Por conta do avanço da quarentena devido à pandemia, os encontros ao vivo, principalmente os românticos, tiveram que ficar para depois. Isso trouxe uma repaginada na vida e nas relações entre as pessoas. Essa influência gerou um aumento pela procura dos encontros mais quentes em salas virtuais e o upload de aplicativos de relacionamentos, como Tinder, Happn e outros.
Nessas horas de isolamento total, essas ferramentas via web podem ser aliadas para quem procura uma companhia à distância. Pesquisa do Happn revelou que 54% dos usuários estão dispostos a ter o primeiro encontro por videochamada. Junto a isso, a geração chamada babyboomers* já demonstra estar se adaptando ao webnamoro.
As dinâmicas de relacionamentos realmente sofreram uma guinada. O Badoo, maior aplicativo de relacionamentos do mundo, identificou mudanças na forma como seus usuários andam se relacionando no app. A marca percebeu um aumento de conversas significativas através das métricas no número de mensagens trocadas, no tamanho das frases enviadas, no tempo e na frequência das interações na plataforma.
Pesquisa de abril do próprio Badoo revelou que 57% acreditam que aplicativos de relacionamentos são agora mais importantes do que nunca, considerando o contexto de distanciamento social. Dentre eles, 62% disseram sentir-se menos sozinhos quando usam aplicativos e 59% consideram a troca de mensagens uma ótima forma para se distraírem de tudo o que está acontecendo.
Videoconferências
A terapeuta e coach de relacionamento Fabiana Pereira, 32 anos, para além dos estudos profissionais, também é frequentadora das ferramentas de relacionamentos via web. "O relacionamento, com a questão do distanciamento social, é bem desafiador. Porém, é algo gostoso, gera uma saudade, mais conexão emocional, você tem mais tempo para cuidar de você e das suas questões pessoais. Meu contato atualmente está sendo totalmente pela internet, não tive encontros pessoais desde que começou o isolamento", revela Fabiana, que tem utilizado os aplicativos Tinder e Adote Um Cara.
Segundo ela, a pessoa que ela tem mais conversado era alguém que ela já havia conhecido antes da pandemia, em um bar de música latina. "A conexão mais interessante acontece quando realizamos vídeochamadas, ficamos horas conversando sobre tudo, falamos sobre a nossa rotina, mostramos o que estamos fazendo naquele momento", conta. Ela revela que está aproveitando esse período para analisar e observar os homens que estão compatíveis aos seus valores. "Senão, faço novas amizades também", diz a terapeuta.
De acordo com Fabiana, o momento pede uma adaptação ao namoro via internet. "Senão perdemos oportunidades de conhecer as pessoas. Acho bem descontraído e desafiador, mas é possível gerar uma conexão emocional e uma proximidade maiores, conhecer mais a pessoa que você vai se relacionar. Creio que esse seja o momento certo para estreitar os laços emocionais com a pessoa para depois partir para o contato físico. Isso mais engajados e conectados para verificar o que de verdade um quer do outro", analisa.
Fabiana Pereira
É bom sentir saudades...
Já a fotógrafa Thalita Ribeiro, de 27 anos, conheceu o cineasta M. V., de 31, também antes do distanciamento social. "Nós nos conhecemos há quatro anos. Eu era casada e, além da fotografia, vendia bolo de pote. Ele comprou algumas vezes. Sempre tivemos contatos pelas redes sociais, mas começamos a conversar, na intenção de ter algo, quando já tinha começado a pandemia", afirma.
Após dar match no Tinder, ela conta que o viu duas vezes. "Nos beijamos, mas agora estamos mantendo contato somente pela internet mesmo. Facilitou, pois estamos nos conhecendo melhor. Por morarmos no mesmo bairro, deixa a gente com vontade de ter encontros pessoais, porém nos preservamos e a nossas famílias também", confessa ela, que reside em Bangu.
Segundo Thalita, é preciso ter maturidade, diálogo e entendimento, tanto na internet, quanto fora dela. "Estamos vivendo uma era que temos muito tempo livre. Mas isso não quer dizer que tenhamos de ter contato o tempo todo, apesar da saudade e vontade de querer estar junto. É bom sentir essa saudade, às vezes", ri.
Ela revela que a conversa flui naturalmente. "Conversamos bastante sobre cinema e fotografia, a afinidade é boa. Não somente sobre estes dois assuntos, mas a tudo que os liga, como roteiros, vontade de fazer teatro, luz e outros temas afins", ressalta.
Thalita Cajueiro
Conexão mais forte e duradoura
A neurocoach e terapeuta de relacionamentos Rosangela Matos é proprietária da página @DescomplicandoRelacoes no Instagram. Especialista no assunto, ela vê com positividade o atual momento. "Antigamente, as pessoas se apaixonavam trocando cartas e telefonemas. Hoje é possível fazer isso utilizando a tecnologia. Creio que os aplicativos são uma boa maneira de se distrair, conhecer novas pessoas, lidar com a timidez e até mesmo começar uma relação amorosa", avalia. Ela acredita que é favorável conversar por mais tempo antes de um primeiro encontro amoroso. "Os papos on line tornam a conexão mais forte e duradoura. Casais que não combinam também vão perceber isso em algumas conversas e partir para outra", acredita.
Rosangela Matos
Rosangela ressalta que, mesmo à distância, sendo o encontro virtual, é possível manter a sintonia e o interesse. "Para que isso aconteça, é importante que as pessoas não criem personagens, falem a verdade sobre si, o que realmente pensam e estejam dispostas a conhecer o outro da mesma forma, sem máscaras. É a autenticidade, a troca e o contato frequente que vão ajudar para que a proximidade se mantenha durante o período de isolamento", afirma. E completa: "após alguns dias conversando, o casal pode combinar uma vídeochamada ou até mesmo assistir um filme ou série no mesmo horário para depois conversarem sobre o assuntem comum. Também podem fazer refeições no mesmo horário e definir um tempo do dia para bater papo", finaliza a especialista.
*Babyboomer é a geração de pessoas nascidas entre os anos de 1946 e 1964. A expressão pode ser livremente traduzida como "explosão dos bebês". O termo "explosão" é usado aqui com o sentido de "crescimento desenfreado", o qual causou um "boom" demográfico no planeta, especialmente nos Estados Unidos.