O nome da Ilha da Boa Viagem, em Niterói, revela o desejo dos antigos visitantes de que a parada proporcionasse sorte nas jornadas em que precisavam embarcar. O monumento não apenas remete aos viajantes como também propõe uma viagem pelo tempo, que atravessa séculos de história. Para preservar as memórias deste bem cultural, as edificações do local começam a ser restauradas a partir desse mês.
A restauração é mais uma etapa da recuperação do monumento, um trabalho conjunto da Prefeitura de Niterói com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). As obras de contenção das encostas e melhoria dos acessos à ilha já terminaram e foram executadas para garantir a segurança do espaço. Financiadas pela Prefeitura, todas as intervenções são fiscalizadas pelo Iphan.
Tombada pelo Instituto em 1938, a ilha foi registrada em três Livros do Tombo: o Histórico; o das Belas Artes; bem como o Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico.
Para as obras de contenção, iniciadas em dezembro e encerradas em agosto, foram investidos R$ 1,8 milhão reais. Já para a restauração foram designados aproximadamente R$ 6 milhões. A nova etapa está prevista para durar um ano e se concentra na recuperação das edificações da ilha: a capela de Nossa Senhora da Boa Viagem; as ruínas de um fortim e o casarão conhecido como castelo.
Após a finalização das obras, o monumento vai ser reaberto para a população de Niterói e visitantes, o que pode incrementar o turismo da região.
A história da Ilha da Boa Viagem
Contornada pelas águas serenas da Baía de Guanabara, a Ilha da Boa Viagem apresenta um cenário bucólico. Relatos de fé e de defesa militar marcam este monumento natural e histórico, conectado ao continente por uma longa ponte de cimento. No século XVII, começou a ser construída a Capela de Nossa Senhora da Boa Viagem. Uma escadaria com 127 degraus leva até o templo, que desponta na parte mais alta da ilha. Em um plano mais baixo se encontram as ruínas do fortim.
De proporções intimistas e aspecto singelo, a capela virou centro de peregrinação de marinheiros. No templo, os homens do mar agradeciam por viagens bem sucedidas ou pediam benção para os próximos trajetos. A adoração à Nossa Senhora da Boa Viagem motivou a realização de festas religiosas, que culminavam com afetuosas procissões marítimas.
De acordo com relato do viajante Thomas Ewbank, do século XIX, a capela era marcada pelo tema marinho. Oferendas de marujos e fiéis compunham a maior parte da decoração. No teto, afrescos de naufrágio reforçavam a ornamentação, que ainda contava com painéis de azulejos holandeses azuis nas paredes e pia batismal de porcelana.
Além da vocação religiosa, o monumento foi historicamente destinado para fins militares. A visão privilegiada da Baía de Guanabara tornou a ilha parte do antigo sistema defensivo brasileiro. As ruínas do fortim permanecem como testemunhas destas memórias. Registros históricos apontam o ano de 1702 como marco de início da construção desta estrutura, que dispunha de cinco ou seis peças de artilharia.
Duas edificações mais recentes ampliaram o conjunto arquitetônico da ilha: uma, ao nível da baía, remonta ao período da 2ª Guerra Mundial. A outra, o casarão conhecido como castelo, também tem origem na década de 1940 e atualmente abriga a sede dos Escoteiros do Mar.
Patrimônio à vista
Além da própria ilha ser um Patrimônio Cultural, proporciona uma vista panorâmica de uma pluralidade de monumentos. Do lado de Niterói, é possível ter uma perspectiva única das curvas do Museu de Arte Contemporânea (MAC), projetado por Oscar Niemeyer e tombado pelo Iphan em 2015.
Mais adiante, avista-se a Fortaleza de Santa Cruz da Barra, que não apenas é protegida pelo Instituto como também faz parte do conjunto de Fortificações Brasileiras Candidatas a Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Outra construção militar rouba a cena: o Forte de Gragoatá completa o tradicional sistema de defesa de Niterói com suas muralhas espessas.
Na direção do Rio de Janeiro, delineiam-se as Paisagens Cariocas Entre A Montanha e O Mar, que em 2012 conquistaram o título de Patrimônio Mundial da Unesco. Trata-se da primeira área urbana no mundo a ter reconhecido o valor universal da sua paisagem urbana. Com os pés na terra da Ilha da Boa Viagem é possível explorar séculos de história e observar o amplo cenário formado pelo Patrimônio Cultural da região.