Dados da Confederação Nacional de Comércio de Bens, Serviços e Turismo mostram que o mês de maio atingiu o maior patamar de endividamento das famílias brasileiras em quase três anos. No levantamento, o percentual de famílias que se declararam endividadas no mês é de 66,5%, ainda acima de maio do ano passado, 63,4%. Com o cenário da pandemia em expansão no país, a consequência é um efeito cascata no endividamento no bolso dos brasileiros.
"O descontrole financeiro afeta diretamente a qualidade de vida, causando sérios problemas de saúde como estresse, depressão, instabilidade emocional e baixa produtividade, o que pode acarretar o desemprego", conta a educadora financeira Maysa Moro.
A reclusão social afetou de forma grave a renda das famílias brasileiras. Em entrevista ao Portal Eu, Rio!, a educadora financeira, co-autora do livro "A Roda do Dinheiro", obra criada por equipe de educadores financeiros com o objetivo de ajudar nas finanças pessoais, dá dicas sobre como manter o controle dos gastos e como reduzi-los em tempos de crise.
Portal Eu, Rio!: A pandemia pode ser considerada o pior fator para endividamento familiar? Se sim, por qual ou quais motivos?
Maysa Moro: É claro que influencia, afinal em todos os segmentos houve queda do faturamento das empresas e muitos desempregos. Mas não é a causa principal, mas sim o perfil de consumo das famílias ligado à má administração do dinheiro, a falta da educação financeira. Quando não se sabe exatamente o valor da renda e das despesas é muito fácil se endividar, e não é a situação que causa as dívidas, o dinheiro não sai por aí fazendo compras sozinho, tem uma pessoa por trás disso.
PER: O mês de maio é o período de maior endividamento na renda familiar dos brasileiros dos últimos anos, segundo a Confederação Nacional de Comércio de Bens, Serviços e Turismo. Como você enxerga esse cenário?
MM: É um cenário inesperado, que jamais se imaginou. O aumento da inadimplência ocorreu porque a renda de milhares de brasileiros ficou mais restrita nesse período, muito pela falta de planejamento e de não ter a Reserva de Emergência, que é essencial em casos como esse.
PER: Em tempos de pandemia, época em que a população está mais sensível e vulnerabilizada, é possível controlar os gastos?
MM: É possível sim. Arrisco a dizer que é um excelente momento para isso. As pessoas estão em casa, sem ter para onde ir, então é um bom momento para olhar para si próprio e perceber o que está sobrando que não faz parte do extremamente necessário para viver. Com isso, iniciar uma mudança de hábitos em relação ao consumo.
PER: Cite ações ou atitudes que podem ajudar as famílias a controlar as finanças pessoais.
MM: Não gaste sem ter o dinheiro. Compras, apenas à vista. Isso significa somente dinheiro ou cartão de débito. Se você não tiver o suficiente, significa que não pode ter aquele gasto.
PER: Algumas outras dicas?
MM:
* Reduzir todos gastos possíveis: acompanhe as despesas, faça lista de compras, revise hábitos e assinaturas;
* Listar no papel/planilha todas as despesas e dívidas: apenas dessa maneira é possível saber como está a real situação financeira;
* Fazer uma previsão das despesas futuras: pelo menos três meses, assim é possível saber quanto precisará obter de renda. Se vai faltar, ainda dá tempo de planejar uma renda extra;
* Separar uma parte da renda para iniciar a reserva de emergência. Faça isso logo no início do mês, se esperar para mais tarde não vai sobrar. Muito importante aqui é ter constância para criar o hábito.
* Ter objetivos de vida bem definidos: assim é mais fácil para concentrar os esforços para conseguir a realização. No momento de uma compra, pense se está de acordo com o que você quer para o futuro.