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Voto feminino continua dividindo as opiniões sobre Bolsonaro

Candidato do PSL polarizou discussões acaloradas nas redes sociais

Por Jonas Feliciano em 28/09/2018 às 21:13:00

Nome do candidato foi motivo de discussões nas redes (Foto: Twitter Jair Bolsonaro)

Como já era previsto, as eleições de 2018 estão polarizando o eleitorado brasileiro. Faltando poucos dias da votação do primeiro turno, ainda não há uma definição sobre quem será o próximo presidente do país. Entretanto, um candidato tem dividido às opiniões.

Especialmente entre as mulheres, Jair Bolsonaro é o nome mais polêmico e, a sua possível vitória, também se tornou um bom motivo para debate e mobilizações como, por exemplo, os grupos nas redes sociais.

Neste contexto, inúmeras páginas e comunidades foram criadas no ambiente on-line alimentando a discussão sobre o assunto. No entanto, algo vem chamando a atenção, a participação feminina nestes movimentos. Nas redes, existem tanto mulheres a favor quanto contra a candidatura do presidenciável. Um bom exemplo disso foi o grupo "Mulheres Unidas Contra Bolsonaro" que ganhou notoriedade pela quantidade de eleitoras que aderiram à causa. 

Aproximadamente 2 milhões de participantes se juntaram até o hackeamento da página. Nele, além da união das mulheres, havia a programação de eventos para incentivar ações contra o voto em Bolsonaro.

Nesta quarta-feira (26), o IBOPE divulgou mais uma pesquisa. No novo cenário, o candidato caiu para  27%, mas sua rejeição está em 44%. Ele é seguido por Fernando Haddad com 21% e Ciro Gomes, na terceira posição, com 12%. Alem disso, foi reforçado o perfil dos seus apoiadores como pessoas com renda mais alta, com maior escolaridade e cristãs. Segundo dados da pesquisa, 42% dos eleitores possuem renda maior que 5 salários mínimos, 33% tem nível superior e 34% são evangélicos.

#elesim

Na contramão de quem não simpatiza com o candidato do PSL, também estão aquelas que acreditam nas suas propostas. Com alguns cliques, facilmente encontram-se páginas de apoio formadas pelo público feminino. 

O "Mulheres com Bolsonaro #17" é um dos mais expressivos. Até o momento, são cerca de 1,8 milhões de membros militando ao lado do deputado.A empresária corumbaense, Jucielly Salles, 33, é uma das militantes a favor do parlamentar e acredita em suas promessas para mudar o Brasil.

"Não acho que ele seja o salvador da pátria e que vai conseguir exterminar por completo a corrupção. Eu acho até injusto cobrar isso de um homem, um mero mortal. Porém, no momento de calamidade que estamos vivendo em nosso país, eu acredito muito que ele seja o único capaz de arrumar a casa para que possamos começar a ver alguma melhora. Ele tem independência política para indicar bons ministros por competência, pois não deve favores a ninguém. Tem a humildade e, vale dizer, a coragem de assumir que não sabe tudo e está disposto a colocar pessoas capacitadas para trabalhar ao seu lado. Afinal, que homem ou mulher tem pleno conhecimento e capacidade para governar uma nação do porte do Brasil, sozinho? Em 27 anos de vida política, não acharam sequer um envolvimento dele com a corrupção", destacou a empresária. 

Jucielly também relembrou que para ela não existe um candidato perfeito e que nunca teremos alguém 100% ideal.

"Vamos pesquisar, vamos colocar na balança o que precisamos para o momento do nosso país. As pessoas falam muito e acabam não conhecendo as propostas verdadeiras. Não estou confortável em morar num país como o nosso. Vou apostar no novo e renovar meu voto. Não quero mais os mesmos, eu quero ao menos tentar uma novidade. Se ele fosse igual aos outros não incomodaria tanto. Inclusive, acho que polemizam muitas coisas que ele faz. O Brasil está perdendo os valores e precisa voltar ao seu rumo. Temos muitas coisas importantes para serem resolvidas. Precisamos lavar esse congresso. E, Bolsonaro me devolveu uma pontinha de esperança e alegria de sair de casa pra votar", afirmou a eleitora. 

#elenão

Acompanhando o aumento da rejeição está o movimento que bate de frente com as propostas e o discurso de Jair Messias Bolsonaro. Nos últimos dias, inúmeros artistas e figuras públicas divulgaram vídeos recriminando a sua postura de e utlizando a hashtag #EleNão ou #EleNunca. Tais publicações promoveram outras mobilizações

A secretária carioca, Monique Paz, 31, participava da comunidade "Mulheres contra Bolsopnaro". Para ela, as propostas de Bolsonaro são preocupantes, pois não propõem uma mudança positiva para o Brasil.

"As principais propostas deste candidato estão voltadas para a segurança. Parece que o seu plano de governo é somente armar a população. E pensando nisto, eu me motivei a não votar nele. Além de ser um candidato que ataca inúmeras classes propagando o ódio e a discriminação. O fato dele querer armar a população me deixa bastante assustada. Não vi nenhum planejamento para diminuir a violência, muito pelo contrário, ele quer jogar nas nossas costas uma responsabilidade que é do estado", relatou Monique.

Ela também falou da redução da maioridade penal como outro ponto preocupante. Assim como, sobre a possibilidade do ensino a distancia para educação fundamental e regular.

