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O legado das Mães de Acari: 'A luta vai até a morte'

'A justiça de fato não vem exatamente na hora que queremos', diz ativista

Por Moura Júnior em 27/07/2021 às 22:09:28

Mães de Manguinhos: continuidade do legado das Mães de Acari. Foto: Divulgação

Na última segunda-feira (26), o movimento Mães do Acari completou 31 anos. A data relembra um dos episódios mais tristes e sombrios da cidade do Rio de Janeiro, mas também destaca a força de mulheres da periferia que nunca desistiram e nem se intimidaram na luta para encontrar seus filhos, que foram levados por um grupo de homens e nunca mais voltaram para casa. O movimento Mães de Manguinhos continua esta batalha por justiça.

Há pouco mais de três décadas, 11 jovens moradores da comunidade do Acari desapareceram de um sítio nas redondezas do município de Magé. Entre eles havia sete menores de idade que, mesmo depois de uma investigação da polícia, até hoje não foram localizados.

Na época, com o objetivo de denunciar a violência do Estado e encontrar alguma resposta sobre o desaparecimento dos seus filhos, as mães dos desaparecidos fundaram o movimento Mães de Acari. Durante a busca incansável, em 1993, Edméia Euzébio, líder do grupo, e Sheila Conceição, que era sua cunhada, acabaram assassinadas no estacionamento do metrô Praça XI. Há indícios que Edméia e Sheila estavam muito perto de descobrir o que havia ocorrido com os jovens.


Foto: Divulgação

Mônica Cunha é co-fundadora do Movimento Moleque e mãe de um jovem que foi assassinado em 2000 por um policial civil. Ela celebrou a data e comentou sobre a importância do movimento para outras mães e pais que perderam seus filhos por causa da violência do Estado.

"Para quem mora nas periferias, o Movimento Mães de Acari significou a consciência de que antes da gente existir, alguém já gritava por nós. Por meio dessas mães, descobrimos que a justiça de fato não vem exatamente na hora que queremos. Contudo, não podemos desistir. Como elas nos ensinaram, a luta vai até a morte. Elas morreram lutando de verdade. Diante do exemplo, aprendemos que se não lutarmos, morreremos com a consciência pesada. Já se a gente lutar, vamos morrer com a certeza que tentamos e de que ninguém conseguirá nos silenciar", alertou a ativista.


Foto: Divulgação

Mônica ainda destacou que a força das Mães de Acari se reflete na força das mulheres e mães negras que nunca se calam. Principalmente, quando mexem com seus filhos.

"Se nos desafiam, eles conseguem extrair toda a garra que há em nós. Transformam as mulheres em leoas, em entidades que não têm medo de nada. O fato que levou a criação do movimento foi mais um que despertou a força das mulheres guerreiras e incansáveis daquela comunidade. Mesmo que elas não tenham encontrado seus filhos, jamais ficaram esperando o poder público dar uma resposta", relembrou.


Foto: Divulgação

Já sobre o legado das Mães de Acari, Mônica ressaltou os principais valores que persistem até os dias atuais e inspiram outros movimentos.

"Aprendemos que a gente sempre tem que estar juntas. Não adianta acreditar que apenas uma vai conseguir, é preciso agir no coletivo. A justiça deve ser fruto de um movimento oriundo da união. E mesmo que não consigamos alcançar respostas, precisamos compreender que apenas o fato de estarmos unidas significa que fazemos justiça. Quando ocupamos os espaços e mostramos a nossa cara, estamos conseguindo alcançar a justiça. Sempre, destacando todos os casos. Afinal, o sistema não danifica apenas uma mulher. Quando o estado tira um filho de uma mãe, ele atinge a coletividade. Então, a luta é coletiva, não tem como ser diferente porque a dor é coletiva. A gente tem que impor isso, falar disso. O sofrimento é coletivo. Qualquer conquista para nós somente irá valer se for uma conquista de todas", concluiu Mônica.

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