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Niterói rastreia novo coronavírus para deter pandemia

UFF e Fiocruz estudam primeiros casos de Covid-19 na cidade para identificar infectados, assintomáticos, mas capazes de transmitir a doença

Por Portal Eu, Rio! em 20/06/2020 às 21:40:37

Parceria da Prefeitura com UFF e Fiocruz ajuda a mapear distribuição da Covid-19 em Niterói Foto Ascom Fiocruz

Apesar de a pandemia de COVID-19 ter se tornado realidade no Brasil há apenas poucos meses, já é possível transformar em dados científicos parte desse passado recente da doença, colaborando para evitar seu agravamento. É isso o que aponta uma pesquisa que vem sendo desenvolvida pela Universidade Federal Fluminense (UFF) numa parceria com a Prefeitura de Niterói e a Fiocruz.

Em colaboração com a Fundação Municipal de Saúde de Niterói (FMS), a (UFF) está realizando um estudo dos primeiros casos e contatos de coronavírus no município. Utilizando dados da FMS, pesquisadores da UFF, do Departamento de Epidemiologia e Bioestatística do Instituto de Saúde Coletiva, do Grupo GET-UFF contra COVID19, da Escola de Enfermagem e da Fiocruz investigam as primeiras ocorrências da doença no município e como ocorreu sua transmissão, com objetivo de aprimorar ações e intervenções de prevenção e controle da pandemia na cidade.

Com dados de março a abril de 2020, a pesquisa revelará como a doença atingiu Niterói, estimará a proporção de pessoas infectadas e assintomáticas e realizará projeções tanto do número total de pessoas infectadas pelo novo coronavírus, como de óbitos no município. Os contatos são realizados por telefonema com aqueles que testaram positivo no perímetro temporal da pesquisa e também seus contatos próximos, como familiares e amigos.

Nesta parceria com a UFF, a FMS se dispôs a realizar essas testagens nos domicílios. Utilizando uma metodologia de rastreamento de contatos, os pesquisadores localizam casos confirmados de coronavírus e, em seguida, testam seus contatos próximos, numa tentativa de estimar as pessoas infectadas em Niterói. A testagem para detecção da infecção é realizada em domicílio por uma equipe da Prefeitura.

Feito o catálogo dessas pessoas, a pesquisa fará um mapeamento dos casos totais separados por gênero, faixa etária e nível socioeconômico. Com essas informações serão formadas curvas epidemiológicas ajustadas para casos confirmados, número de casos não reportados, e número total de pessoas infectadas; além de estimativas oportunas da gravidade e transmissibilidade da doença.

Estudo permitirá aprimorar medidas de isolamento social e classificar potenciais transmissores da doença, mesmo que assintomáticos

De acordo com a professora do Instituto de Saúde Coletiva do Departamento de Epidemiologia e Bioestatística Jackeline Vasconcelos, responsável pela pesquisa, “a pandemia do COVID-19 é um grande problema de saúde pública, com alto potencial de infecção e impactos sociais, econômicos e nos serviços de saúde. O cenário pode ser devastador principalmente quando estes serviços não são suficientes. É fundamental, nesse sentido, que o monitoramento e o controle sejam baseados nas evidências científicas. Ainda temos muitas lacunas a serem elucidadas. Por isso, nosso estudo pretende resgatar o início do surto em Niterói e entender melhor como foi sua disseminação”, enfatiza.

Como o cenário ideal para o controle da doença, que viria por meio da vacina, ainda está longe da realidade – não devendo ocorrer, de acordo com a estimativa da pesquisadora, até final de 2021 –, o mais importante no momento é controlar a pandemia. Atualmente isso tem sido feito por meio de medidas sanitárias, do isolamento social e da identificação daqueles classificados como potenciais transmissores do vírus, os quais podem ser diagnosticados com a doença, ou ainda as assintomáticas.

