Dezembro, calor, sol, praias cheias, cenário esperado em todo o país mesmo com a recomendação para evitar aglomerações e a disseminação do novo coronavírus. As areias lotadas nos horários de maior intensidade de raios ultravioletas refletem outro risco: o de desenvolver câncer de pele, que corresponde a 27% do total de casos de câncer em todo o país. É nas regiões Sul e Sudeste que se observa a maior incidência do tipo "melanoma", o mais perigoso por apresentar risco de metástase, ou seja, de se espalhar pelo corpo. No Rio de Janeiro, os casos desse tipo têm aumentado. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a estimativa é de 8.450 novos casos de melanoma no país em 2020, 540 deles previstos no estado.
A parte da população que deve introduzir o quanto antes práticas saudáveis no dia a dia, ou seja, jovens e jovens-adultos, é a que mais se expõe a riscos. No mês de conscientização sobre o câncer de pele, especialistas alertam para a necessidade do autocuidado e de hábitos simples como o uso diário de protetor solar.
"É preciso educar crianças e adolescentes quanto ao risco da exposição solar. A quantidade de vezes que ficaram vermelhos depois de pegar sol tem relação com o maior risco de desenvolverem tumores na pele. Uma forma de democratizar o diagnóstico é, sem dúvida, falar mais sobre o tema e incentivar o cuidado com a fotoproteção nessa geração", afirma a oncologista do Grupo Oncoclínicas no Rio Andréia Melo, chefe da Divisão de Pesquisa Clínica do INCA.
Pessoas de pele mais clara e olhos claros são mais vulneráveis. Adeptos de técnicas de bronzeamento artificial, que se expõem à radiação solar até mesmo por motivos ocupacionais, também podem ter risco aumentado. Diabetes, tabagismo, uso de determinadas medicações, além de casos de melanoma em família, podem ser fatores de risco.
"São os danos e maus hábitos acumulados ao longo dos anos que podem resultar em doenças. Por isso, é tão importante conscientizar sobre exposição aguda e intermitente ao sol. Mesmo quem não se expõe todo dia, precisa evitar maior exposição na praia nos horários de sol mais forte em momentos de lazer. Mesmo a exposição crônica, no dia a dia, por trabalho, por exemplo, pode gerar outros tipos de dano na pele, como os cânceres não melanoma. Também é preciso se proteger, com roupas e acessórios, além do protetor solar", ressalta o oncologista Frederico Nunes, membro do comitê de melanoma do Grupo Oncoclínicas, do Rio de Janeiro.
Com a pandemia de COVID-19, as visitas aos médicos podem diminuir, o que favorece que a doença seja descoberta em estágios mais avançados, quando já atingiu camadas mais profundas da pele. Portanto, um aliado importante do diagnóstico precoce é o próprio paciente. É preciso fazer um autoexame, observando áreas mais escondidas do corpo, mas também expostas ao sol.
"Os autoexames de pele devem ser rotina. Sinais de alerta podem ser observados de acordo com alteração de cor e tamanho de pintas, se há sangramento ou formação de crostas nelas. Mesmo em casa, uma outra pessoa pode ajudar a verificar áreas como pés e couro cabeludo. Se desconfiar, vá ao dermatologista o quanto antes para conferir. Até mesmo pequenos sinais na podem ser suspeitos e o médico precisa analisar, ampliando a região com um equipamento chamado dermatoscópio para verificar características como pigmentação e presença de vasos sanguíneos", explica a oncologista Andréia Melo.
Quanto ao tratamento, as inovações apontam a imunoterapia - para estimular resposta do organismo ao tumor, tanto em casos de metástase como após uma cirurgia em que foram removidos linfonodos doentes - e terapias-alvo como caminhos para combater o câncer de pele, conforme acrescenta o médico Frederico Nunes.
Cuidados com a pele
Os especialistas respondem dúvidas sobre cuidados com a pele e esclarecem alguns mitos sobre o câncer. Confira:
Preciso usar protetor solar todos os dias mesmo sem sair de casa?
Sim. É importante que este realmente seja um hábito diário. O mais recomendado é que o protetor solar com fator igual ou superior a 30 seja aplicado logo pela manhã. Periodicamente, a depender da atividade que tenha feito, é preciso reaplicá-lo. Além de proteger dos danos da radiação solar, evita o surgimento de manchas na pele relacionadas ao envelhecimento, por exemplo, que podem ser causadas devido à exposição até mesmo à luz artificial.
A máscara protege da radiação?
Para proteger a pele que fica mais exposta ao sol, é recomendado o uso de acessórios como chapéus, óculos e roupas que cubram essas áreas. A máscara, além de evitar a transmissão do novo coronavírus, acaba protegendo, sim. Ainda assim, é fundamental, claro, o uso de protetor solar e evitar se expor ao sol de 10 às 15h.
O uso de medicação para tratamento de rugas, manchas e acne pode aumentar o risco de câncer de pele?
O dermatologista precisa ser consultado sempre para recomendar a medicação mais apropriada. Durante toda a pandemia, os cuidados estão sendo redobrados para oferecer atendimento seguro, então procure o médico caso note qualquer alteração nas características da pele. Em alguns tratamentos, a proteção solar precisa ser ainda mais rígida.
Quem tem pele negra não tem risco de desenvolver câncer?
Peles claras, que ficam mais avermelhadas ao serem expostas ao sol, são mais vulneráveis, sim, mas toda pele precisa de cuidados específicos. É mais raro, mas pode acontecer.
Tenho muitos sinais desde cedo na pele, tenho mais riscos?
Caso não haja casos de câncer de pele na família, a princípio não há nenhuma predisposição maior a desenvolver a doença. Porém, é ainda mais recomendado que faça o autoexame, que verifique se os sinais estão alterando sua aparência, pigmentação e tamanho.
Nem todo câncer de pele é perigoso
A taxa maior de mortalidade é em casos mais avançados de melanoma. No entanto, o câncer de pele não melanoma é o que tem a maior incidência no país e é preciso ficar atento. Se não tratado adequadamente, pode, por exemplo, deformar ou mutilar algumas áreas do corpo. A média de idade dos pacientes tem diminuído devido à exposição excessiva dos mais jovens ao sol.