No dia 26 de julho, os Estados Unidos fez acordo com a União Europeia, encerrando uma guerra comercial iniciada em maio, quando o presidente americano, Donaldo Trump, anunciou aumentar a tarifa sobre o aço e o alumínio importado da Europa. Agora, com o acordo, os EUA e a Comissão Europeia acordaram suspender a aplicação de novas tarifas e a Europa vai importar mais soja e gás natural liquefeito dos americanos. O que pode prejudicar as exportações brasileiras, segundo economistas ouvidos pelo portal Eu, Rio!
Para Adhemar Mineiro, economista do Dieese (Departamento Intersindical e Estatísticas e Estudos) e que acompanha pela CUT e os sindicatos as reuniões do G-20 (grupo das principais economias mundiais), considera que o acordo pode ser prejudicial às relações comerciais do Brasil com a Europa.
"Os Estados Unidos são grandes competidores do Brasil em produtos primários, como soja, carnes, açúcar e arroz. Esse acordo vai fazer com que os Estados Unidos tenham condições mais vantajosas ao vender os produtos para a União Europeia, prejudicando o Brasil, que sempre foi um grande exportador para a Europa destas commodites. Já perdemos na exportação de produtos industrializados, pois esse é um mercado dominado pelos EUA", observou.
O economista José Fevereiro, da UFRJ, concorda com o colega, ressalvando que somente as exportações de café não seriam afetadas.
"Isso pode afetar as nossa exportações de soja , carne e outros produtos para a Europa. Só o café não seria afetado porque os EUA não o exportam. Qualquer acordo que implique em preferências para exportadores norte americanos na Europa e exportadores europeus nos EUA nos prejudica. Com relação ao estado do Rio me parece dos menos afetados por isso. O Rio não exporta commodities agrícolas, não tem uma indústria de transformação exportadora significativa e o nosso principal produto , o petróleo, não será afetado por esse conflito", explicou Fevereiro.
Se com a União Europeia os EUA se acertaram, o mesmo não se pode dizer em relação à China. Nos últimos meses, aumentaram as tensões comerciais entre os dois países. Na última quinta-feira, o Governo Trump anunciou que estuda elevar de 10% para 25% as tarifas sobre US$ 200 bilhões em produtos importados da China, o que fez com que o mercado de ações chineses recuassem. O índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, recuou 2,3%, enquanto o índice de Xangai teve queda de 2%.
Os EUA reclamam que a China gera ao país grande déficit comercial. O governo americano acusa os chineses de roubar propriedade intelectual, especialmente no setor de tecnologia, além de violar segredos comerciais das empresas americanas, gerando uma concorrência desleal com o resto do mundo.
A China, então resolveu retaliar e impôs tarifas de 25% sobre 128 produtos americanos, como soja, carros, aviões, carne e produtos químicos.
Segundo Mineiro, dependendo do acordo que for feito entre os EUA e a China, o Brasil também pode sair perdendo.
"A China é hoje o nosso maior parceiro comercial. Importador de carne e soja. Se os Estados Unidos conseguirem um acordo favorável, que aumente as suas exportações de seus produtos aos chineses, isso vai acabar afetando o Brasil", afirmou.
O economista acredita que a crise política no Brasil e o fato de muitos questionarem, aqui e lá fora a legitimidade do Governo Michel Temer, prejudica o país em suas relações comerciais.
"Diante dessa turbulência política, o Brasil perde credibilidade internacional no comércio. Ele perdeu a relevância política que tinha antes do impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016. Muitos países têm dúvidas sobre a legitimidade do governo brasileiro", observou Mineiro.
De acordo com Fevereiro, a guerra comercial EUA x China pode trazer ainda mais prejuízos à economia brasileira.
"O problema potencialmente mais grave é a briga com a China. A Ásia responde hoje por 80% das nossas exportações de soja e a China é o principal mercado. Não se sabe ainda como se dará a resolução deste conflito, mas se for em linha com o que esta sendo acertado com a União Europeia tem potencial de afetar nossas exportações agrícolas. O prolongamento do conflito com sobretaxas americanas as exportações industriais chinesas levara a China a escoar para outros mercados sua produção industrial excedente. Isso também pode afetar o Brasil. As variáveis em torno de uma guerra comercial e os acordos que podem por fim a ela são sempre grandes", apontou.