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Bolsonaro troca seis ministérios na Esplanada

Mudanças refletem, ao mesmo tempo, exigência do Planalto de maior alinhamento e pressões do Centrão por mais espaço no Governo

Por Portal Eu, Rio! em 29/03/2021 às 20:49:51

Azevedo e Silva, na foto em debate no Senado, com o senador Jaques Wagner, reunia prestígio nas Forças Armadas com boa passagem no Supremo e no Congresso Foto Agência Brasil

A Secretaria Especial de Comunicação Social do Ministério das Comunicações divulgou no início da noite de segunda-feira (29/3) uma nota em que informou uma série de mudanças na equipe de governo. "O Presidente Jair Bolsonaro alterou a titularidade de seis ministérios nesta segunda-feira (29). As seguintes nomeações serão publicadas no Diário Oficial, a saber:

• Casa Civil da Presidência da República: General Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira;

• Ministério da Justiça e Segurança Púbica: Delegado da Polícia Federal Anderson Gustavo Torres;

• Ministério da Defesa: General Walter Souza Braga Netto;

• Ministério das Relações Exteriores: Embaixador Carlos Alberto Franco França;

• Secretaria de Governo da Presidência da República: Deputada Federal Flávia Arruda;

• Advocacia-Geral da União: André Luiz de Almeida Mendonça."

As mexidas foram formalizadas ao mesmo tempo, mas refletem processos e tempos distintos entre si. A mudança no Itamaraty se deve à crescente incompatibilidade entre Ernesto Araújo, integrante da chamada 'ala ideológica do governo' e aliado do soi-disant filósofo Olavo de Carvalho, e a maior parte dos senadores. A recusa a financiar uma parcela maior do consórcio de vacinas da Organização Mundial da Saúde e as disputas com a China, maior parceiro comercial do Brasil, e a Índia, principais fabricantes de insumos para imunizantes, rendeu muitas críticas no Senado, casa responsável por exemplo pelas sabatinas dos embaixadores.

A gota d'água foi a insinuação de que a presidente da Comissão das Relações Exteriores do Senado, Kátia Abreu, ex-presidente da União Democrática Ruralista e uma das principais lideranças políticas do agronegócio no País, teria feito lobby pela entrada de empresas chinesas na concorrência de 5G, sequer tocando no tema vacina em um almoço com o próprio Araújo, no início de março. Até o moderado presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, eleito com apoio do Planalto, deixou claro em entrevistas que a atitude de Araújo era uma ofensa não apenas à Kátia Abreu, mas à casa como um todo.

O Planalto deu sinais de estar revendo a política de enfrentamento da pandemia da Covid-19, com Bolsonaro e o filho Flávio, senador, vindo a público para defender a vacinação. Até ser substituído, o general Eduardo Pazuello buscou firmar, nos últimos dois meses, acordos com laboratórios cujas ofertas antes desprezara, como a Pfizer. O sucessor, o cardiologista Marcelo Queiroga, enfatizou a vacinação em massa e o uso de máscaras sempre que pode.

A nova ênfase, ainda questionada pela oposição e apontada como tardia em manifestos de economistas e médicos, ajudou a tornar insustentável a permanência de Ernesto Araújo, já enfraquecido pela derrota do aliado Donald Trump nos Estados Unidos, maior investidor e segundo maior parceiro comercial do Brasil.

Responsável pelo cerimonial de Bolsonaro, sem jamais ter assumido uma embaixada, o novo titular do Itamaraty, Carlos Alberto Franco França, é um quadro mais convencional do que Ernesto Araújo, que chegou a enfrentar um documento de 300 diplomatas exigindo a saída dele. Seu trunfo principal, porém, seria a amizade de Eduardo Bolsonaro, o filho do presidente mais envolvido com política externa.

A troca mais surpreendente foi no Ministério da Defesa, ocupado até esta segunda pelo general Fernando Azevedo e Silva. Presente na equipe de Bolsonaro desde a transição, Azevedo e Silva foi o escolhido pelo então comandante do Exército, general Eduardo Villas-Boas, para assessorar o presidente do Supremo Tribunal Federal à época, Dias Toffoli. A manobra foi apresentada como uma garantia de que seguiria uma sintonia fina entre a Magna Corte e o comando militar, a partir da advertência de Villas-Boas quanto a uma suposta agitação nos quartéis caso fosse revertida a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a tempo de ele poder concorrer à Presidência em 2018. Na Esplanada, contudo, mesmo com a folha de serviços prestados a Bolsonaro e o prestígio demonstrado junto ao comando das três forças, Azevedo e Silva não escapou do desgaste na relação com o presidente e o círculo mais próximo.

A ênfase no profissionalismo, apesar do sobrevoo das manifestações pedindo intervenção militar em março do ano passado, levou o general a uma postura mais discreta do que o presidente desejava. O equilíbrio delicado rompeu-se de vez com a entrevista do general Paulo Sérgio, diretor de Recursos Humanos do Exército, ao Correio Braziliense. Homem de confiança de Azevedo e Silva, Paulo Sérgio irritou o Planalto ao comparar o desempenho do Exército no combate à pandemia (0,13% de mortes) e o quadro geral do País (2,65%), enfatizando o uso do trabalho remoto, a dispensa de recrutas mais cedo e o rigor no uso de máscaras, na higiene e no distanciamento social como decisivos. A cereja do bolo, amargo para o negacionismo do Planalto, foi a admissão pelo general de que se torna necessário um lockdown nacional.

O presidente chamou o ministro da Defesa a seu gabinete e, ao fim de uma conversa de cinco minutos em que Azevedo e Silva recusou prêmios de consolação como um cargo no Rio, pediu que o general colocasse o cargo à disposição. O substituto, general Braga Netto, comandou a intervenção federal na segurança do Estado do Rio e integra o grupo militar palaciano mais influente junto a Bolsonaro e mais maleável ao presidente e sua entourage, integrado também pelos generais Luis Eduardo Ramos, guindado à chefia da Casa Civil, e Augusto Heleno, titular do Gabinete de Segurança Institucional.

Mesmo curta, a nota de despedida de Azevedo e Silva deixa bem claras as razões do conflito que levou à saída do comando da Defesa. No texto, em uma referência velada a incidentes como a anulação de portarias do Exército sobre a venda de armas, para prevenir o risco de desvio para milícias e bandos armados, o general enfatiza ter preservado 'as Forças Armadas como instituições de Estado' :

Nota Oficial

Brasília, 29 de março de 2021

Agradeço ao Presidente da República, a quem dediquei total lealdade ao longo desses mais de dois anos, a oportunidade de ter servido ao País, como Ministro de Estado da Defesa.

Nesse período, preservei as Forças Armadas como instituições de Estado.

O meu reconhecimento e gratidão aos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, e suas respectivas forças, que nunca mediram esforços para atender às necessidades e emergências da

população brasileira.

Saio na certeza da missão cumprida.

Fernando Azevedo e Silva


O último ato do general no posto será na terça-feira pela manhã, uma reunião com os comandantes do Exército, general Edson Pujol, da Marinha, almirante Ilques Barbosa Júnior, e da Aeronáutica, brigadeiro Antonio Carlos Moretti Bermudez. Enquanto o ministro apresentava uma nota à imprensa anunciando sua saída do cargo, os três comandantes se reuniram para tomar uma posição conjunta. A expectativa é de que essa posição seja apresentada após o encontro com Azevedo e Silva. A sinalização predominante na imprensa de Brasília era de que os três colocassem os cargos à disposição, para que Braga Netto, de uma turma mais recente que a de Edson Pujol, possa montar o Alto Comando ao gosto do Planalto.




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