Transtornos nos trens, barcas e outros modais de um lado, perdas milionárias de receita do outro. Este foi o quadro observado durante audiência pública da Comissão de Transportes da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), nesta quinta-feira (2/7). "A comissão recebeu muitas denúncias de passageiros do Rio, por isso trouxemos o assunto para discussão. As empresas foram cruéis quando tiveram que adaptar o serviço na pandemia para equilibrar as receitas. No entanto, a qualidade dos serviços ficou aquém do necessário para o bom atendimento da população", afirmou o presidente da comissão, deputado Dionísio Lins (PP).
De acordo com os representantes das concessionárias, as perdas podem ser superiores a R$ 200 milhões.Segundo o presidente da Supervia - companhia operadora de serviço ferroviário do Rio -, Antonio Carlos Sanches, de março a junho a empresa teve uma queda nas receitas de 65%, o equivalente a R$ 105 milhões.
A perda teria resultado, entre outros problemas, na junção dos ramais de trens de Deodoro e de Santa Cruz, no início de junho. Desde o dia 8 de junho, o ramal exclusivo para Deodoro deixou de funcionar, e o expresso de Santa Cruz passou a ser parador e vem acumulando passageiros das zonas Oeste e Norte.
O deputado Jorge Felippe Neto (PSD) questionou os representantes da SuperVia quanto ao serviço encerrado. "As viagens que demoravam 40 minutos estão levando 1h30. Isso não pode continuar assim", criticou. Por sua vez, a deputada Lucinha (PSDB), também com base eleitoral na Zona Oeste, lembrou que sem o trem expresso para Santa Cruz, o passageiro precisa passar por 34 estações antes de chegar no ponto final. "Sou usuária do trem e vejo como esse descaso da concessionária com a população é antigo. Agora ficou ainda maior", afirmou a parlamentar.
Em resposta, Sanches argumentou que a Supervia perdeu 30 milhões de passageiros desde março, afetando o caixa e provocando redução no quadro de pessoal. "Tivemos que suspender o contrato de 500 funcionários, fora os 2.000 profissionais que eram do grupo de risco, entre eles muitos maquinistas, que estão afastados. Se continuarmos assim não teremos nem condições de operar por muito tempo", afirmou Sanches.
A concessionária também alegou que as alterações foram feitas com base em estudos técnicos e que vem monitorando a questão da superlotação, mas que a taxa de ocupação dos trens está abaixo dos 50% determinados pelo governo durante a pandemia. Disse também que com o novo planejamento operacional, está garantindo 522 mil lugares a mais por dia, nas composições, em dias úteis.
Porém, para o deputado Waldeck Carneiro (PT), a resposta da Supervia não foi convincente. "Isso não condiz com o que é visto na ponta, pela população. É preciso que o usuário seja tratado com respeito. O tempo aumentou de maneira vertiginosa e eu insisto que esse tipo de mudança não pode ser feita apenas da perspectiva da concessionária", argumentou o petista.
Guapimirim está sem linha de trem operando desde abril, pela redução do número de passageiros
A SuperVia também suspendeu, em abril, a operação da linha de Guapimirim. A medida foi determinada pelo Governo do Estado através do decreto 47.012/20. Segundo o secretário de Estado de Transporte, Delmo Pinho, a decisão foi tomada como medida preventiva ao Covid-19. Ele também explicou que com a redução do número de passageiros, que chegava a 900 por dia, a concessionária se viu impossibilitada de continuar o serviço naquele período.
”Saímos dessa reunião com o compromisso de tentar pelo menos um retorno parcial do funcionamento dessa linha. É inegável que a concessionário precisa prestar um serviço de qualidade para o usuário, mas dentro desse cenário de redução de orçamento, fica ainda mais complicado manter a operação normal do serviço e isso precisa ser compreendido", frisou Delmo. O ramal de Guapimirim tem 40 km, 14 estações e transportava uma média de 2.500 passageiros por dia, de acordo com a SuperVia.
CCR Barcas interrompeu linha de Charitas e reduziu frequências para Paquetá
Problemas na CCR Barcas, empresa que detém a concessão dos serviços aquaviários no Estado do Rio, também foram pauta da reunião. Os deputados lembraram que diante da pandemia do coronavírus, alguns serviços nas linhas foram alterados e a linha de Charitas está inoperante.
A representante do setor de relações Institucionais da CCR Barcas, Paula Magalhães, argumentou que a empresa opera com uma perda de demanda e receita na ordem de 85% e por isso a redução do número de viagens, De acordo com a empresa, estima-se que até o final do ano a CCR terá uma queda no faturamento de R$ 100 milhões.
"A concessionária já amargava uma perda anual de mais de R$ 50 milhões. Porém o cenário ficou ainda mais grave. Fizemos hoje os cálculos de projeção de gasto líquido operacional para esse ano e já chega a uma perda 100% maior do que a prevista no início do ano”, informou Paula.
A representante argumentou ainda que a empresa vem cumprindo com toda a legislação imposta. "Mantemos todos os protocolos de funcionamento exigidos, inclusive a utilização dos kits de EPI`s dos funcionários e dispenser para o álcool gel em todas as estações e embarcações. Vale lembrar também que fazemos uma desinfecção contínua das embarcações usando pulverizadores", esclareceu Paula.
No entanto, para a moradora de Paquetá, Ialê Braga, a qualidade do serviço ainda deixa a desejar. Ela destacou que moradores da Ilha enfrentam há anos problemas com a empresa e que no período de pandemia isso se agravou. "Os moradores de Paquetá dependem das barcas e somos sempre jogados de escanteio pela empresa. Tivemos uma redução de 30% da nossa frota e ainda temos que pegar embarcações lotadas e precárias", desabafou Ialê.
Em resposta, Paula citou que a estação conta com um sistema de travamento automático das roletas que impossibilita a superlotação nas embarcações. "Só transportamos o número de passageiros que a legislação permite, nunca o excedente. Em suma, a concessionária cumpre a risca todos as cláusulas do nosso contrato, inclusive a quantidade de embarcações", concluiu a representante. Também estiveram presentes na audiência os deputados Flávio Serafini (PSol), Enfermeira Rejane (PCdoB), Marina (PSL), Eliomar Coelho (PSol), Marcelo do Seu Dino (PSL) e Luiz Paulo (PSDB).