Um armário cheio de roupas ainda sem usar, peças e produtos comprados sem necessidade e a sensação de prazer imediato que desaparece dias após a compra são os sinais de quem compra por compulsão.
Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 8% da população mundial sofre de oneomania, compulsão por compras, também chamada de consumismo compulsivo e Transtorno do Comprar Compulsivo (TCC). A doença atinge principalmente as mulheres: a proporção é de quatro mulheres para cada homem.
Para o psiquiatra Adiel Rios, com a proximidade do fim do ano, quando há um maior apelo por compras devido ao Natal e ao décimo-terceiro salário, há chances de o hábito de adquirir compulsivamente se intensificar.
Além disso, com o comércio aberto em horário estendido e sem restrições, aumentam-se os canais de aquisição de produtos.
Transtornos associados
Famílias de compradores compulsivos mostram maior tendência a desenvolver outros transtornos como do humor, dependência química e transtornos alimentares. “Além disso, há uma relação bastante próxima entre a oneomania com o transtorno obsessivo compulsivo e o transtorno bipolar. A soma destas patologias com as distorções sobre o ato de consumir motiva o comprador compulsivo a desenvolver uma suposta segurança por meio das compras”.
Ao ficar longos períodos sem consumir, a pessoa que tem compulsão por compras também pode sofrer de abstinência com sintomas similares aos da dependência do uso de substâncias químicas: irritabilidade extrema, perda de autoestima, sintomas de humor deprimido, ansiedade e oscilações de humor.
O psiquiatra cita ainda outros sinais da doença:
– Descontrole financeiro: Além das “armadilhas virtuais”, o consumo ganhou atratividade por meio de maiores facilidades de pagamento ou diversas ofertas pontuais. “Hoje, há várias formas de um comprador compulsivo se enrolar financeiramente, seja pagando o mínimo do cartão de crédito, aderindo ao cheque especial ou contratando crediários”.
– Compras escondidas: Para o indivíduo com oneomania, comprar sem ninguém saber e esconder os itens em casa já são parte do processo de compra. “Por ser considerada uma postura socialmente reprovável, o medo da censura e do julgamento explicam o comportamento de nutrir a compulsão em segredo”, diz Adiel Rios.
– Peças repetidas, esquecidas ou nunca usadas: a pessoa compra itens sem experimentar ou praticamente iguais, pois nem se lembra do que tem no armário. “Em um determinado momento, o indivíduo não tem nem mais espaço para guardar tanta coisa e acaba amontoando tudo no fundo do guarda-roupa, ficando esquecido por lá”, completa o psiquiatra.
– Sensação de culpa após uma compra: como em outros transtornos, após efetuar uma compra e vivenciar a sensação de prazer, vem depois o sentimento de culpa e sofrimento. “Quando acaba aquele bem-estar, ocorre uma sensação de impotência diante do descontrole da compra. Logo, surge o ciclo de prazer-luto, sendo consequência da visão distorcida sobre a finalidade do consumo em nossas vidas”.
– Origem familiar e genética: não há estudos definidos que comprovem as causas da doença, mas a literatura médica relaciona o transtorno a alguns fatores. “Um deles está associado com a história comportamental da família do indivíduo”, diz o especialista.
Tratamento
Segundo o psiquiatra, há inúmeras abordagens terapêuticas capazes de auxiliar quem sofre deste transtorno.
“Os tratamentos incluem o acompanhamento por fármacos, como ansiolíticos e antidepressivos, psicoterapias e até consultoria com um especialista em finanças pessoais. Os tratamentos têm como objetivo atribuir um novo significado à relação gratificação-recompensa, mostrando que há outros caminhos para lidar com as dores e formas muito mais saudáveis de obter bem-estar e prazer na vida”.
Há ainda grupos de apoio, como o Devedores Anônimos, onde outros compulsivos compartilham suas experiências.
Fonte: Agência Brasil