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Entregadores de aplicativos fazem 2º paralisação nacional em julho contra plataformas

Categoria tem como pautas melhores condições de trabalho e remuneração para a categoria

Por Portal Eu, Rio! em 25/07/2020 às 09:57:27

Foto: Divulgação Roberto Parizzotti-Fotos Públicas

Os entregadores de aplicativos farão hoje (25) a segunda paralisação nacional em julho contra as plataformas. O movimento, que tem pautas como melhores condições de trabalho e remuneração para a categoria, começa a ganhar algumas vitórias, ainda que pequenas, e também passa por divisões.

A primeira manifestação ocorreu no dia 1º de julho e contou com adesão em vários Estados brasileiros. Na época, o movimento rendeu protestos físicos grandes em capitais, como Rio de Janeiro e São Paulo, e afetou a dinâmica dos pedidos em restaurantes e nas plataformas.

A dúvida sobre a manifestação deste sábado é se conseguirá atrair tantos entregadores quanto no ato anterior, quando o movimento repercutiu tanto na imprensa quanto em grupos de WhatsApp de entregadores, por onde é feita a comunicação e onde são tomadas decisões sobre a paralisação.

A exemplo do primeiro ato, a manifestação rejeita dizer que tem "lideranças", e por isso não fala em nome de associações, sindicatos, partidos e afins. As decisões são tomadas em grupo por meio de votações. Foi assim que a data de hoje foi escolhida.

"A expectativa do dia 25 é bem grande. Sinto um pouco de desmotivação de alguns, mas promete ser grande. Estou vendo alguns Estados mais ativos por causa do oportunismo de sindicatos. A categoria optou pela não ajuda de sindicatos porque foram oportunistas no primeiro breque. É um movimento sem partidos, da categoria", afirma a Tilt Alessandro da Conceição, conhecido como "Sorriso", um dos organizadores em Brasília e que tenta tirar do papel a AmaeDF (Associação dos Motofretistas Autônomos e Entregadores do Distrito Federal).

Para Edgar Silva, presidente da Amabr (Associação dos Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil), a escolha por sábado pode ser pela data ser mais movimentada no delivery e assim afetar mais os apps.

"Minha expectativa é que seja o dobro do dia 1º. Mas existem muitas variáveis que podem atrapalhar. Uma delas é ser sábado. Foi feita uma eleição entre entregadores e acharam que sábado era o melhor dia. Pode ter a ver com ser o dia com mais entregas. Geralmente é um dia ruim para administrativo, mas delivery sai muita entrega", diz "Gringo", como é conhecido Silva.

Os entregadores planejam atos físicos em algumas cidades. Em Brasília, saiu às 9h da torre digital de TV em Brasília e de lá fazer um percurso até o Congresso. Já em São Paulo, há a previsão de um encontro às 15h no Pacaembu.

Inicialmente, o segundo "breque dos apps" havia sido marcado para o último dia 12 de julho, data escolhida em votação que circulou nos grupos. Após saberem que haveria protesto contra ou a favor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no mesmo dia, decidiram mudar a data.

Enquanto isso, o SindimotoSP (Sindicato dos Mensageiros Motociclistas, Ciclistas e Mototaxistas Intermunicipal do Estado de São Paulo) fez uma manifestação própria no dia 14 de julho. Em menor número do que em 1º de julho, motoboys circularam pela cidade e fizeram atos em frente à Câmara dos Vereadores e ao TRT (Tribunal Regional do Trabalho).

Para hoje, o sindicato diz apoiar as manifestações, mas que não realizará nenhum ato físico, já que julga ter feito seu movimento no último dia 14 de julho. A "divisão" entre o sindicato e a organização da greve, que já ocorria antes do primeiro protesto, ficou mais escancarada neste novo ato, já que não haverá unificação do movimento.

"O sindicato ajudou a organizar a manifestação do dia 1º. No dia 14 fizemos a segunda paralisação. Sobre o evento de hoje, o sindicato sempre apoiará o trabalhador em suas reivindicações, mas não participará por ver neste momento pessoas tentando usar a categoria para fazer politica contra governos", afirma à reportagem Gerson Cunha, presidente interino do Sindimoto-SP.

Cunha está atualmente no cargo no lugar de Gilberto dos Santos, conhecido como Gil. Ele alegou que o movimento dos entregadores tem influências de partidos como Psol e PSTU. No entanto, ele atualmente está licenciado do seu cargo para entrar na política: é pré-candidato a vereador em São Paulo pelo PSD.

