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Ódio e fake news nas redes sociais fazem Ique deixar charge política

Ele divulgou uma charge do ministro da Economia, Paulo Guedes, que diz ter sido seu último trabalho

Por Anderson Madeira em 26/10/2021 às 20:44:00

Ique. Foto: Divulgação

O jornalista, cartunista, chargista, escultor e roteirista Ique anunciou nesta terça-feira (26) que vai deixar a charge política, depois de quarenta e quatro anos fazendo charges de políticos brasileiros. O que motivou a aposentadoria do artista, de 59 anos, foram o ódio e as “fakenews” nas redes sociais. Segundo ele, as “charges acabam validando um embate insólito, onde, inacreditavelmente, a vida deixou de ser prioridade, o humanismo desapareceu, o bom senso passou longe e o negacionismo, que, alimentado por fakenews, virou verdade absoluta e ideologia política”, disse o jornalista em uma carta divulgada em sua conta numa rede social. Ele também divulgou uma charge do ministro da Economia, Paulo Guedes, que diz ter sido seu último trabalho.


Eis a carta de despedida de Ique:

“Esta charge, marca hoje minha despedida como chargista político. Mesmo não sendo uma atividade profissional regular, permaneci produzindo meu conteúdo. É que o vício de transformar minha indignação em charge, sempre foi mais forte.

O fato é que as charges, ferramentas imprescindíveis no jornalismo na década de 80, que me deram dois Prêmios Esso de Jornalismo, não têm mais o mesmo impacto, nem mais espaço profissional nos meios de comunicação. Nas redes sociais, manipuladas pelo algoritmo que as restringem a uma bolha, amordaçando sua função jornalística primordial, as charges acabam validando um embate insólito, onde, inacreditavelmente, a vida deixou de ser prioridade, o humanismo desapareceu, o bom senso passou longe, e o negacionismo, que, alimentado por fakenews, virou verdade absoluta e ideologia política.

Tal e qual na Alemanha n@zist4, muita gente supostamente esclarecida, culta e inteligente, embarcou numa realidade paralela de uma terra plana, infestada de comunistas maconheiros que comem criancinhas, e que tem que ser exterminados em nome de Deus acima de tudo. É muito absurdo junto, parece filme de ficção. E nessa insanidade, mais de 600 mil vidas foram ceifadas. Perdi muitos amigos para a Covid, mas perdi muito mais amigos ainda para o negacionismo e para a ignorância.

A julgar pela inércia e omissão das instituições democráticas, o mais provável é que tudo acabe em pizza, como sempre, e que os lados polarizados componham politicamente entre si pra que ambos ganhem, a impunidade prevaleça, e o povo faminto e sem oportunidades, continue perdendo.

Então, exausto, decidi focar na minha sobrevivência mental e emocional priorizando a qualidade de vida, me dedicando integralmente à minha arte na pintura, no desenho, na escultura, nos roteiros, onde tenho ainda muito a realizar. Com amor acima de tudo, quero curtir meus netos, que vieram pra dar novo sentido a vida, junto com a família que me fortalece, e com os verdadeiros amigos.

Gratidão aos que me acompanharam nos 44 anos de minha carreira como chargista político, da qual tanto me orgulho, e cujo ciclo, encerro aqui.

#foragenocida #foracorrupto #forabolsonaro #politicalcartoon #iquecartoonist”

O nome de batismo de Ique é Victor Henrique Woitschach, mais conhecido como Ique Woitschach, ficou famoso por esculturas como a do poeta Manoel de Barros no centro de Campo Grande (MS), onde nasceu, além de seus trabalhos como chargista do Jornal do Brasil. Publicou também no jornal O Dia e no diário esportivo Lance. Colaborou para várias revistas como a Veja, Playboy, Veja-Rio, Mad, Fatos, Courrier International e Revista da Semana.

Conquistou dois prêmios Esso de Jornalismo. Fez seis esculturas em bronze no Rio de Janeiro: O Corneteiro de Pirajá, no bairro de Ipanema, na Zona Sul; João Saldanha, no Maracanã; o Coimbra, na Bolsa de Artes do Rio de Janeiro; Michael Jackson, na laje da comunidade do Santa Marta; Chacrinha, no Jardim Botânico; e a do cantor e compositor Martinho da Vila, no Vale Encantado, na cidade de Duas Barras, onde o sambista nasceu.

Até 2014 trabalhou como roteirista da TV Globo, no humorístico Zorra Total. Hoje é diretor executivo de sua empresa, a iQ Criação Ltda. Em 2017, esculpiu a estátua de Manoel de Barros em Campo Grande.


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