Os impactos da pandemia do coronavírus na saúde mental já estão sendo sentido por todos, mas o que pouca gente tem parado para olhar é como fica a saúde mental das crianças neste período difícil que estamos enfrentando. Normalmente acostumadas com uma rotina agitada - correndo, brincando, pulando e rodeadas de amigos -, os pequenos têm sentido os efeitos de ficar o dia todo dentro de casa no isolamento social. Longe da escola, creche e/ou da casa de parentes a que estavam habituadas, elas ainda têm que lidar com o ensino à distância, um formato até então inédito para o ensino formal.
Para o psicólogo Damião Silva, a principal dica para lidar com essa situação é tentar manter uma rotina. "É preciso manter uma organização das tarefas escolares, das atividades de lazer, alimentação e higiene. Gastar energia com brincadeiras e atividades físicas no quintal, na sala, onde for possível. Fazer as refeições juntos e conviver com qualidade longe das telas o máximo de tempo possível. Já estamos online o tempo todo, seja para o trabalho ou escola. Então é fundamental deixar de lado, computador, TV e tablets. Aproveite o momento para incentivá-los a ler mais e praticar exercícios", afirma.
O especialista alerta os pais a ficarem atentos a alguns sinais e sintomas que podem ocorrer no decorrer do tempo. "É mito acreditar que depressão, ansiedade e outros transtornos de humor e afetivos é um fenômeno apenas do mundo adulto. O diagnóstico é um pouco mais complicado para as crianças, por isso aos primeiros sinais é sempre bom procurar um profissional de saúde mental, psicólogo ou psiquiatra, pois muitas vezes esses sinais podem ser confundidos com birras, mau humor, tristeza ou simplesmente agressividade. A depressão infantil está cada vez mais frequente em crianças e adolescentes", alerta Damião.
Tristeza, medo, desanimo, alterações do sono, alterações do padrão alimentar, irritabilidade e isolamento são sintomas até comuns nesses momentos, mas devemos prestar atenção na intensidade, frequência e os prejuízos para vida cotidiana.
"Aqueles que apresentarem sintomas incapacitantes, que causam um sofrimento intenso e que, mesmo com o apoio da família não está cessando, é hora de investigar melhor", esclarece o especialista.
O psicólogo destaca também que o diálogo entre pais e filhos é essencial neste momento para que a criança seja corretamente informada e, com isso, os sentimentos de medo e insegurança, que são normais nessa fase, sejam cuidados de maneira adequada. Além disso, Damião recomenda estimular as crianças a expressar seus sentimentos por meio de desenhos e estratégias em que haja aspecto lúdico.
"Os pais devem dialogar sempre com a verdade e o máximo de clareza possível de acordo com a idade e nível de compreensão das crianças, além de observar as reações dela e acolhê-las, minimizando processos ansiosos", finaliza.