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A força da solidariedade das mulheres-mães tijucanas no seu dia

42 cidadãs que tornaram especial o Dia das Mães de uma camelô desempregada

Por Edison Corrêa em 10/05/2020 às 09:00:00

Miriam e seus três filhos. Fotos da matéria: Divulgação


Vídeo de hoje, Dia das Mães, sobre a história

O cotidiano de Miriam Ellen não é diferente de muitos brasileiros. Ela é uma das 12,9 milhões de pessoas desempregadas no Brasil. Com 20 anos e três filhos – Kauã, de cinco, Oséas de quatro, e Luísa, uma bebê de apenas um ano, ela se divide na criação das crianças no pequeno cômodo em que mora com a irmã de 35 anos – que a criou após a mãe morrer aos seis anos de idade - no Complexo do Alemão, mais precisamente na localidade conhecida como Fazendinha, e o "bico" da venda de doces e balas na Rua Conde de Bonfim, esquina com Conselheiro Zenha, na Tijuca, onde geralmente "trabalha" entre um banco e um supermercado, após perder o emprego de camelô, há sete meses.


Miriam vendendo balas com um dos filhos

Uma semana antes do Dia das Mães, domingo passado (03), Miriam descobriu na pele que a solidariedade pode fazer diferença na vida de uma pessoa. Dependendo do auxílio e da caridade das pessoas que por ali passavam, bem como da venda de seus produtos, segundo ela mesma, a sorte lhe sorriu após ser avistada por um anjo do bem, uma jornalista de nome Aline e sobrenome – não por acaso – Jesus, que sempre a ajudava com um pacote de fraldas – e ela sempre abria na hora "pra menina não pensar que eu ia vender". Ao avistar a vendedora de doces na porta do banco, uma força especial tocou o coração de Aline, algo que nem ela compreendia.

Naquele dia, Aline comprou máscaras para Miriam e os filhos, mas ela tinha levado para a labuta somente um deles. Contou à jornalista que "estava saindo pouco de casa pelo medo do coronavírus". Disse que tinha ido à luta naquela ocasião justamente pensando em tirar o dinheiro para comprar máscaras para ela e os filhos. "Geralmente, ela tira R$ 40 por dia na venda dos doces e ficou muito grata com minha boa ação. Mas eu pensei nesses tempos de pandemia e quis fazer mais. Pedi a ela para falar sobre a vida, do que ela precisava e filmei com o celular", conta Aline, revelando o que fez os olhos da camelô brilharem: uma oportunidade de emprego.


Algumas pessoas ajudam Miriam no seu "local de trabalho"

Aline saiu daquela conversa decidida, tanto que prometeu a Miriam uma campanha no bairro para ajudá-la. Após a jornalista conhecer um pouco da história daquela jovem, a chama do bem, da caridade e do amor se espalhou. Ela pegou as fotos e o vídeo de Miriam e postou a história em grupos de Whatsapp e numa comunidade de moradores da Tijuca no Facebook. No texto, ressaltou que estava aceitando qualquer doação: roupas, fraldas, artigos de limpeza, alimentos e brinquedos para as crianças, além da cereja do bolo: o emprego tão almejado. "Como Miriam não tinha telefone, disponibilizei meu número para os contatos", conta.

A partir daquela data, o celular de Aline não parou mais. Um vírus contaminou o bairro, porém não era a Covid-19. A movimentação foi tão grande que tiveram de abrir um grupo no whatsapp chamado "Solidariedade Miriam" para coordenar as doações. No total, 42 mães e mulheres, 90% tijucanas, fizeram uma aglomeração on line para ajudar quem nem conheciam. Uma vaquinha virtual foi criada e, em dois dias, 90% do valor já estava disponibilizado. O dinheiro tem um destino: ajeitar a "casa" onde ela mora. "Fiquei muito tocada com a situação: o cômodo em que ela reside tem um banheiro à céu aberto, com apenas um vaso sanitário. Miriam toma banho, com os filhos, na casa da vizinha. A pia é do lado de fora da casa, que não tem porta. A janela está sem vidros. A residência, que tem uma parte com risco de desabamento, foi deixada pela mãe", conta Aline, que já "contratou" o ex-cunhado dela, que também estava desempregado. "Já estamos com as medidas do banheiro e o material", exulta.

O vaso sanitário da casa de Miriam, no Complexo do Alemão

No meio da pandemia de solidariedade, outro anjo sem asas apareceu: Sônia Regina. Também moradora da Tijuca, onde reside sozinha, ela disponibilizou lanche e almoço para Miriam e os filhos, e a presenteou com um par de brincos e um cordão com um pingente de coração "para simbolizar o amor do grupo por ela". Não obstante tudo que fez, Sônia ainda chamou Miriam para fazer faxina na sua casa, "para ganhar seu dinheiro quinzenal". Todas as doações foram recolhidas em diversas ruas do bairro por outra colaboradora tijucana, Anna Lopes, que num só dia buscou doações em treze residências de diferentes famílias, deixando tudo na casa de Sônia, onde Miriam estava "faxinando".


"Faxinando" na casa de Sônia Regina

Em todas as doações, as contas foram prestadas com clareza. Após a faxina, Miriam voltou de Uber para casa com itens de higiene, medicamentos básicos, fraldas, leite, carne, frutas e outros alimentos, além de brinquedos. "Havia dias em que ela não comia uma carne ou frango, somente feijão e arroz. O lanche que levei nesse dia, ela guardou para o outro filho, que tinha ficado em casa", diz Aline, que completa: "ela chega a dividir até o feijão com arroz que come com a gatinha que anda no terreno dela. Chegou a me contar que ficou triste ao perceber que os bebês filhotes da felina não comiam o feijão com arroz...".


As doações das tijucanas

Por muitos dias Miriam, que tem o ensino médio completo, faltará ao seu "trabalho" por causa dos moradores da Tijuca. Sua bebê está gripada e ela também quer se preservar. O pai das crianças a ajuda, ainda são casados no papel, mas estão separados "de corpos". "É um rapaz bom, olha os meninos e, depois de qualquer "bico", ele ou a mãe, avó das crianças, ajuda financeiramente. Mas, infelizmente, ele também está desempregado desde dezembro. Por isso agradeço a todas as tijucanas", suspira Miriam. Na pior das hipóteses, após a pandemia de solidariedade baixar e o pico da onda de amor arrefecer, ela sabe que pode contar com as mães-mulheres do bairro em que escolheu montar seu "escritório".


Miriam e as doações

"Tudo que Miriam precisa é de apoio. Ela tem muita vontade de vencer. E tendo essa alavanca de quem puder ajudá-la, fica menos doloroso para ela conseguir seguir sozinha com dignidade. Afinal, ter um teto sem risco para morar, com alimento na mesa, é um alento. Já há uma pessoa no grupo arrumando um trabalho fixo para ela", conclui o anjo que surgiu dos céus no caminho terreno da mãe desempregada: Jesus, não o filho de Deus, mas Aline, a jornalista solidária do bairro da Tijuca. Amém.


Aline Jesus

Veja a repercussão nas redes sociais e a "vaquinha" disponibilizada:


Vídeo de hoje, Dia das Mães, sobre a história:


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