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Especialistas explicam porque pessoas vacinadas podem morrer por Covid-19

Mesmo após a segunda dose é importante manter as medidas de proteção

Por Anderson Madeira em 01/06/2021 às 19:20:10

Foto: Agência Brasil

Na semana passada, a morte do sambista Nelson Sargento, de Covid-19, aos 96 anos, e do cantor Agnaldo Timóteo, em 3 de abril, aos 84, anos, mesmo após terem tomado as duas doses da vacina Coronavac, levantou questionamentos na população acerca da eficácia das vacinas contra a Covid-19. Afinal, a vacina evita mesmo a morte pela doença?

O biomédico Lucas Zanandres, especialista em Biologia Molecular, Análise Clinica e Pesquisa Médica, com mestrado pela Universidade Federal de Minas Gerais em Inovação Tenológica e Propriedade Intelectual, no seu canal "Olá Ciência", no You Tube, explicou que há vários graus de proteção entre as vacinas disponíveis no Brasil e que nenhuma é 100% eficaz. Ele revela que, mesmo após tomar a segunda dose, é importante manter as medidas de proteção, como uso de máscara, distanciamento social e álcool em gel e que o governo deve promover a vacinação em massa da população.

“Para começar, é bom saber que as vacinas não têm dois extremos. Tipo: quem tomou vacina está protegido e quem não tomou vai ficar doente. Entre esses dois extremos existem vários tipos de proteção. A vacina age justamente estimulando o sistema imune para, caso a pessoa seja infectada, o organismo tenha mais condições de combater o vírus, diminuindo o risco de a pessoa infectada ficar doente e morrer. Por isso, a proteção da pessoa vacinada vai depender da eficácia da vacina que ela recebeu e da taxa de circulação do vírus. Enquanto o vírus estiver circulando muito igual ao que está acontecendo aqui no Brasil e em muitos outros países, o risco de ficar doente ainda vai existir”, contou Zanandrez.

Segundo o biomédico, é preciso diferenciar os casos de pessoas que se infectaram no intervalo entre duas doses (caso de Agnaldo Timóteo) das pessoas que se infectaram algum tempo depois da segunda dose. “No primeiro cenário, a pessoa pode estar infectada quando recebe a vacina ou se infectar antes de desenvolver a imunidade. Nesse caso, o vírus entrou no organismo antes da vacina gerar proteção. Esse foi o caso do cantor Aguinaldo Timóteo, por exemplo. Ele foi internado dois dias depois de receber a segunda dose da vacina. Ele provavelmente se infectou no intervalo entre a primeira e a segunda dose. A vacina estava ainda montando uma resposta protetora. Mas existem raros relatos de pessoas que tomaram as duas doses da vacina e, mesmo depois de algumas semanas, foram infectadas. Algumas vieram a óbito. Nenhuma vacina oferece uma proteção 100%. O que elas fazem é reduzir, em muito, o risco de a pessoa ficar doente, desenvolver a forma grave da Covid e morrer. Mesmo não protegendo 100%, não deixa de ser uma boa vacina. É preciso outras medidas de proteção, como o uso de máscara corretamente e o distanciamento. Então, se as medidas de proteção forem relaxadas, aumenta o risco de a pessoa vacinada entrar em contato com o vírus e, consequentemente, ficar doente”, esclareceu o biomédico.

Sobre as vacinas Pfzer, Astrazeneca e Coronavac, Zanandrez explicou que, quanto maior a cobertura vacinal, maior a efetividade. Assim foi nos países em que elas foram aplicadas. “A vacina da Pfizer começou a ser aplicada no Brasil há pouco tempo. Tem uma eficácia geral de 94%. Isso significa que ela tem 94% menos chance de se infectar 14 dias após tomar a segunda dose. Em Israel, por exemplo, a efetividade foi de 97% na redução de casos graves e de morte. Lá em Israel, eles viram que à medida em que a cobertura vacinal aumentou em todas as idades, a incidência de Covid diminuiu. Quanto mais pessoas tiverem sido vacinadas, menor será a circulação do vírus, maior será a redução do número de casos e mortes por Covid e mais rápido poderemos relaxar as medidas de proteção”, defendeu o especialista.


Lucas Zanandrez. Foto: Reprodução YouTube

“A vacina de Oxford-Astrazeneca tem uma eficácia geral de 80%. Não significa que 80% das pessoas estão protegidas. Significa que reduz em 80% o risco da pessoa ter sintomas de Covid. Na Escócia, houve 88% de redução na hospitalização um mês após a primeira dose”, citou. “A Coronavac tem eficácia geral de 50,7% após a segunda dose. Esses valores são referentes aos estudos aqui no Brasil. No Chile e na Indonésia, a eficácia ficou entre 60% e 65%. Na Turquia, em 84%. A diferença pode estar na análise, na metodologia e na população dos estudos. No Chile, a efetividade da vacina, 14 dias após a segunda dose, foi de 89% e 80% de prevenção de morte”, acrescentou.

A pesquisadora Ethel Maciel, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), concorda com Zanandrez e acrescenta que a vacina é uma estratégia coletiva. “A gente precisa de uma vacinação em massa, para diminuir a infecção e o vírus circulando e para reduzir a gravidade. Como a gente tem um grupo muito pequeno vacinado e um vírus circulando de forma muito acelerada, muitas pessoas transmitindo e muitos casos novos por dia, a chance de alguém vacinado encontrar com uma pessoa que está transmitindo é muito grande. Diferente num cenário onde você tem o controle da pandemia. A gente precisa de uma vacinação rápida e com percentual grande”, defende.

Sobre a menor proteção da Coronavac aos idosos com mais de 80 anos, a especialista disse que o estudo feito sobre isso não avaliou o tipo grave da doença nem os óbitos. “Então, a gente teve aquele estudo da Coronavac, que fala de proteção de infecção. A gente tem que lembrar que são três cálculos que fazemos. A proteção da infecção, da doença grave e a contra o óbito. Naquele estudo que falou que as pessoas com mais de 80 anos tiveram uma proteção pequena, menos de 30%, a proteção por infecção, eles não avaliaram nem a doença grave nem óbito. Então, em um momento em que você tem muitas pessoas transmitindo e o idoso em geral tem uma resposta imunológica menor, a gente tem que vacinar rápido para proteger os que vacinaram e os que não. É o que a gente chama 'imunidade de rebanho'. Se a gente olha o caso da cidade de Serrana/SP, com grande percentual de pessoas vacinadas, é o que faz a diferença”, explica.


Ethel Maciel. Foto: Divulgação

Ethel acredita que poderá haver a necessidade de um reforço ou nova campanha de vacinação. “Os fabricantes de vacinas já estão se preparando para remodelar as vacinas caso necessário. Com as variantes que estamos vendo hoje, as vacinas ainda funcionam. O que está faltando são doses para acelerar o processo. Mas, elas ainda funcionam com as novas variantes. Se a gente pegar o exemplo do Uruguai, ele fez uma campanha inteligente: usou aquela vacina com dados que tinham maior proteção para profissionais de saúde e idosos, e usou a Coronavac para pessoas mais jovens. Ele conseguiu ter uma efetividade muito melhor das vacinas que ele tinha. Alguns países só indicam vacina da AstraZeneca para pessoas acima de 30 anos. A gente precisa otimizar os dados que temos para otimizar as vacinas que a gente tem. Compreendendo isso, a gente vai saber que grupos ela pode responder melhor, que grupos terão uma efetividade melhor. No Brasil, a gente não fez isso ainda. O Ministério da Saúde deve repensar a otimização para ver quais grupos devem tomar quais vacinas”, sugere.



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