Uma das milícias que foi alvo de operação nesta semana do Ministério Público Estadual do Rio e da Polícia Civil assaltava bocas de fumo em São Gonçalo e repartia o dinheiro com policiais militares. A informação consta na denúncia contra três quadrilhas que foram desarticuladas na última segunda-feira (24).
A mesma milícia, comandada por Anderson Cabral Pereira, o Sassa, que está preso na cadeia pública Bangu 9, pagava propinas a PMs para que eles fizessem patrulhamento próximo aos comércios que eram seus "clientes".
Mediante corrupção de policiais militares que o auxiliava nas ações, a milícia de Sassa dominava várias regiões do município, várias delas que eram controladas por traficantes. Uma delas foi o Morro do Castro.
Sassa também corrompia agentes penitenciários. Segundo consta a denúncia, ele teria pago R$ 3.000 para transferir um comparsa para a cadeia onde estava. Policiais civis também receberiam dinheiro do bando. Quando estava em liberdade, o miliciano pousava para fotos usando fardas e armamento da Polícia Militar.
Uma segunda milícia que agia em São Gonçalo e que era comandada por Luiz Cláudiio Freires da Silva, o Zado, também tinha relação estreita com a polícia. Interceptações telefônicas mostraram conversas sobre um homicídio cometido no dia 25 de abril deste ano de um homem que tentou assaltar um comércio que contava com a segurança do grupo paramilitar. Nas gravações, Zado diz que estava procurando uma viatura com algum "policial amigo" para mandar para o local.
Outra ligação mostra um comparsa de Zado conversando com uma mulher dizendo que Zado pediu a um PM que havia prendido um membro da milícia com uma pistola para dizer em juízo que não se lembrava do fato
Braço político
As milícias investigadas também pretendiam se infiltrar na política. O grupo liderado por Zado organizou em uma reunião em um estabelecimento comercial no Engenho Pequeno para a apresentação aos moradores de um candidato a deputado, chamado pelos milicianos de Coronel.
A terceira milícia, que agia em Maricá, era outra que tinha objetivos políticos. Um dos membros do grupo, Lucas dos Santos Costa, o Luquinha, foi flagrado em uma interceptação telefônica conversando com um policial civil sobre uma operação e de levar moradores de Inoã (distrito de Maricá) a um encontro com candidatos a deputado estadual e federal nas próximas eleições.
A milícia de Maricá tinha contato com vários outros políticos da cidade sendo que já havia apresentado candidatura a vereador, mas foi indeferida.
Como agia cada grupo
A primeira milícia investigada pelo MP e a Polícia Civil comandada por Sassa tinha como base os bairros de Porto Velho, Porto Novo, Gradim, Porto da Madama e Boa Vista, em São Gonçalo.
Controlava imóveis nas localidades, explorando-os de forma lucrativa mediante locação sendo que os aluguéis eram cobrados a mão de ferro.
Outra fonte de recursos era a cobrança de valores para que mototaxistas continuassem exercendo seus ofícios nas localidades sob o domínio do grupo.
Explorava ainda a venda de cestas básicas . Cometia também homicídios principalmente de traficantes e de viciados em drogas.
A segunda milícia atuava nos bairros de Engenho Pequeno, Zumbi e adjacências e cometia homicídios contra traficantes, milicianos rivais e assaltantes, furto de sinal de TV a cabo e Internet, além de agiotagem. Extorquia também motoristas de vans, de carros fretes e comerciantes.
Segundo as investigações, cobrava de R$ 50 a R$ 80 semanais dos carros fretes e dos motoristas de lotada e na agiotagem exigia 40% de juros ao mês. A exploração da venda do sinal de TV a cabo garantia um lucro a quadrilha de R$ 17 mil ao mês.
Um dos denunciados de pertencer essa milícia também atuava no contrabando de cigarros falsificados do Paraguai.
O grupo intervinha também em conflitos familiares.
O terceiro grupo que foi alvo da Polícia Civil e do Ministério Público agia em Inoã e Itaipuaçu, distritos de Maricá, e praticava crimes diversos: homicídios, extorsão, corrupção de policiais, agiotagem, furto de sinal de TV a cabo e Internet e constrangimento ilegal.
O líder essa milícia era o policial militar Wainer Teixeira Júnior, o W e passou por desavenças após a prisão do chefe. Ao ser beneficiado por prisão domiciliar, W ordenou a morte de dois membros, Luquinha e Chicão, acusados de traição por não repassarem o dinheiro arrecadado com a segurança. Com a intervenção de Sassa, que comandava outro bando, a dupla foi poupada e o bando se reconciliou.
Essa milícia foi a responsável pelo assassinato de cinco jovens em um condomínio do Minha Casa Minha Vida no dia 25 de março deste ano. O crime foi praticado com o simples propósito de afirmar o poder e espalhar o terror entre moradores e comerciantes da localidade. O bando exerce o controle dos condomínios do programa federal nos dois distritos.
Explorava a venda de cestas básicas sendo que estabelecia comissões para integrantes da milícia no caso de outras pessoas também venderem os produtos.
Tinha ainda uma central clandestina de Internet e TV a cabo dentro do Minha Casa Minha Vida de Itaipuaçu.
Ao todo, 24 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público acusados de integrar uma das três milícias. Alguns faziam parte de mais de uma quadrilha. Dezoito suspeitos foram presos.