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Prefeitura de Duque de Caxias constrói muro em teatro para impedir moradores de rua no local

Atitude revoltou ativistas de direitos humanos da cidade, que pedem abrigo para a população em situação de rua em dias de frio e chuvas

Por Anderson Madeira em 22/09/2021 às 19:17:05

Foto: Divulgação Heraldo HB e Lu Brasil

A construção de um muro no vão sob a rampa do Teatro Raul Cortez, no Centro de Duque de Caxias, está revoltando ativistas de direitos humanos. A obra foi feita pela prefeitura e impediria que pessoas em situação de rua se abrigassem no local contra o frio e a chuva. O teatro foi projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer.

A iniciativa revoltou o professor Marroni Alves, representante do Movimento União de Bairros (MUB) no Fórum de Defesa dos Direitos da População em Situação de Rua.

“Este local abriga, em dias de frio e chuvas, moradores de rua que não possuem nenhum tipo de políticas públicas para deixarem de estar ali. Ninguém vive na rua porque quer! Por que não aproveitaram que o teatro encontra-se fechado devido à pandemia e acolheram esses moradores lá dentro? Com cobertor, comida, banho, roupa, direitos? Cadê aquele discurso cristão das autoridades dessa cidade? Tijolo, cimento e mão de obra que poderiam servir para a construção de um abrigo para acolher, tratar, capacitar e dar dignidade a essas pessoas, mas escolhem o caminho mais fácil e mais desumano. Aliás, Caxias não possui nenhum abrigo para moradores de rua, principalmente no primeiro distrito, onde o índice é cada vez maior. É impossível não compreender isso como um preconceito do governo. A chamada arquitetura da violência e exclusão!”, protesta Marroni.

Segundo ele, o MUB pediu apoio ao padre Júlio Lancellotti. Em 2 de fevereiro deste ano, ele quebrou, a marretadas, pedras instaladas pela Prefeitura de São Paulo sob os viadutos e elevados da cidade, ainda durante a gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB), falecido em 16 de maio deste ano.

“Pedimos a ajuda e a voz do Júlio Lancellotti em favor dos nossos irmãos moradores de rua da cidade de Duque de Caxias, que tiveram em Dom Mauro Morelli, acolhimento, carinho e amor”, informa.

Marroni acrescenta que estão denunciando o caso ao Ministério Público do Estado e à Defensoria Pública. Também informaram a situação a Paulo Niemeyer, responsável pelo escritório de arquitetura de Oscar Niemeyer e presidente do Instituto Niemeyer.

“Esperamos que consigam resolver esse absurdo contra a arquitetura e contra os nossos irmãos moradores de rua. Que usem esses tijolos e cimentos para construir um abrigo e tratar o problema dos moradores de rua como questão de saúde pública e não tirar eles de um lugar para irem se abrigar em outra marquise. Niemeyer jamais deixaria alguém murar suas obras porque alguém por baixo dela busca abrigo do frio e da chuva”, conclui o professor.


Foto: Divulgação Heraldo HB e Lu Brasil

O Fórum Popular de Defesa dos Direitos da População em Situação de Rua de Duque de Caxias divulgou uma nota de repúdio. Eis um trecho: “A população em situação de rua que já vivia sob a negação de condições mínimas de sobrevivência, tais como a alimentação, vestuário e acesso à água potável e abrigo, que tem sua situação agravada com o advento da crise sanitária pela Covid-19, ainda enfrenta o descaso do Poder Público e a indiferença de parcela da sociedade. Nesta data, a Prefeitura de Duque de Caxias, iniciou a construção de um muro na rampa de acesso ao Teatro Raul Cortez, a fim de impedir que pessoas em situação de rua se abriguem sob a rampa. Além de descaracterizar a arquitetura de um prédio projetado pelo renomado Oscar Niemeyer, à medida em que o próprio poder público lança mão do designer hostil para excluir determinados grupos sociais, como a população em situação de rua do espaço público”.

A Prefeitura de Caxias, procurada pelo Portal Eu, Rio!, divulgou a seguinte nota:

“A Prefeitura de Duque de Caxias, através da Secretaria Municipal de Obras e Defesa Civil, informa que as intervenções que estão sendo feitas no Teatro Municipal Raul Cortez, localizado na Praça do Pacificador, Centro do município, fazem parte do projeto de reforma do prédio, e que todos os procedimentos legais junto ao escritório do arquiteto Oscar Niemeyer foram cumpridos, por exigência da Caixa Econômica Federal, responsável pela liberação dos recursos para a revitalização do Teatro.

A Prefeitura de Duque de Caxias ressalta ainda que, desde 2017, quando a atual administração municipal assumiu seu primeiro governo, vem buscando recursos para as obras de revitalização e modernização do espaço público, degradado pelo tempo e pela falta de manutenção dos governos anteriores. Reforça também que as intervenções realizadas no local visam ainda resguardar o patrimônio público e a segurança dos frequentadores.