Todas essas formas de controle da enfermidade, que podem ser ainda mais eficientes com a colaboração da pesquisa, são, de acordo com Jackeline, de extrema importância. Sobretudo porque, segundo ela, ainda não se alcançou a chamada “curva descendente”, ou seja, a redução na taxa de transmissibilidade do vírus.

Como potenciais agravantes do quadro, e que acabam por somar razões para a manutenção rigorosa de medidas preventivas, Jackeline destaca o fato de estamos em um país profundamente desigual: “até dentro de um mesmo bairro, com cenários envolvendo diferentes níveis de densidade demográfica, estrutura etária, prevalência de comorbidades, entre outras questões, essa disparidade pode ser observada, o que impacta diretamente o padrão de disseminação da doença”.

Desigualdades aumentam o desafio da doença, mas Médico de Familia é trunfo para a cidade

A coordenadora do projeto, de acordo com a reportagem do site da Prefeitura, destaca entretanto que Niterói tem um Programa Médico de Família (PMF) que cobre todas as regiões da cidade com excelente cobertura das populações mais desfavorecidas, o que certamente contribuirá para diminuir os impactos da epidemia. Vale ressaltar que os primeiros casos são oriundos, em sua maioria na região de Icaraí. Dessa forma, esse estudo pretende resgatar o início da pandemia em Niterói e entender melhor como foi sua disseminação.

Inicialmente, serão considerados 200 casos confirmados e estima-se, com base em teorias de redes complexas, que o número de contatos por cada caso confirmado seja de quatro pessoas. Assim o tamanho de amostra inicialmente estimado seria de 1000 (200 casos e 800 contatos) participantes. Esse número, no entanto, pode ser ampliado, visando se obter uma amostra representativa da população do estudo.

"Estas informações são de grande interesse público e acadêmico, principalmente para os gestores públicos do município, pois podem auxiliar na orientação da tomada de decisões baseadas nas melhores evidências científicas disponíveis", conclui Jackeline Lobato, afirmando que serve de apoio para a continuidade da resposta adequada e oportuna à pandemia que Niterói adotou e que tem sido elogiada internacionalmente.
“Contamos com a colaboração da população, no sentido de receber nossas ligações e doar 15 minutos de seu tempo respondendo o questionário. Após essa entrevista por telefone, uma equipe da FMS vai agendar o exame, que será realizado no domicílio”, finaliza Jackeline.

Entre os índices levantados, destacam-se a proporção de indivíduos infectados, a de casos sintomáticos e assintomáticos e a distribuição dos casos totais por gênero, faixa etária e nível socioeconômico. Além disso, busca-se identificar as possíveis rotas de transmissão da doença, elaborar as curvas de projeção dos infectados, dos óbitos e dos suspeitos, segundo variáveis sociodemográficas e de comorbidades, assim como produzir estimativas de gravidade e transmissibilidade da doença no município.

Intitulado “Protocolo de investigação para os primeiros casos e contatos de coronavírus em março e abril de 2020, Niterói – RJ”, o estudo envolve mais de vinte professores de diferentes unidades da universidade: o Departamento de Epidemiologia e Bioestatística, o Departamento de Estatística, o Departamento de Matemática Aplicada, o Departamento de Geografia e a Escola de Enfermagem. Como objetivo, busca-se estruturar ações de controle e prevenção da infecção a partir de um entendimento das características clínicas, de transmissibilidade e também epidemiológicas dos casos de COVID-19 na cidade.

Segundo o reitor Antonio Claudio da Nóbrega, “esse protocolo é um rico exemplo de como a Universidade interage de forma visceral com a sociedade. Articulando diferentes saberes e competências com um objetivo comum, a produção de conhecimento aplicado oferece evidências científicas robustas para que o gestor público tome decisões balizadas e racionais. Durante uma pandemia, o conhecimento é construído a cada dia e, portanto, não há verdade absoluta, mas somente com base na ciência se pode oferecer a melhor decisão para a população”, destaca.

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