Um dos policiais civis presos na Operação Quarto Elemento, deflagrada esta semana pelo Ministério Público Estadual e Secretaria de Segurança Pública do Rio, violou o segredo de justiça da investigação ao repassar para a quadrilha informações que teve acesso por meio de interceptações telefônicas Segundo trecho da denúncia, o agente Bruno Duarte Pinho buscou com isso alertar um dos principais elos do bando, o também policial Delmo Fernandes Baptista Nunes, que uma das equipes da organização criminosa havia sido gravada por câmeras do circuito de segurança de uma das vítimas das extorsões praticadas pelo grupo.
A investigação revelou também que um outro policial civil preso, Eduardo Rosa de Carvalho, mesmo estando de serviço na 36ª DP (Santa Cruz), era mensageiro de uma milícia que atua na Zona Oeste da capital. De acordo com o inquérito, ele buscou interceder a favor de uma pessoa que havia sido conduzida à delegacia e sobre a qual existiam fundadas denúncias de que pertencia a um grupo miliciano.
A denúncia do Ministério Público Estadual indicou 46 acusados de pertencer ao bando, entre policiais civis (incluindo dois delegados), militares, bombeiros, agentes penitenciários e outros colaboradores. O grupo é acusado dos crimes de extorsão, concussão, corrupção passiva e ativa, usurpação de função pública, extorsão mediante sequestro, peculato, falso testemunho ou falsa perícia, falsidade ideológica, inserção de dados falsos em sistema de informações e comércio ilegal de arma de fogo, tudo com o interesse na obtenção de vantagens econômicas indevidas.
Os membros da quadrilha estavam reunidos em torno de um objetivo comum: identificar possíveis infratores da lei, seu potencial econômico e realizar diligências policiais sobre eles, com a intenção de flagrá-los no cometimento de crimes ou irregularidades administrativas. A partir dessa situação vantajosa, os criminosos exigiam uma quantia em dinheiro para deixarem de fazer os procedimentos de polícia judiciária. Buscavam, ainda, desviarem os produtos, mercadorias e objetos ilícitos eventualmente encontrados com as pessoas alvos da operação, pois não havia apreensão formal dos mesmos dentro de um procedimento investigatório. A subtração de armas de fogo, quantias em dinheiro e caixas de cigarros era algo normal e rotineiro para os integrantes do bando.
A investigação indicou que os policiais participavam de "botes" contra as vítimas mesmo enquanto estavam de serviço, inclusive com o uso de viaturas oficiais e de armas de fogo.
O responsável por uma rede de postos de combustível pagou propina para a quadrilha em troca da não repressão a atividades ilícitas como fraudes contra consumidores, que era algo rotineiro. Nos "botes", pessoas se passavam por policiais para obterem vantagem financeira injusta. Em um dos "botes", os integrantes do grupo cobraram uma propina de R$ 30 mil de uma vítima e ainda desviaram uma carga de cigarros que fora apreendida.