mundo indicada para internautas negros construírem uma agenda integrada.
Quando Celso apresentou um projeto menor para os amigos Anderson Quack, Nega Gizza e Preto Zezé, o objetivo era criar uma plataforma mais simples e específica para a campanha dos três. Porém, eles entenderam que não deveria existir uma rede restrita apenas a eles, mas deveria ser ampliada para todos os candidatos negros do Brasil e do mundo, por acreditarem que a união e conexão dos negros é uma demanda global, e que a plataforma será a chance dos negros darem uma grande resposta já nas eleições de 2018, uma vez que ela colocará, virtualmente, eleitores e candidatos com os mesmos perfil e história na mesma mesa.
"Estamos fazendo um mix de outras redes sociais, como Facebook, Linkedin, Twitter e Instagram. Falta alguns ajustes e itens a serem colocados e a cada vinte dias, até dezembro uma avaliação e atualização até lá. Vai ser oportunidade de apresentar os pré-candidatos aos eleitores. Os negros não têm dinheiro para fazer campanha, geralmente. Por isso, antecipamos o lançamento. Logo, nos tornaremos uma rede internacional, abrindo para outros países. Os primeiros 50 a serem cadastrados serão da comunidade da Serra da Barriga. Temos uma expectativa de 10 milhões de pessoas passem a usar a rede em vinte dias", disse o CEO da Favela Holding.
Segundo ainda Athayde, a plataforma é um ponto de encontro da população negra, um espaço colaborativo de construção de conteúdo plural com responsabilidade e que valoriza pares, irmãos e irmãs. Como toda família democrática, o espaço é aberto á liberdade de pensamento e ao debate respeitoso de ideias, sem abrir mão dos pontos que os unem. "Queremos consolidar os discursos e demandas blacks num só lugar, e aqui, todos serão vigilantes, para crescermos sem perder a harmonia. Queremos que os negros se sintam em casa, que seja um encontro de família", acrescentou o idealizador da rede.
A escolha do local de lançamento é por sua importância histórica. A Serra da Barriga abrigou o Quilombo dos Palmares, que hoje integra o estado de Alagoas.