O relaxamento das medidas de isolamento social para o combate à Covid-19 causa preocupação a especialistas. No Rio de Janeiro, estado e município baixaram normas liberando algumas atividades em praias e shoppings, mas o que tem sido observado são aglomerações nas areias e mergulhos de banhistas, o que não é recomendado por médicos.
A pneumologista da Fiocruz, Margareth Dalcomo, mostra preocupação com a abertura das atividades. "Temos muita preocupação com essa abertura, levando a muita aglomeração em shoppings e em filas que não obedecem o distanciamento adequado. Considero que, logisticamente, é muito complicado fazer o controle das aglomerações. Acho que, com essas medidas, as autoridades assumem um risco que, provavelmente deve estar calculado", disse, acrescentando que o tempo de incubação para o surgimento efetivo dos sintomas leva entre 12 a 14 dias.
Foto: Ellan Lustosa/Agência Eu, Rio!
Isolamento social é relaxado por Governo e Prefeitura
O governo do Estado flexibilizou as medidas de isolamento social através da Lei 8.859, publicada em 4 de junho. Mas estabelece regras para as atividades. Entre elas, a obrigatoriedade do uso de máscaras também nas praias, além de em outros locais públicos. Quem deixar de cumprir essas obrigações estará sujeito a multas no valor de 30 Ofir, o equivalente a R$ 106,65 na primeira atuação. Se for reincidente, o valor dobra. Já o decreto da Prefeitura do Rio de Janeiro estabelece que as praias estão abertas apenas para práticas esportivas na água e no calçadão, sem restrição de horários, sendo vedada a permanência na areia.
Apesar das normas, dezenas de pessoas se aglomeraram nas areias cariocas, aproveitando o sol. A professora do Instituto de Microbiologia da UFRJ, Juliana Reis Cortines, diz os resultados dessa abertura serão percebidos dentro de duas semanas. Ela considera difícil controlar quem pode ou não ir à praia. "A questão é: como controlar? A permanência na areia não é autorizada, mas como fiscalizar. A pessoa chega na praia e diz que está indo nadar. É uma questão difícil", disse.
"Não é porque eu quero que eu posso ir"
Para a professora Juliana Reis, é difícil estabelecer um plano eficiente para a saída do isolamento social. "A gente tem uma questão sanitária urgente no mundo todo, além de uma questão de cidadania. Não é porque eu quero que eu posso ir. Eu preciso me cuidar e cuidar do próximo. Eu não acho que o relaxamento do isolamento social seja uma boa ideia. Não vejo um plano de execução eficiente para sairmos do isolamento", afirma.
Foto: Ellan Lustosa/Agência Eu, Rio!
A especialista considera que o poder público chegou a estabelecer medidas para o enfrentamento da Covid-19, mas não houve o necessário controle da execução dessas medidas. "Estamos há mais de três meses no isolamento e não houve um controle eficiente das medidas. Logo no início, o BRT reduziu a quantidade de ônibus, que ficaram lotados. Não tinha a força do Estado para controlar; o auxílio emergencial não saiu logo; pessoas tiveram que trabalhar... É difícil predizer o que vai acontecer, mas temos de lidar com ciência e dados, não com expectativas", conclui.