Há mais de 30 anos, a NASA lançou a sonda Galileo, a primeira da história com destino à atmosfera de Júpiter, chegando lá em 1995. Os dados da missão revelaram que a atmosfera do planeta era bem mais seca, densa e quente do que o esperado. Agora, durante uma reunião do American Geophysical Union, cientistas apresentaram dados da sonda Juno que solucionam o mistério: na verdade, esses “bolsões quentes” são bem maiores que o esperado.
A principal questão aqui é que os dados coletados pela missão Galileo indicavam que a atmosfera era bem mais seca e com mais ventos do que o esperado; na época, os cientistas pensaram que isso apareceu nos dados porque a nave teve o azar de descer na atmosfera joviana exatamente em um “deserto” da atmosfera, um ponto raro localizado na região equatorial ao nordeste. É aqui que os dados da missão Juno entram: o instrumento de micro-ondas desta indica que, na verdade, essas características valem para todo o cinturão equatorial joviano.
Mais de duas décadas depois, eles descobriram que a região nordeste do equador de Júpiter é mais quente que o esperado dos modelos atmosféricos já produzidos, porque esses modelos não consideraram um ingrediente importante que são espécies de "bolas atmosféricas", que se formam nas áreas onde descargas elétricas acontecem. Com a eletricidade, a amônia pode se combinar com a água e criar uma espécie de granizo bem espesso, que se move pela atmosfera.
Confira a animação abaixo que representa essa formação:
Reprodução YouTube
Esse granizo, em forma de bola, vai afundando pela atmosfera e acumulando cada vez mais água e amônia: “no alto da atmosfera, onde vemos os relâmpagos, a água e a amônia se combinam e ficam invisíveis para o instrumento de micro-ondas da Juno”, explica Tristan Guillot-, co-investigador da missão. "É ali que as ‘bolas’ se formam: elas ficam pesadas e afundam, formando uma grande região sem atmosfera e água", diz. Depois, quando elas derretem e evaporam, a amônia e a água voltam para o estado gasoso e ficam visíveis outra vez para os instrumentos da missão.
Assim, a Juno encontrou relâmpagos e essas bolas associadas a uma faixa da latitude próxima do equador, bem onde a missão Galileo liberou a sonda atmosférica — que, no fim das contas, não foi nada azarada: na verdade, essa sonda “sortuda” encontrou os primeiros sinais de um padrão atmosférico muito mais complexo do que se pensava. “Para entender melhor o que acontece nas profundezas dos planetas gigantes, é preciso olhar abaixo da camada de nuvens deles”, comenta Scott Bolton, principal investigador da missão Juno. “É isso que a Juno faz, e as observações da nave estão revelando antigos mistérios, além de trazer novas perguntas”.
E com tantas questões sobre o Sistema Solar que ainda não têm respostas, a NASA decidiu estender a missão Juno até 2025 para que, assim, continue com suas contribuições científicas.