A incerteza sempre fez parte do cenário político brasileiro, principalmente em período eleitoral, mas esse ano os eleitores 'surpreenderam' até os institutos de pesquisa mais renomados do país. A prova disso são as estatísticas apontadas no primeiro turno das eleições para presidente, onde os candidatos Jair Bolsonaro e Fernando Haddad receberam 40% e 25% das intenções de voto e no Rio de Janeiro, a disputa pelo governo do estado levou Wilson Witzel e Eduardo Paes também para o segundo turno, com 41% e 19% de votos válidos. Mas as mesmas pesquisas sequer colocavam o candidato do PSC entre os quatro primeiros. Assim como Bolsonaro, que sempre liderou, mas não com margem tão elevada, a ponto de quase levar no primeiro turno.
No cenário macro, a disputa presidencial apresentou variantes consideráveis quando até agosto desse ano, ainda se cogitava a possibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se candidatar, o mesmo liderava em 37% as intenções de voto, segundo as pesquisas do Ibope, que, por sua vez, apontavam Jair Bolsonaro em segundo lugar com 18%. Contudo, após impugnação de Lula e a apresentação de seu sucessor, Fernando Haddad a cabeça da chapa PT-PCdoB, o mesmo despontou com 4% de votos enquanto Jair Bolsonaro liderava as pesquisas com 20%, seguido de Marina Silva com 12%, Ciro Gomes com 9%, Geraldo Alckmin com 7%, Álvaro Dias com 3% e os candidatos: Eymael, Guilherme Boulos, Henrique Meirelles, João Amoêdo, Cabo Daciolo, Vera Lúcia e João Goulart Filho com 1%.
Em seguida, a análise feita pelo Instituto Datafolha, no mês de setembro, apontou que após ter sofrido um atentado, Bolsonaro teve uma oscilação positiva saindo de 22% para 24% de votos enquanto o segundo lugar, era ocupado por Marina Silva e Ciro Gomes que estavam tecnicamente empatados sob uma margem de 2% para mais ou menos, com 11% e 13%, respectivamente, e indicava Fernando Haddad como ocupante do quarto lugar no ranking dos presidenciáveis, saindo de 4% para 9% das intenções de votos.
Já no cenário estadual, o ex-prefeito Eduardo Paes registrava a liderança nas disputas eleitorais com 24% das intenções de voto, seguido por Romário que tinha 14% dos votos e indicava o ex-juiz, Witzel com 1% acompanhado com demais candidatos: Dayse Oliveira, André Monteiro e Marcelo Trindade, já considerando a saída do ex-governador, Anthony Garotinho da disputa ao pleito de governador.
Segundo a assessoria do Ibope, a discrepância entre os números apresentados nas pesquisas e o resultado da apuração de primeiro turno "se encontra na margem de erro, mas que a boca de urna está influenciando os eleitores indecisos que cada vez escolhem mais tarde em quais candidatos votar". Por sua vez, o Datafolha apontou através de uma matéria em seu portal que "os eleitores estão se movendo por passividade e indecisão enquanto caminham para as urnas".
Questionado sobre quais os fatores que poderiam levar a tamanha diferença entre os números apresentados ao longo do primeiro turno, o professor de sociologia Leopoldo Guilherme Pio, elenca alternativas para justificar o ocorrido:
"Hoje nós temos uma transformação muito rápida da percepção das pessoas com relação a voto, principalmente quando nos referimos a uma parcela da população que não acompanha política e se torna mais facilmente manipulável, sobretudo pela alta incidência de fake news", explica.
Segundo Leopoldo, os institutos de pesquisa precisam se atualizar com relação aos fatores que influenciam o eleitor.
"Também é válido observar a consolidação de um fator que vem se influenciando o eleitorado nos últimos anos: “Desde 2016, e principalmente, após o impeachment da Dilma, é nítido perceber o fortalecimento do sentimento de antiesquerdismo no país. Isso está ligado ao histórico de corrupção associado aos partidos de esquerda, mas que se mostram muito mais convenientes a grande mídia e a alguns partidos mais fisiológicos do governo do que, propriamente, a um ou outro partido de esquerda. A sociedade precisa entender que a corrupção é um sintoma enraizado na nossa cultura e que só vai mudar quando nós mudarmos”, esclarece.
E finaliza fazendo uma análise sobre o perfil do eleitor, que de acordo com ele ainda apresenta características messiânicas e populistas “A sociedade se acostumou a buscar um salvador e isso aconteceu com Getúlio, Brizola e os que carregaram seu legado e nos anos 90, com Fernando Collor, que se apresentava como o único candidato diferente dos demais, mas que nitidamente se mostrava ineficiente até para o posto que ocupava quando deputado. Precisamos parar de buscar um salvador”, ressalta.