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Crivella tacha de 'fake news' reabertura de atividades na cidade a partir de 1º de junho

Prefeitura nega plano noticiado pelo Extra prevendo volta às aulas e retomada do comércio ao longo de junho

Por Portal Eu, Rio! em 23/05/2020 às 20:36:23

Prefeito negou volta às aulas e retomada de cultos e futebol já a partir de 8 de junho, mas voltou a falar em redução do contágio e 'retomada segura' das atividades Foto Agência Brasil

O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, publicou em seu perfil no Instagram uma nota negando a retomada de atividades na capital fluminense a partir de 1º de junho. A Comunicação da Prefeitura chegou a publicar uma fac-símile com a primeira página do Jornal Extra, e um carimbo em vermelho, garrafal, escrito Fake News. A Nota de Esclarecimento assinada por Crivella, contudo, adotava tom bem mais cordato, estilo 'Crivellinha Paz e Amor:

"Pessoal, desde o início da pandemia, a nossa maior preocupação é salvar vidas. Com as medidas já tomadas, conseguimos reduzir a curva de contágio, com isso, estamos analisando, junto ao comitê científico, como poderá ser feita a retomada das atividades de maneira segura para a população carioca. Deixo claro que ainda não temos data para reabertura de quaisquer atividades até o momento."


Até que viesse a público o desmentido do prefeito, o plano prevendo itens como o retorno dos cultos e dos jogos de futebol no dia 8 de junho e das âncoras dos shoppings no dia 15 despertou muita polêmica nas redes sociais e fora delas. O Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) alertou o prefeito Marcelo Crivella e o governador Wilson Witzel que convocaria uma greve da categoria se confirmada a volta às aulas. No documento renegado pelo prefeito, o ensino médio (que sequer é atribuição das prefeituras) começaria no dia 1º, as creches e pré-escolas no dia 8.

Consultadas sobre o plano que o prefeito teria recebido, as assessorias do Gabinete do Prefeito e da Secretaria Municipal de Saúde responderam de forma padronizada, letra por letra: "Não procede. FAKE NEWS. A Prefeitura do Rio deixa claro que não existe nenhuma nova data para reabertura de quaisquer atividades até o momento." O subsecretário de Saúde, Jorge Darze, nega que o documento seja da Prefeitura, mesmo como estudo preliminar. O único ponto que colaboradores de Crivella admitem, reservadamente, é que grupos empresariais estejam fazendo gestões e tentando acelerar a reabertura do comércio, mas sem sucesso junto ao Prefeito.


A proposta negada oficialmente ganhou força e encontrou crédito junto aos internautas não apenas pela credibilidade do veículo que a publicou, mas por ter sido noticiada dois dias depois de uma visita de Crivella ao presidente Jair Bolsonaro. Na quinta-feira, dia da videoconferência do presidente com os 26 governadores de Estado e o mandatário do Distrito Federal, Crivella foi o único governante a encontrar-se pessoalmente com Bolsonaro, a quem apoiou na eleição de 2018, com a benção do tio Edir Macedo, principal dirigente da Igreja universal do Reino de Deus.

O prefeito voltou ao Rio exibindo otimismo com o combate à pandemia e perspectivas de reabertura 'nos próximos dias' das atividades interrompidas pelas medidas de distanciamento social. Trouxe na bagagem provas de prestígio junto ao aliado mais palpáveis do que o almoço no Planalto. A Secretaria Municipal de Fazenda informou que o Governo Federal faria um repasse de R$ 625 milhões, dos quais R$ 95 milhões focados no combate à Covid-19, obrigatoriamente.

Crivella informou ter feito ao presidente um balanço das ações que vêm sendo realizadas na capital fluminense. Destacou o fato de o Rio ter conseguido comprar 806 respiradores na China, estar diminuindo a fila de espera por leitos e, inclusive, poder ceder 16 aparelhos ao governo de Wilson Witzel.

Adversário de Bolsonaro, que dedicou comparações fedorentas ao desafeto na reunião gravada em vídeo liberado pelo decano do Supremo Tribunal Federal e acusações de plantio de provas e armação contra um dos filhos do presidente, numa coletiva na sexta-feira 22/5, Witzel inaugurou até agora apenas um dos sete hospitais de campanha com recursos estaduais previstos no Plano de Contingência, assim mesmo com menos da metade da capacidade. No total, são apenas 15% dos leitos previstos.

A comparação favorável com Witzel não foi a única notícia que o cantor Crivella fez soar como música nos ouvidos de Bolsonaro. De posse de dados que afirmariam a desaceleração da curva de contágio pela Covid-19 e uma fila menor por internações, a Prefeitura acenou com uma reabertura gradual de setores da economia.

- O presidente queria um panorama do Rio de Janeiro e dei a ele todos os detalhes. O Rio tem conselho científico e nunca fizemos lockdown total. Mantivemos a indústria trabalhando, como a da construção civil, de petróleo e gás, a siderúrgica, e os serviços como advocacia, contabilidade, engenharia, arquitetura. Nossos médicos e especialistas, aconselhando a Prefeitura, e os setores de comércio e serviços, sentaram e definiram um planejamento para reabertura escalonada, como em todo lugar do mundo -, afirmou o prefeito.

Crivella disse que isso só será possível, no entanto, com a continuação do trabalho feiro pela Prefeitura e com o apoio da população, que entendeu a importância de ficar em casa. O prefeito enfatizou que a decisão será tomada junto ao conselho médico-científico que o assessora. Cientistas desse grupo assessoram também o Governo estadual, e elaboraram em nome da Universidade Federal do Rio de Janeiro um documento que adverte para a persistência da ascensão do número de casos, num ritmo que poderia levar o total de mortes no País a 30 mil, ainda em junho, provável pico da doença. Esses dados ajudariam a explicar porque o prefeito desmentiu o plano no sábado, mesmo que mostrasse certo otimismo dois dias antes, ao voltar da conversa com Bolsonaro. Vale reparar o tom otimista, mas cauteloso, já na ocasião:

- No Rio, tivemos diminuição em 80% das aglomerações e também do trânsito de pessoas nas ruas e nos. Vislumbramos, no horizonte, sinais de que podemos voltar; e vamos voltar. Já abrimos 860 leitos para a Covid-19 em dois meses, nossa curva de contágio está decrescendo e o Rio manteve o afastamento social nos setores de serviço que necessitam de dois metros de distância. Se Deus quiser, nos próximos dias, vamos começar a reabrir – explicou.



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