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Intercâmbio é bom, mas e os gastos?

Conversamos com quem mais entende do assunto: os próprios intercambistas

Por Caroline Carvalho em 02/11/2018 às 14:52:18

Foto: Pixabay

Estudar em outro país é o sonho de muita gente. A Associação Brasileira de Agências de Intercâmbio (Belta), através da sua Pesquisa Selo Belta afirma que 302mil brasileiros estudam hoje no exterior. Mas, é preciso ficar atento aos gastos para não se complicar no país que optou para estudar. Como o perfil de quem vai para o exterior estudar está mudando, segundo a própria pesquisa, se manter no país enquanto cursa parte da graduação ou pós se torna cada dia mais imprescindível e é aí que as pessoas podem se complicar.

Antigamente o perfil de quem ia para o exterior era de adolescentes que faziam intercâmbio para aprimorar ou aprender um novo idioma. Hoje, os programas de mestrado e doutorado aparecem, de acordo com a Pesquisa, enter os 10 mais procurados, mesmo com a queda de investimento público em bolsas de estudo.

Foi o caso de duas intercambistas, xarás, Ana Carolina Rangel e Ana Carolina Reyes, cariocas que viram o intercâmbio como uma chance de se diferenciar no mercado.

A Rangel, graduada em Relações Públicas pela UERJ, fez intercâmbio na Argentina ainda na graduação, por conta de um convênio entre a faculdade e a Universidad de Buenos Aires, o que possibilitou auxílio financeiro e que foi fundamental para a escolha.

"A ideia sempre foi Madri, mas a universidade não tinha convênio para o curso na Espanha. A única chance de se candidatar ao intercâmbio era por meio de um sistema chamado "aluno visitante". Porém teria que arcar com todo o custo de manutenção no país. Diante da impossibilidade pesquisei as instituições que mantinham convênio com a UERJ e então decidi entre Argentina e Uruguai, sendo, por fim, admitida na UBA (Universidad de Buenos Aires). No período do intercâmbio recebi auxílio financeiro da universidade em que já tinha no Brasil (Bolsa Permanência). Esse valor ajudava no custeio das coisas básicas durante todo o período de estudo." relata Ana.

Situação parecida viveu nossa outra Ana Carolina, formada em Educação Física, que após se mudar para Recife com a família, teve a oportunidade de fazer intercâmbio pela Universidade Federal de Pernambuco, para Sevilha, na Espanha, e também contou com o convênio entre as faculdades. Mas lembra que na época, 2010, o custo de vida era mais barato na Europa.

"Em 2010 tive a oportunidade de fazer intercâmbio para Sevilha, Espanha. Não havia nenhuma ajuda financeira, a única coisa que eu não pagava era a faculdade por ter convénio com a UFPE. Aquela época era difícil em termos financeiros, mas lembro que o euro estava 2,5 para 1 e o custo de vida era bem mais barato que hoje. Meu pai me mandava 400,500 euros e eu ainda conseguia guardar para fazer umas viagens."

Alexandre Souto Maior, diretor da Agência Navegantes lembra que morar fora traz independência e segurança, mas que é sempre bom estar atento aos gastos e que por isso, a consultoria de uma agência pode ajudar quem está "perdido".

"A procura de um especialista (Agência específica de Intercâmbio) se faz necessária para que não dê nada errado. Os profissionais têm conhecimento de sobra que ajudarão no que for preciso para o futuro intercambista. Ir por conta própria e negociando diretamente com a universidade deve-se ter muito cuidado com a hospedagem, principalmente. O risco de dar errado é muito grande." - revela.

Nossas entrevistadas gostaram tanto da experiência que decidiram, após retornar ao Brasil que morar fora seria não uma opção, mas uma decisão. Nossa Relações Públicas decidiu que fixaria residência na Argentina, enquanto que Ana Reyes, buscou um mestrado em Educação Física na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. As duas tiveram que contar com a ajuda financeira da família pois mesmo com planejamento, arrumar emprego fora do nosso país nem sempre é tarefa fácil.

"Eu tinha um planejamento financeiro, porém só durou cerca de um mês e meio. Foi necessário recorrer a ajuda da família para seguir em Buenos Aires. Eu tive um prazo estipulado de 3 meses para conseguir uma fonte de renda ou teria que retornar ao Brasil. Comecei enviar currículo por páginas de emprego para vagas voltadas em que o requisito era principalmente o português, devido à fluência e a pouca quantidade de luso falantes (cenário esse que vem mudando a cada ano). Em menos de 3 meses consegui meu primeiro emprego de call center em uma empresa que prestava serviços para o Brasil. Assim me mantive por mais de 2 anos até que surgiu a oportunidade de partir para outra empresa, porém sempre com o português como base de trabalho."- revela Ana Rangel.

Ana Reyes ainda está estudando, agora sem o auxílio do governo brasileiro e desmistifica o paraíso europeu.

"Vim na cara e na coragem. Com relação às finanças, minha família que me sustenta aqui. Graças a Deus hoje temo uma condição um pouco melhor e por decisão deles, preferiram que eu me dedicasse só aos estudos. Em 2013 passei no doutorado e estou prestes a terminar. Com relação às bolsas, mestrado é quase impossível e na época que entrei pro Doutorado foi quando cortaram as verbas para bolsas, principalmente para Portugal, mas enfim.... está tudo correndo bem. Mas as pessoas têm uma falsa ilusão de "Europa" ou principalmente de Portugal. Portugal tem o pior salário da Europa (560 euros), os impostos aqui são bem altos, como no Brasil. E como virou moda está tudo bem caro por aqui, principalmente o mercado imobiliário. Aqui tem muito trabalho: café, bar, restaurante... essas coisas. Entretanto, emprego é bem difícil. Muitas pessoas já me procuraram perguntando sobre como é morar aqui. Sempre digo duas coisas: primeiro, tem nacionalidade europeia ou algum vínculo empregatício ou de estudo? Porque se não tiver, a coisa fica bem complicada. Provavelmente vai ficar ilegal no país e isso não vai ser bom. Segundo, se for vir sozinho e sem dinheiro algum, vai passar aperto porque o salário é muito baixo para se viver hoje por aqui." - explica Ana Reyes.

Alexandre alerta que para se manter no exterior é preciso tomar cuidados, pois nem sempre é possível estagiar ou trabalhar no país de destino e quem decide se aventurar pode acabar numa confusão.

"Na parte Cambial, deve ser observado o valor mínimo para entrada no país e dependendo do tempo, utilizar um cartão pré-pago para eventuais recebimentos de valores pelo intercambista, bem como a possibilidade de manutenção. O cartão tem um IOF alto (6,38%), caso o curso seja longo vale abrir uma conta no local e efetuar as remessas para a manutenção."- explica Alexandre.

Entretanto, mesmo com algumas dificuldades, ambas afirmam que a experiência vale a pena. E que amam morar onde estão agora.

"Em um contexto geral a experiência foi e continua sendo positiva. Sair da zona de conforto me fez abrir a menta e ampliar o horizonte." -finaliza Ana Rangel.

*A Pesquisa Selo Belta 2018 conta com o patrocínio da Extenda - Agência Comercial da Província de Andaluzia/Espanha e da Education New Zealand. Já o evento do lançamento da Pesquisa Selo Belta 2018 tem o patrocínio do Banco Nacional do Canadá, Shorelight Education, EC - English Centres e o ICEF - Connect Recruit Grow, além do apoio do Consulado Geral do Canadá e da CCBC - Câmara do Comércio Brasil-Canadá.

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