Procedimentos estéticos: embate entre médicos e não médicos está longe de terminar
Médica orienta paciente que estiver insatisfeito com resultado de cirurgia e despesas para realizá-la
Por Portal Eu, Rio! em 30/06/2021 às 11:00:00
Foto: Reprodução/Facebook.
Uma disputa envolvendo médicos e dentistas têm colocado a harmonia entre os profissionais dessas categorias em risco. A razão disso é que, desde 2016, o Conselho Federal de Odontologia (CFO) autorizou seus profissionais a aplicarem nos pacientes a toxina botulínica (o popular botox). A utilização de outros preenchedores faciais em procedimentos estéticos também foi autorizada pela entidade a partir de 2019. O documento também delimitou uma área anatômica, do osso hióide, na base da garganta, até o ponto násio, que são os ossos do nariz, que podem ser alvos desses tratamentos.
No entanto, essa norma abriu uma guerra de classes que no final quem está saindo prejudicado é o paciente. “Nenhum médico quer tratar as complicações daqueles que não são da mesma categoria. E quando acontece algum problema, o que nós procuramos? O hospital. Um dos motivos de alguns procedimentos invasivos serem mais baratos com profissionais que não são médicos é que o paciente não arca com a estrutura hospitalar e de uma equipe multidisciplinar para os procedimentos. Por exemplo, uma rinomodelação, blefaroplastia ou lipoaspiração, mesmo que seja somente de papada, é feita em bloco cirúrgico com a presença de um cirurgião plástico, anestesista e com toda a assistência, e os não médicos estão fazendo essa atividade em seus próprios consultórios. Isso diminui os custos finais para o paciente, em contrapartida o coloca em risco, a estrutura do ambiente é extremamente necessária nesses casos”, revela a médica dermatologista Helisse Bastos.
"E isso é algo altamente preocupante, pois traz riscos gravíssimos para os pacientes”, comenta a médica dermatologista. E essa confusão parece longe de terminar. Tanto é que se a aplicação de botox foi autorizada em 2016, três anos depois os odontologistas também passaram a injetar ácido hialurônico em seus pacientes. “A estética é uma modalidade estudada dentro da especialização da dermatologia e da cirurgia plástica, o médico tem que passar por um conhecimento profundo antes de começar a atuar nessa área. Vale lembrar que o tempo de aprendizado em uma especialização de dermatologia chega a 4 anos e da cirurgia plástica até 6 anos após a graduação em medicina”, observa.
Apesar de algumas semelhanças entre as atividades, Dra. Hellisse reforça como elas possuem formações tão distintas no nosso país, o que deve ser levado em conta diante do impasse: “Odontologia e Biomedicina é um curso de meio período, com carga horária reduzida, sendo muitos deles noturnos, o que não acontece em outros países da Europa e da América do Norte”. E o que preocupa a médica é que essas profissões deveriam ser complementares dentro de uma equipe multidisciplinar, com atuação de todos os profissionais para o bem-estar do paciente. Mas o que se vê são eles querendo atuar na mesma área, tornando essa prática impeditiva para o cuidado do paciente como um todo.
Ela relata que mesmo com toda essa briga por espaço no mercado de trabalho em sua clínica, os profissionais atuam de modo interdisciplinar, com nutricionista, fisioterapeuta, dermatologista, técnico em enfermagem e biomédico para o cuidado integral do paciente na área da estética, sendo ela a médica responsável por todos os procedimentos que envolvem a clínica.
Se a cada dia aumentam as complicações estéticas, a dermatologista observa que “estudos mostram que os números podem dobrar". "Receio ter que colocar a mão num procedimento feito erroneamente por um profissional que não conhece a fundo as técnicas", continua, "e os processos jurídicos envolvendo os médicos e não médicos estão cada vez mais maiores”.
Por outro lado, engana-se também quem pensa que os tratamentos oferecidos pelos dentistas são mais baratos. “Os produtos, principalmente a toxina botulínica ou ácido hialurônico, aqueles usados para preenchimento, harmonização, são importados com custos relativamente altos. Então, se o valor do procedimento está muito baixo, é algo que deve ser questionado junto a quem o está fazendo”, pondera.
Enquanto isso, CRM e CRO seguem batalhando na justiça. “Tem mês que uma categoria ganha uma causa, no outro, o resultado é favorável ao outro lado. Enquanto isso, os pacientes ficam sem saber como agir em casos de reparos nos seus procedimentos”, lamenta.