Vítima de Abdelmassih cria grupo de apoio à vítimas de estupro e luta para superar traumas

A frase é de Vana Lopes, uma das mulheres estupradas pelo ex-médico Roger Abdelmassih. Em 1993, Vana, na ocasião com 33 anos de idade e sem conseguir engravidar de forma convencional, procurou a clínica de Roger para realizar o sonho de ser mãe. Gastou 30 mil dólares com o tratamento mas não engravidou. Pior, acabou sendo estuprada pelo médico, que na época era uma das maiores referências do país em gravidez assistida. Anos depois, a justiça condenaria Roger Abdelmassih pelo estupro de 37 pacientes. O ex-médico recebeu pena de 181 anos de reclusão, mas atualmente está em prisão domiciliar. 25 anos depois de ter passado pelo pior pesadelo de sua vida, Vana Lopes ainda enfrenta as dores da violência bárbara que sofreu.

Mas a estilista encontrou uma forma de amenizar o trauma. Vana Lopes fundou o grupo Vítimas Unidas. Um espaço virtual onde mulheres que sofreram estupro ou outro tipo de violência praticada no âmbito familiar possam encontrar apoio. Nossa reportagem conversou com a psicóloga Maria do Carmo Santos, responsável pelo apoio emocional oferecido às mulheres do grupo Vítimas Unidas. "Digo a todas as vítimas que nem sempre temos controle sobre as coisas boas ou ruins que nos acontecem na vida. Em casos de estupro então, nem se fale. Mas podemos ter controle sim do que faremos com as dores da maldade que nos fizeram. Que o amor é maior que a violência. Que juntas somos mais fortes. Que podemos superar e inclusive transformar nossa dor em amor e em luta", afirma a psicóloga.

De acordo com o Atlas da Violência divulgado recentemente, em média, 60 mulheres são estupradas por dia no Brasil. Como os dados levam em consideração apenas os casos que foram registrados pela polícia, os números certamente são bem maiores que os oficialmente apresentados. Para Vana Lopes, todas as vítimas, sem exceção, precisam ser alcançadas: "Desejo que o silêncio faça barulho e que toda mulher violentada, finalmente, seja ouvida", desabafa a fundadora do grupo Vítimas Unidas, grupo de apoio à vítimas de estupro e outras modalidades de violência. Atualmente, o grupo conta com mais de 100 mil participantes.

Morando em Portugal, Vana conversou com a reportagem do Eu, Rio!

Vana Lopes:Estou vivendo atualmente em Portugal. Me casei novamente, depois de mais de 20 anos sem ter nenhum contato físico, por consequência do estupro e da Síndrome de Pânico que desenvolvi. Cheguei ao ponto de ficar 4 anos presa dentro de casa, sem sair para nada. Entretanto,consegui superar grande parte dos meus traumas e tento ajudar outras pessoas a conseguirem o mesmo.

VL: Adotei uma filha e hoje tenho até uma neta. Minha relação com minha filha é maravilhosa, estabelecida na verdade. Nunca a impedi de ver a família biológica.

VL: Tive depressão aguda, tentei o suicídio, meu casamento da época acabou...

VL:Consigo sim. Estou melhor. Consigo ter paz de espirito. Gostaria de dizer à vitimas que hoje sofrem e às que pensam em suicídio que há uma outra solução para nossas dores. Primeiramente precisamos para nossa saúde mental procurar ajuda, orientações jurídicas e psicológicas e, em seguida, DENUNCIAR. Depois seguir os passos de uma vida baseada em dever cumprido, tanto consigo como com outras, pois não existe, infelizmente, violentador de uma mulher somente. Por isso, ao denunciar, vai ajudar a si e impedir que estes monstros continuem agindo.