"Ele quer colocar na cadeia o menor, mas não diz qual acompanhamento ele terá para se recuperar. Vi também que falou em educação à distância para ensino fundamental e médio. Sou esposa de um professor de história e conheço o quanto à educação está precária. Nós sabemos que os alunos precisam do ensino presencial", lembrou.

A força histórica do voto feminino

Na última pesquisa publicada pelo Instituto Data Folha, 46% das eleitoras responderam que ainda não sabiam em quem votar. Nesse público, o  índice de rejeição do candidato chega a espantosos 49%. Já os dados do IBOPE revelam que a intenção de votos é de 36% entre os homens e de 20% entre as mulheres. Um fator importante, pois 52% do eleitorado brasileiro é representado pelo voto feminino e quase metade rejeita Bolsonaro.

A historiadora fluminense, Rita de Cássia Paula, relembrou a importância do sufrágio conquistado ao longo da história nacional.

"As mulheres brasileiras percorreram um longo caminho para conquistar seus direitos políticos. Nós estamos falando de direitos conquistados sem restrições somente em 1945. No período imperial prevaleceu o sufrágio censitário que tinha a renda, grau de instrução como critérios definidores de eleitor. Apesar de algumas emendas  terem sido discutidas a fim de incluir o eleitorado feminino no processo eleitoral nenhuma dessas propostas vingaram. Nos primeiros anos da República, novos debates sobre o direito ao voto levados à Assembleia Constituinte de 1891, mas também foram rejeitados. Os direitos políticos foram estendidos as mulheres somente pelo Código Eleitoral de 1932, embora as Constituições de 1934 e de 1937, trouxessem restrições ao exercício do direito", recordou.

Rita de Cássia ainda exaltou o nome de feministas que contribuíram para essa grande vitória das mulheres no país.

"A essa conquista devemos muito ao movimento sufragista que teve sua primeira manifestação formal no Congresso, em 1916. Foram mulheres como Leolinda Daltro, Bertha Lutz, Diva Nolf Nazário, Adalzira Bittencourt, dentre outras, que lutaram para que as mulheres no Brasil exercessem um dos seus direitos de cidadania- seus direitos políticos. Hoje, somos um pouco mais de 77.000.000 de eleitoras. Representamos mais de 52% do eleitorado. Nosso voto tem peso e nossa luta tem história", celebrou a historiadora.

Além do Feminismo

A jornalista e consultora política, Fernanda Galvão, acredita que para entendermos os movimentos pró e contra Bolsonaro , é interessante observarmos o seu fenômeno  de crescimento. Para Fernanda, ele é um candidato que soube aproveitar muito bem as redes sociais. Não só durante a campanha, mas principalmente na pré-campanha.

"Sabendo que não tinha um partido com capital financeiro muito grande, com pouco tempo de televisão e alianças não tão significativas, desde o impeachment, ele soube se aproveitar e ser um dos principais porta-voz do que chamamos de antipetismo. Tanto Bolsonaro quanto os seus filhos, sempre se encarregaram de manter aceso o protagonismo por meio de declarações públicas, das redes sociais, entrevistas ou, até mesmo, em encontros com mobilizadores. A campanha do candidato conta com uma quantidade razoável de mobilizadores. Sejam voluntários ou contratados. Além disso, há uma militância muito aguerrida. Um fato que é uma novidade a termos de Brasil.Afinal, essa sempre foi uma característica da esquerda brasileira", lembrou a jornalista.

Fernanda ainda considera que é a primeira vez que o Brasil veste a camisa de um candidato de direita com esta devoção. Por isso, neste momento, observa que Bolsonaro pavimentou o seu caminho por meio da sua estratégia de capitalização de eleitores nas mídias sociais. Ela acredita que o presidenciável soube usar muito bem a premissa "Falem mal, mas falem de mim".

Por isso, até essa onda contrária a sua candidatura ganhar força, ele manteve o mesmo discurso estratégico. Direcionando suas equipes pessoais e eletrônicas na promoção do engajamento das redes. No entanto, o movimento #EleNão acabou ruindo esse posicionamento. Principalmente, porque a maioria do eleitorado feminino sempre foi resistente ao candidato.

"Não acho que seja uma causa somente feminista. Isso porque se o nosso país tivesse tantas feministas lutando por causas tão importantes quanto uma eleição presidencial, viveríamos numa sociedade diferente. Na verdade, o #EleNão é um fenômeno que traz a voz de um lado do eleitorado feminino que rechaça a postura agressiva de Bolsonaro", afirmou.

Ela também lembrou que é um erro achar que ele não tem o apoio das mulheres. Segundo a consultora, existem muitas mulheres que votam no Bolsonaro. Inclusive, muitas que acham que a causa feminista está ultrapassada. Por tal motivo, é  um equívoco considerar que aquelas que são contra ele, são todas feministas. Porém, Fernanda acredita na força do voto feminino e na diferença que esse eleitorado poderá proporcionar as eleições de 2018.

"É possível que muitas mulheres não estejam declarando o seu voto publicamente por diversas razões. Eu creio que as eleitoras possam influenciar seus núcleos familiares e também outras pessoas com o seu posicionamento contrário a Bolsonaro. Embora muita gente considere esse movimento como histeria coletiva, outras vão parar para pensar no assunto. Caso ele perca, ainda não vai dar para identificar as razões reais, mas é um fato que os pontos negativos causem algum impacto na campanha. Por esta razão, uma mobilização deste tipo pode ser bastante significativa na decisão dos votos úteis. Para isso, basta perceber a mudança de postura do candidato e um movimento multipartidário unido contra um discurso que não é mais tão eficiente", alertou.

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