E a Uerj resistiu! O aumento de 35% nas inscrições para o vestibular em relação ao ano passado revelou que sim, a Universidade Estadual do Rio (Uerj) está reagindo e resistindo, como sugeriu o lema do movimento que marcou a maior crise de seus 67 anos de existência. Foram 50.803 candidatos, estudantes que acreditam e sonham em ter o diploma emitido por uma das mais conceituadas universidades públicas do País. A segunda chance da primeira etapa para o Exame de Qualificação será dia 16 de setembro.
Falta água, os banheiros estão sucateados, a segurança deixa a desejar, entre outras dificuldades. Mas a Uerj continua fazendo parte dos sonhos de muitos estudantes. No ano passado, 37.195 pessoas se inscreveram no vestibular, o pior índice de participação desde que a universidade adotou o atual modelo de avaliação, há 19 anos. Outro número animador, o percentual de faltosos nesta edição caiu de 10,3%, em 2017 para 7,3%. Diretor do Departamento de Seleção Acadêmica da Uerj, Gustavo Krause festejou os números.
"Foram quatro meses de salários atrasados e hoje a universidade está em dia com os pagamentos. Ainda não estamos a todo vapor, mas é possível comemorar", afirma Krause.
O Hospital Pedro Ernesto, por exemplo, está conseguindo se manter depois de uma determinação judicial que obrigou o repasse de R$ 7 milhões mensais. O retorno do processo seletivo para Academia do Corpo de Bombeiros Militar ao vestibular, suspenso ano passado, também é uma ótima notícia. A quinta maior universidade do Brasil e 11ª da América Latina passou na prova mais difícil da sua história.
Professora de Língua Portuguesa e Redação com Licenciatura e Bacharelado, formada na Uerj, em 2013, Ane Caroline dos Santos Barros, 27, cursou especialização em ensino de Língua Portuguesa e mestrado na instituição e hoje cursa doutorado em estudos da linguagem. São ao todo nove anos na Uerj. Ane conta que sempre acreditou que a última crise era só mais uma fase ruim.
"Toda universidade pública passa por crise, por greve. Isso é fruto do baixo interesse e investimento governamental na educação pública. Pela dimensão da Uerj, pela qualidade do serviço prestado aos alunos e à população (médicos, dentistas, psicólogos, professores por meio da Universidade Aberta à Terceira Idade (Unati) e do Línguas para Comunidade (Licom), por exemplo), dar fim à universidade seria um crime", diz.
Foi principalmente a qualificação do corpo docente da Uerj que pesou na escolha de Ane. Ela afirma que "a universidade tem nota máxima no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), é considerada uma das melhores faculdades do país para licenciatura, formação de professores. A grade curricular é enorme, difícil, mas visa sempre à formação completa do graduando. Isso fica claro, por exemplo, ao ver que em quatro anos de graduação, precisamos fazer em Letas, cinco semestres de estágio no Colégio de Aplicação (CAP) Uerj. Nada melhor para aprender do que a relação teoria e prática. Vale destacar aqui também o quanto o CAP sofre com a desatenção do Governo do Estado", acentua a estudante.
Foi na uerj também que Ane teve a oportunidade de participar de projetos apoiados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), não tão comuns em universidades privadas, como o Programa Institucional de Bolsas à Docência (PIBID).
"A oferta de bolsas e a oportunidade de aprendizagem na Uerj são reais", conta. E o que está faltando?
"É preciso que a mídia e o governo parem de tratar a faculdade como um lugar que se gasta muito dinheiro. A universidade deve ser vista pela população como um lugar de inclusão, de oportunidades. Não é à toa que fomos a primeira a utilizar o sistema de cotas. A Uerj resiste sim e vai continuar resistindo mesmo em meio a essa tentativa de assassinato do ensino público de qualidade", diz a estudante, que envia um recado a quem está estudando para conquistar uma vaga.
"A Uerj vale a pena! Está viva e conta com bons estudantes para continuar fazendo história nos quatro cantos deste país".