Ferimentos por objetos cortantes tem sido um dos assuntos mais comentados nas redes sociais. Sim, pode não sangrar imediatamente. De acordo com o professor da Uni Rio e clínico intensivista do Hospital Pró-cardíaco, João Luiz Ferreira Costa, a velocidade do atendimento, da transfusão de sangue e de uma equipe cirúrgica a postos é um diferencial na vida de um paciente com lesões vasculares graves ocasionadas por arma branca, como é o caso da faca. O abdome tem órgãos vitais e, quando a facada atinge órgãos como o fígado, baço ou artérias importantes, pode ocasionar morte.
"Os traumas acometidos por material perfurante devem ser bem limpos, e é importante procurar saber a história vacinal da pessoa, a cobertura de antitetânica, e se não houve contaminação pelo vírus da hepatite C, hepatite B e HIV. Dependendo do local atingido pode ser muito grave, como uma lesão no pescoço ou na femural", afirma o médico intensivista.
A faca é um material que faz parte do nosso dia a dia, seu uso é indispensável, porém, quando usada de forma errada gera riscos. "Sempre que for manusear uma faca é fundamental que tenha atenção, porque uma vez ferido pode ser irreversível", alerta a mestranda da UFF em Enfermagem, Fernanda Figueiredo. "A faca não só corta quando entra, mas quando sai, pois nesse momento pode aumentar o campo afetado. Caso seja removida deve-se pressionar o local atingido afim de estancar o sangramento até o socorro chegar. Se o material estiver enferrujado, pior, pode fatal", explica a enfermeira Fernanda Figueiredo.
Estimativas do Ministério da Saúde consolidadas pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam que em 2014, 20,2% das 59.681 mortes por agressão foram ocasionadas por objetos cortantes e 71,6% foram por armas de fogo. Segundo o Sistema Único de Saúde (SUS), os dados mostram que em Minas Gerais, 678 pessoas morreram agredidas por instrumentos cortantes ou perfurantes em 2014, número superior ao do Rio de Janeiro (294), mas inferior ao de São Paulo (999).
A lei sancionada pelo governador de Minas Gerais, desde 7 de julho de 2016, prevê apreensão de objetos cortantes com mais de 10cm de comprimento e uma multa de R$ 2,7 mil. O governador Fernando Pimentel sancionou a Lei 22.258, que proíbe o porte de arma branca no estado, a exemplo do que já ocorre em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Segundo o Projeto de Lei 2.227/2015, do deputado Cabo Júlio, o aumento dos crimes praticados com armas brancas "pode até ser um reflexo da rigidez do Estatuto do Desarmamento". Por outro lado, segundo ele, as declarações prestadas publicamente pelas autoridades da segurança revelam a falta de instrumentos legais para punir aqueles que portam armas brancas com o claro fim de cometer crimes.
A proibição tem causado polêmica nas redes sociais, uma vez que pessoas que utilizam lâminas como instrumento de trabalho temem ser alvo de discriminação e constrangimento. Por outro lado, forças de segurança pública afirmam que de uma forma ou de outra a lei levaria à redução do número de crimes, mortes e feridos.
O transporte de armas brancas é permitido desde que o artefato seja novo, ainda na embalagem original, ou com nota fiscal. O descumprimento da lei sujeitará o infrator às seguintes sanções: apreensão do artefato; multa no valor de 900 Ufemgs (novecentas Unidades Fiscais do Estado de Minas Gerais), a ser recolhida ao Fundo Penitenciário Estadual.