No local indicado existe a passagem de cabos de energia ligados aos equipamentos do prédio, que frequentemente são depredados e furtados, além da presença constante de usuários de drogas, causando não só prejuízos ao patrimônio público, mas também colocando suas vidas em risco. A depredação e ameaça de roubos de cabos de energia constam em Boletins de Ocorrências (B.O.s) realizados pela Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, junto aos órgãos competentes. Vale acrescentar que, em Duque de Caxias, os usuários de drogas e as pessoas em situação de rua são acolhidos em equipamentos públicos do município, como os Centros de Referência de Assistência Social e a Fazenda Paraíso, por exemplo.

A Casa de Passagem, equipamento da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos, acolhe pessoas em situação de rua, desde que as pessoas estejam dispostas a ir para o local. O equipamento tem capacidade máxima para até 20 pessoas.

Também é oferecido pelo Centro POP atendimento e acompanhamento à população em situação de rua de toda a cidade, incluindo as pessoas no entorno do Teatro Raul Cortez. O atendimento inclui viabilização de documentação, encaminhamento para a Secretaria de Saúde, comunidades terapêuticas e encaminhamento para a rede de serviço.

Além disso, o Centro POP fornece café da manhã, almoço, atendimento com assistente social, psicólogo e educador social e reinserção familiar. No Restaurante do Povo, de administração da Secretaria, são servidas até 2 mil refeições e cafés da manhã diariamente. O Dedaf (Departamento de Enfrentamento às Drogas e Atendimento às Famílias), outro equipamento da Secretaria, realiza ações planejadas de cidadania que incluem higienização, cortes de cabelo, atendimento psicológico, jurídico e de assistência social”.

Eis a íntegra da nota do Fórum Popular de Defesa dos Direitos da População em Situação de Rua de Duque de Caxias:

“A crise econômica, política e social vivenciada nos últimos anos e intensificada pela pandemia da Covid-19, marcados pelos retrocessos e redução das políticas públicas e sociais no Brasil, frutos de uma acentuada política neoliberal mundial que preconizam a falta de financiamento, ataques e destruição de direitos sociais tem trazido fortes rebatimentos nas condições de vida de toda população. O crescimento da desigualdade social, da concentração de terra e renda no nosso país tem levado cada dia mais pessoas a condições de miséria extrema que só lhes restam as ruas como espaço de moradia e sobrevivência. Esse cenário catastrófico se combina com discursos e práticas de que disseminam ódio, criminalizam a pobreza e promovem ações de higienização social da população preta e pobre. A população em situação de rua que já vivia soba a negação de condições mínimas de sobrevivência, tais como a alimentação, vestuário e acesso à água potável e abrigo tem sua situação agravada com o advento da crise sanitária pela Covid-19, ainda enfrenta o descaso do Poder Público e a indiferença de parcela da sociedade. Nesta data, a Prefeitura de Duque de Caxias, iniciou a construção de um muro na rampa de acesso ao Teatro Raul Cortez, a fim de impedir que pessoas em situação de rua se abriguem sob a rampa. Além de descaracterizar a arquitetura a arquitetura de um prédio projetado pelo renomado Oscar Niemeyer, à medida em que o próprio poder público lança mão do designer hostil para excluir determinados grupos sociais, como a população em situação de rua do espaço público. Na contramão da Lei Municipal n.º 2.958, de 5 de junho de 2019, que estipula critérios para a formulação e implementação de políticas públicas para a população em situação de rua, a Prefeitura de Duque de Caxias, iniciou a construção de um muro na rampa de acesso ao Teatro Raul Cortez, a fim de impedir que pessoas em situação de rua se abriguem sob a rampa. Além de descaracterizar a arquitetura a arquitetura de um prédio projetado pelo renomado Oscar Niemeyer, à medida em que poder público lança mão do designer hostil para excluir a população em situação de rua do espaço público. Essa lei define como princípios o respeito à dignidade da pessoa humana, a valorização e o respeito à vida e à cidadania e o atendimento humanizado e universalizado, a fim de assegurar às pessoas em situação de rua o acesso amplo, simplificado e seguro aos serviços e programas e políticas públicas. A Prefeitura de Duque de Caxias não possui políticas públicas consistentes paraatender essas e o único serviço específico para essa população se localiza no bairro da Figueira, distante 37,7 km do Centro da cidade, limita o acesso a este equipamento público. Diante de tais fatos, o Fórum Popular de Defesa dos Direitos da População em Situação de Rua De Duque De Caxias vem a público REPUDIAR a prática higienista da Prefeitura de Duque de Caxias de construir o MURO DA VERGONHA para reforçar o apartheid social e o preconceito contra a população em situação de rua, ignorando os princípios de universalidade, gratuidade, integralidade, intersetorialidade e equidade, basilares no Sistema Único de Assistência Social, a fim de garantir a proteção social aos cidadãos no enfrentamento de suas dificuldades”.

Ouça no Podcast Eu, Rio! o padre Júlio Lancellotti mostrando indignação contra o muro da vergonha.

Por Anderson Madeira
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