"O óbvio precisa ser dito inúmeras vezes. Vagina tem e sempre terá cheiro de vagina", diz a médica ginecologista Mariana Viza, 33 anos, fundadora da Casa Irene Viza, local onde o atendimento é feito de maneira simples e humanizada. Segundo ela, o desafio de falar sobre temas ginecológicos ganha mais força quando o profissional se propõe a trazer informações de alto padrão científico com leveza e bom humor.
"Não deveria ser motivo de constrangimento para ninguém uma simples infecção que gera um cheiro característico", afirma Mariana. A médica contou que, durante os atendimentos, sempre ficava incomodada ao perceber que, por inúmeras vezes, as pacientes iniciavam suas consultas pedindo desculpas. Mariana, então, percebeu que precisaria falar mais sobre o assunto e levou o tema para suas redes sociais, onde tem uma fala simples e assertiva. O objetivo é diminuir o constrangimento das pessoas durante a consulta ginecológica e manter um canal de informações que possa ajudar na mudança de comportamento.
"Uma vagina saudável tem cheiro de vagina e uma vagina infectada pode ter um odor desagradável. É neste momento que mais se faz necessária uma consulta ginecológica. Ninguém pede desculpas ao otorrino por ter uma infecção no ouvido ou por ter uma amigdalite, que também têm cheiros característicos", brinca. Mariana acredita que é preciso insistir em falar o óbvio: "vagina, ouvido e boca possuem cheiros e secreções naturais característicos", observa. Segundo a ginecologista, pessoas de faixas etárias diferentes ainda sentem vergonha, medo e, por muitas vezes, não se sentem bem com o próprio cheiro. É um clássico na consulta: “desculpa doutora, não consegui tomar banho...” "desculpa doutora, não me depilei" "desculpa doutora, ainda estou com sangramento".
A ginecologista quer fazer valer a seguinte frase: “é proibido pedir desculpas!” Para a médica, o ideal é uma relação de confiança, sensibilidade e acolhimento. Mariana luta para oferecer mais acesso às informações básicas sobre anatomia genital, métodos anticoncepcionais, sexualidade e direitos reprodutivos para que pacientes realizem escolhas conscientes de forma leve. Segundo ela, é desnecessário o uso de sabonetes, perfumes e loções na tentativa de tirar o cheiro da vagina, além de ser uma prática prejudicial à saúde. "Todo mundo sabe quando pega uma máscara errada, não tem como confundir o cheiro da própria saliva. A vagina também tem o cheiro dela e esse odor não vai mudar. Não adianta lavar, não é sujeira!”, conclui a profissional.