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Especialista considera que expansão do Santos Dumont aumentará perigo à população

Objetivo do projeto é aumentar o número de voos no aeroporto, localizado dentro do centro urbano

Por Anderson Madeira em 27/01/2022 às 23:48:04

Foto: Divulgação

O projeto de expansão do aeroporto Santos Dumont, no Centro do Rio, de autoria do Ministério de Infraestrutura, poderá trazer mais perigos para a população carioca, principalmente a do entorno. Essa é a análise do engenheiro José Augusto Valente, diretor da Divisão de Transportes e Logística do Clube de Engenharia e membro do Fórum de Mobilidade Urbana da Região Metropolitana do Rio. O objetivo do projeto é aumentar o número de voos no Santos Dumont, que é dentro do centro urbano.

“O primeiro grande ponto negativo é o seguinte: a rota de pouso no Santos Dumont passa por bairros altamente adensados da Zona Norte e da Zona Sul do Rio, é uma barulheira que o pessoal tem que encarar o dia inteiro. É óbvio que qualquer medida é de interesse da população, como é feito na Europa. Porém, em aeroportos da Europa como Congonhas, em São Paulo, e Santos Dumont, no Rio, eles estão sendo abandonados. Em Berlim, fizeram um novo aeroporto e o velho, eles transformaram em um museu, afastando os voos da área mais central. Na minha opinião, o Santos Dumont tinha que ser reduzido. Ou só para aviação executiva, com aviões pequenos ou virar outra coisa. Fazer um museu ou local de alto interesse turístico e acabar com o aeroporto”, sugere José Augusto. “Outro ponto: o 'inferno' que já é e vai aumentar na vida das pessoas que moram na rota de pouso do aeroporto. O plano de expansão do ministro Tarcísio é botar mais voos ainda. Há uma expectativa de botarem voos 24 horas no aeroporto”, critica.

Segundo o engenheiro, que foi secretário-executivo no Ministério dos Transportes do Governo Lula, a ideia do projeto do atual governo é fazer mais 300 metros de aterro para aumentar a pista. O que, para ele, tornaria o aeroporto ainda mais perigoso

“O Santos Dumont é um dos mais perigosos do Brasil e do mundo. Ele tem uma pista muito curta, onde o avião estiver chegando, ou na cabeceira ou na saída, é água: o mar. Aí o pessoal acha que com mais 300 metros faz ele ser menos perigoso. Quando a visibilidade fica ruim, fecha o aeroporto. Em muitos dias por ano, o Santos Dumont fica fechado a manhã inteira, obrigando os voos a irem para o Galeão. Basta cair um pouco a visibilidade. Ficará ainda mais perigoso, pois vai aumentar a quantidade de voos”, observa.

Valente defende que o Galeão é totalmente seguro.

“O aeroporto que é totalmente adequado para qualquer tipo de aeronave é o Galeão. As condições de segurança são totais. Mesmo aqueles problemas eventuais de ave voando e sugada pela turbina, é uma situação que acontece em vários lugares do mundo e não coloca em risco a vida dos passageiros. O projeto do governo federal deveria ser de aumentar as condições que atraíssem mais voos para o Galeão. Uma das coisas que atrairia mais seria restringir o Santos Dumont ou acabar com ele. O projeto de expansão do Santos Dumont tem como consequência o esvaziamento do Galeão, um dos maiores aeroportos do país. Não tem sentido nenhum isso”, aponta.

Para o diretor do Clube de Engenharia, a expansão do Santos Dumont agradaria mais à elite, por poder ir para o centro da cidade ou ir rapidamente para a Zona Sul.

“Qual a grande vantagem do Santos Dumont? Para uma parte da classe média alta. O avião pousa ali, normalmente as pessoas vão para o centro da cidade ter uma reunião de trabalho ou algo assim ou então vão para a Zona Sul ficar em um hotel ou algo do tipo. Para essas pessoas, o Santos Dumont é muito conveniente. O governo federal deveria implantar uma linha utilizando o veículo Maglev desenvolvido pela Coppe, que está na reta final para chegar na fase de prototipagem e produção industrial, para ligar o Galeão ao centro da cidade. Não vai ter trânsito no chão, porque o Maglev vem por cima. É silencioso e não gasta energia, é com base em levitação magnética”, recomenda Valente.