Em meio a isso, uma pesquisa Ibope contratada pelo iFood, que ouviu 1.000 entregadores das principais plataformas por SMS e telefone entre os dias 17 e 18 de julho, gerou estes resultados em relação à greve:

* 70% preferem o modelo de trabalho atual, e 30% preferem CLT

* 40% apoiaram a greve de 1º de julho, 18% foram indiferentes, 23% não apoiaram, 8% não souberam do movimento e 18% preferiram não responder

* 31% não fizeram entregas no dia 1ª em apoio à greve, 27% trabalharam normalmente, 18% não fizeram entregas por medo de retaliação dos grevistas, 24% não fizeram entregas porque não podiam trabalhar no dia, e 11% preferiram não responder

* 53% acham negativa a participação de partidos/sindicatos, 24% consideram positiva e 23% são indiferentes.

A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais.

Pauta se mantém

Os entregadores mantiveram as pautas exigidas aos apps na primeira paralisação, que são:

* Reajuste de preços: os entregadores recebem entre R$ 4,50 e R$ 7,50, valor que varia por aplicativo e distância percorrida --mais R$ 0,50 a R$ 1 por quilômetro rodado, em média;

* Reajuste anual: pedem que haja um reajuste anual programado para o serviço; Tabela de preços: citado por alguns entregadores, seria uma tabela não ditada pelo governo ou reguladores, mas construída entre profissionais e aplicativos;

* Fim de bloqueios indevidos: reclamação constante dos entregadores, que questionam as políticas das empresas que os punem com bloqueios;

* Entrega de EPIs: pedem equipamentos de proteção para trabalhar com mais segurança durante a pandemia;

* Apoio contra acidentes: se o entregador sofrer acidentes enquanto usa a plataforma, a ideia é ter algum tipo de auxílio;

* Programa de pontos: alguns entregadores questionam sistemas que fazem ranking de entregadores. Gringo cita o da Rappi que, segundo ele, exigiria que a pessoa trabalhasse "de domingo a domingo para pegar os melhores pedidos".

No dia 1º, o movimento gerou repercussão e ganhou apoio de nomes importantes da política nacional. Candidatos na eleição presidencial de 2018, como Fernando Haddad (PT), Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e Guilherme Boulos (Psol) deram apoio ao ato e citaram a necessidade de se discutir leis para os entregadores.

Pequenas vitórias

O ato do dia 1º de julho gerou atenção para a categoria, mas até agora rendeu apenas algumas poucas vitórias aos entregadores. A maior delas, por enquanto, foi o poder de mobilização que a categoria conseguiu. Uma delas foi um encontro da classe com o presidente da Câmara, o deputado Rodrigo Maia (DEM).

Propostas envolvendo aplicativos de delivery e entregadores circulam na Câmara. Uma delas, de Tabata Amaral (PDT), pretende "regrar" a relação de apps com trabalhadores ao criar uma classe entre a CLT e o autônomo. No encontro com Maia, entregadores pediram para que fossem unidos os melhores trechos das leis em um mesmo texto.

Em grupos de WhatsApp, entregadores ainda relatam supostas mudanças no modelo de ranking e pontuação da Rappi, uma das reivindicações dos atos. Os entregadores, contudo, afirmam que as empresas fingem não ver o movimento.

"O app finge não ver, tapa os olhos. Faz de tudo para o movimento não ser notado. Não querem dar força e legitimidade, aí não dão atenção", critica Gringo.

O que disseram as empresas

O iFood afirmou que "respeita os direitos democráticos, à manifestação e à livre expressão", além de se dizer aberto ao diálogo. Além disso, apontou que já atende à maioria das reivindicações feitas pelo movimento, entre elas o valor mínimo de R$ 5 por entrega, distribuição de equipamentos de proteção e oferecimento de seguro de vida e contra acidentes.

Já a Rappi também disse respeitar as manifestações e se mostrou disposta a melhorias operacionais. A empresa esclarece que o valor do frete varia em diversos fatores (clima, dia da semana, horário, entrega, distância, complexidade) e relata já ter as seguintes práticas:

* Seguro de vida e contra acidente desde o ano passado;

* Parcerias para oferecer descontos aos entregadores, como em 80 restaurantes, e planos de saúde, troca de óleo, aulas de inglês etc;

* Programa de pontos para trazer "reconhecimento, preferência aos melhores prestadores de serviço para que tenhamos uma melhor entrega de experiência aos clientes finais". Depois de protestos, o programa de pontos mudou para ser mensal e não mais semanal;

* Distribuição de EPIs como máscara e álcool em gel; * Criação de um fundo para apoiar financeiramente entregadores com sintomas ou confirmação de covid-19;

* Disponibilização de um canal para questionar bloqueios.

A Uber Eats afirmou que não irá se posicionar e a Loggi não se manifestou.

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