O advogado Paulo Emílio Catta Preta, que assumiu a defesa de Fabrício Queiroz, disse que seu cliente relatou ter recebido ameaças e que temia pela própria vida. A afirmação foi feita nesta quinta-feira (18/6) a jornalistas na saída do presídio de Benfica, na zona norte do Rio, para onde o ex-assessor do então deputado estadual Flávio Bolsonaro foi levado após ter sido preso em Atibaia, no interior de São Paulo. Perguntado se Queiroz especificou algum tipo de ameaça sofrida, Catta Preta disse que teve apenas 20 minutos de conversa, e que a prioridade foi tratar da libertação e possível revogação da prisão preventiva.
A defesa afirmou, ainda, que entrará com um pedido de transferência para um batalhão da Polícia Militar. Queiroz é policial militar reformado e por isso teria a prerrogativa. Catta Preta afirmou aos jornalistas na tarde desta quinta-feira (18) que o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) não pensa em fazer um acordo de delação premiada. "Queiroz não pensa em fazer colaboração, não trabalha com colaboração", afirmou, de acordo com a Agência Brasil.
Catta Preta disse que, enquanto não tiver acesso aos autos do processo, Queiroz não prestará depoimento. Por último, o advogado disse que vai pleitear um habeas corpus para Queiroz.
O advogado classificou a prisão como 'excessiva' e contestou o argumento acolhido pelo juiz Fábio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal, sobre o risco da destruição de provas:
"Me parece excessivo uma pessoa que sempre esteve à disposição, que está em tratamento de saúde, que ofereceu esclarecimentos nos autos, que não apresenta risco nenhum de fuga, ela sofra uma medida tão pesada quanto uma prisão preventiva. Mas eu só vou poder fazer um juízo definitivo disso, no momento em que eu tiver a decisão."
O advogado invocou o estado de saúde do cliente ao refutar a arguição do Ministério Público (MP) de que a prisão se justificaria pela possibilidade de Queiroz destruir provas: "com base em que se diz isto? Poder destruir provas como uma possibilidade inexistente, distante, abstrata, não justifica prisão nenhuma. Poder destruir provas todos nós podemos, mas não podemos ser presos por isto, em termos de potencialidade. Tem que existir uma conduta concreta que revele este risco como real." Catta Preta omitiu o fato de que o cliente faltara a todos os depoimentos presenciais marcados e estava em paradeiro ignorado há cerca de um ano.
O advogado, que conversou por 20 minutos com seu cliente, disse que ele não explicou o motivo de estar no sítio do advogado Frederick Wassef, em Atibaia. Wassef é advogado do senador Flávio Bolsonaro: "Quando eu perguntei a ele por que estava em São Paulo, ele disse que ia a São Paulo com alguma regularidade para cuidar da saúde. Desde que ele fez a cirurgia de câncer, há mais de um ano, e recentemente fez uma de próstata, há dois meses, ele tem ido, sempre que necessário, para São Paulo, mas não me disse, exatamente, porque estava na casa do advogado."
O ex-assessor chegou ao Rio no início da tarde desta quinta-feira, a bordo de um helicóptero da Polícia Civil. Ainda no aeroporto de Jacarepaguá, na zona oeste carioca, recebeu voz de prisão. Depois de passar pelo IML onde fez exame de corpo delito, como é de praxe, ele foi encaminhado para o presídio de Benfica.
A ação que resultou na prisão de Queiroz foi feita em conjunto pelos Ministérios Públicos do Rio de Janeiro e de São Paulo, com apoio da Polícia Civil paulista. O ex-assessor foi localizado em um imóvel de Frederick Wassef, advogado da Família Bolsonaro. Segundo Catta Preta, Queiroz não esclareceu porque estava em São Paulo.
A suposta menção ao temor de Queiroz pela própria vida remete a dois fatos. O primeiro é que Catta Preta foi advogado também de Adriano Nóbrega, amigo de Fabrício Queiroz desde o tempo em que ambos integravam a Polícia Militar. O segundo é que Catta preta contou história semelhante quanto a Nóbrega, morto na Bahia. Logo após a morte do ex-capitão do Bope , o advogado, que atuava na defesa do miliciano, cobrou uma 'apuração rigorosa da operação na Bahia". Alegou que, dias antes, ouvira do próprio cliente a suspeita de queima de arquivo: "Doutor, ninguém está aqui para me prender. Eles querem me matar. Se me prenderem, vão matar na prisão", teria dito Adriano. No mesmo instante, as redes sociais foram inundadas de teses e versões reforçando o argumento de Catta Preta.
Chico Otávio, repórter que coleciona Prêmios Esso pela capacidade de investigação, recomendou à época cautela e investigações detalhads antes de dar curso à versão do advogado. "De objetivo, sobre o período de fuga do ex-capitão Adriano, é possível afirmar que o advogado do miliciano foi recebido pelo menos três vezes pelo juiz e pelos promotores do caso (Operações Intocáveis) sem que, em qualquer um desses encontros, tenha relatado qualquer temor de que o cliente fosse assassinado por queima de arquivo ou por outro motivo qualquer. Catta Preta muito menos buscou combinar a apresentação do cliente ao Poder Judiciário ou ao Ministério Público." Chico Otávio, depois de ouvir promotores e policiais que acompanham o caso, lembrou também que desde a Operação Intocáveis, contra a milícia e o Escritório do Crime, doze pessoas haviam sido presas, e nenhuma sequer tinha feito acordo ou relatado ameaças formalmente.
Conta de ex-assessor recebeu dinheiro vivo de agência da rua da pizzaria de mãe de Adriano Nóbrega
O Antagonista afirma, por sua vez, que o Ministério Público estima que Adriano da Nóbrega, miliciano morto no início deste ano e acusado de liderar o Escritório do Crime, possa ter transferido mais de R$ 400 mil para as contas de Fabrício Queiroz.
Na decisão que mandou prender Queiroz, obtida por O Antagonista, o juiz Flávio Itabaiana mencionou alguns registros bancários de algumas transferências, feitas por pizzarias da mãe de Adriano, Raimunda Veras Magalhães, para conta de Queiroz no valor de R$ 69,2 mil.
Ainda de acordo com a publicação, conhecida pelo trânsito nos meios palacianos e o bom acesso aos responsáveis pela Operação Lava Jato, entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, o Ministério Público identificou depósitos em espécie que totalizavam R$ 91,7 mil para a conta de Queiroz numa agência do Itaú localizada na mesma rua das pizzarias. Segundo as investigações, Raimunda Veras foi funcionária fantasma de Flávio Bolsonaro na Alerj e transferia os salários para Queiroz.
A operação, batizada de Anjo, nome em homenagem ao apelido de Frederick Wassef, cumpriu também mandados de busca e apreensão, além de outras medidas cautelares, relacionadas ao inquérito que investiga suposta "rachadinha" no gabinete de Flávio Bolsonaro, quando ele exercia mandato na Alerj. No esquema, funcionários devolveriam parte dos salários ao deputado, que tinha como braço direito Queiroz. Um relatório do Coaf, Conselho de Controle de Atividades Financeiras, apontou movimentação atípica de R$ 1,2 milhão em uma conta em nome do ex-assessor. A partir daí o esquema passou a ser investigado pelo Ministério Público.
Flavio Bolsonaro, em postagem no Twitter, disse que encara a prisão do ex-assessor com tranquilidade e que acredita que a verdade vai prevalecer. O senador afirmou, ainda, que a operação é mais uma tentativa de atacar o presidente Bolsonaro.