Maglev

É um veículo semelhante a um trem que transita numa linha elevada sobre o chão e é propulsionado pelas forças atrativas e repulsivas do magnetismo através do uso de supercondutores. Devido à falta de contato entre o veículo e a linha, a única fricção que há é entre o aparelho e o ar. Por isso, o veículo consegue atingir alta velocidade, com relativo baixo consumo de energia e pouco ruído.

Existe uma única linha comercial, o Transrapid de Xangai, na China, que faz o percurso de 30 quilômetros até o Aeroporto Internacional de Pudong em apenas oito minutos. Existem três tipos primários de tecnologia aplicada aos Maglev. Uma que é baseada em suspensão eletrodinâmica, outra baseada na reação controlada de eletroímãs (suspensão eletromagnética) e a mais recente e potencialmente mais econômica que usa ímãs permanentes (Inductrack). O Japão e a Alemanha são os países que mais tem pesquisado tal tecnologia, com diversos projetos apresentados.

No Brasil, há o projeto do Maglev Cobra, um trem de levitação desenvolvido na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) pela Coppe (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia) e pela Escola Politécnica através do LASUP (Laboratório de Aplicações de Supercondutores). O trem brasileiro, assim como o Maglev alemão, flutua sobre os trilhos, tendo atrito apenas com o ar durante seu deslocamento. Se baseia em levitação, movendo-se sem atrito com o solo através de um motor linear de primário curto. O custo de implantação é bem menor do que o do metrô, chegando a custar um terço deste modal. A velocidade normal de operação ocorre dentro de uma faixa entre 70 a 100km/h.

Reunião

No último dia 26, houve reunião do Grupo de Trabalho criado pelo Ministério da Infraestrutura para discutir alterações na modelagem da concessão do Santos Dumont. Ficou acertado que a Prefeitura do Rio poderá participar das reuniões com um representante, assim como o Governo do Estado, que só tem um assento. Os demais assentos são de associações locais. Também foi definido uma espécie de roteiro para os trabalhos das próximas semanas, após a decisão de não permitir que outras concessionárias de aeroportos participem dos debates, que têm o objetivo de tentar conciliar o desejo dos representantes fluminenses de criar uma coordenação do Santos Dumont com o Aeroporto Internacional do Galeão, com o modelo de liberdade de atuação das concessões aeroportuárias federais.

No primeiro dia, os debates técnicos ficaram em torno de questões de adequação da pista do Santos Dumont prevista no projeto de concessão. A obra prevê o uso de espaços onde hoje estão acessos rodoviários à Escola Naval, da Marinha. A Marinha pediu para ter um representante no grupo para discutir esse tema.

O projeto prevê um aumento da pista para essa área, o que os representantes do Rio acreditam que pode levar a outro problema, que é o licenciamento ambiental. O Santos Dumont está numa área tombada, onde sempre é complexo fazer intervenções. Está prevista uma nova reunião para o dia 2 de fevereiro. A ideia é avançar em outros pontos como a capacidade de pátio, do terminal e dos acessos ao terminal para a projeto proposto pelo governo, que pretende levar a mais de 14 milhões de passageiros ano a operação do Santos Dumont.

A licença prevê que o aeroporto tenha até 29 movimentos por hora, sendo seis para a aviação geral. O projeto do governo é levar esses movimentos para 30 por hora, mas sem a aviação geral. Pinho lembra, no entanto, que nos horários de pico da manhã e da tarde há permissão para apenas 14 movimentos por hora da aviação comercial.

A proposta mais que dobra o número de aviões nessas horas-picos, que passam em zonas sensíveis da cidade, causando muito ruído, o que não foi discutido com os moradores desses bairros que já reclamam da quantidade atual.

"Estamos tentando mostrar que não faz sentido fazer tantos investimentos no Santos Dumont tendo uma unidade ociosa como o Galeão a 15 quilômetros de distância", disse Delmo Pinho, ex-secretário estadual de Transportes. "Está tendo um clima de cooperação. Temos de ver que, para o acordo ser viável, cada um vai ter que ceder um pouco. Mas estamos percebendo um clima de cooperação".

Desde o início das discussões, a prefeitura, o governo do estado, a Firjan e a Assembleia Legislativa têm defendido restringir o aumento das operações no Santos Dumont para não esvaziar o Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão. O leilão de concessão do Santos Dumont está previsto para acontecer ainda no primeiro semestre.


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