Na última segunda-feira (11), a Prefeitura do Rio desativou o Terminal Rodoviário Padre Henrique Otte, atrás da Rodoviária Novo Rio, no Santo Cristo, e vai deslocar os pontos finais das linhas dos ônibus para o futuro Terminal Gentileza, perto do Gasômetro, em São Cristóvão, a ser construído e que ficará pronto somente no final de 2023. Até lá, os ônibus ficarão em pontos na Avenida Francisco Bicalho, também nas imediações. Mas especialistas avaliam a mudança com reservas.
A mudança foi anunciada pela Prefeitura do Rio apenas na última quinta-feira (7) e pegou de surpresa muitos usuários dos ônibus do antigo terminal, que foram até lá e o viram vazio. Para orientar sobre as mudanças, foi instalado um painel eletrônico no local e há a presença de servidores da SMTR, nos horários de pico, de segunda a sexta. A frequência diária era de cerca de 14 mil passageiros.
Além disso, o Conselho Municipal de Transportes Rodoviários (CMTR) também não foi informado nem consultado. O professor Licínio Machado, representante do Fórum de Mobilidade Urbana no CMTR, não concordou com a forma que a mudança foi feita e pretende discutir o tema na reunião do Fórum, nessa quinta-feira (14), às 18 horas.
"Faz uma semana que venho criticando a forma que isso foi feito. O terminal vai ficar pronto no final do ano que vem. Total desrespeito com os usuários, que nem puderam expressar seu ponto de vista, pois o Conselho Municipal de Transportes não foi ouvido. Pena não termos a oportunidade de discutir isso no CMTR, pois esse direito está determinado nos artigos 14 e 15 da Lei Federal de Mobilidade. Vou propor rediscutir como ele está funcionando na próxima reunião do Conselho, na Secretaria Municipal de Transportes", conta Licínio, ressalvando não ser contra a mudança do terminal.
"Isso vai resolver a besteira que fizeram ao projetar um BRT que ninguém sabia por onde iria chegar na cidade. Ele começou indo até o Aeroporto Santos Dumont, depois Candelária, depois Uruguaiana, depois na Central e agora no Gasômetro. Uma bagunça total. Ainda tem a questão do BRT Intermunicipal que irá até a Central. O BRT inicial era até o aeroporto, depois veio encolhendo. Uma linha de ônibus para ligar a estação de trem de Deodoro com a estação da Central, com um pequeno detalhe: isso já está pronto. Haja dinheiro jogado fora", lamenta.
O engenheiro Marcelino Aurélio Vieira da Silva, professor do programa de Engenharia de Transportes da Coppe-UFRJ, também aprova amudança no terminal, mas que deve ser feita com muito planejamento.
"A questão da mudança dos ônibus precisa ter cuidado com a integração. Se a Prefeitura fez esta análise, levantou dados e concluiu da melhor forma, tudo bem, agora fazer um teste pode ser perigoso. Ali, é uma região de grande movimento, com isso precisamos planejar o sistema como um todo para funcionar da melhor forma. O novo local perto do Gasômetro eu infelizmente não conheço, mas de qualquer forma precisa oferecer uma acessibilidade adequada ao usuário. Se esses pontos foram levados em consideração, podemos ficar mais tranquilos", afirma.
Já Thatiana Murilo, presidente da ONG CaminhaRio, aprovou a mudança. "Se o novo terminal for bem instalado, acreditamos que a mudança será boa. A integração entre a Rodoviária e o Padre Henrique Otte sempre foi ruim. Por que ruim? Porque o passageiro não tem conforto nem segurança. Além das questões básicas que também são precárias, como acessibilidade, conforto térmico, boa sinalização, iluminação. Hoje, a integração com o VLT também é péssima. É mal sinalizado, você toma sol ou chuva ao sair da Rodoviária e ainda por cima precisa cruzar uma rua onde os carros costumam avançar o sinal. É um local inóspito, que não transmite segurança, muito menos pra quem desembarca com uma mala da Rodoviária", explica Thatiana.
"Sempre achamos péssimo que não tenha sido feita uma integração entre a Rodoviária e a estação Cidade Nova do metrô. A distância em linha reta entre um ponto e outro é de aproximadamente 1 km e seria de muita utilidade pra quem tem acesso ao metrô chegar à Rodoviária usando esse modal", acrescenta.
O novo terminal
Segundo a Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto (Cdurp), o motivo para a desativação é a venda do terreno, que havia sido desapropriado atrás da Rodoviária Novo Rio pelo Porto Maravilha, iniciado em 2009 na primeira gestão de Eduardo Paes (2009-2016). De acordo com a Cdurp, no entanto, nenhuma obra havia sido executada no local especifico onde ficava o terminal.
Agora, com a retomada das Parcerias Público Privadas (PPPs) com a Prefeitura, o local faz parte dos terrenos que estão na mira das construtoras que pretendem erguer condomínios residenciais no local. A Cdurp informou que o prazo para entrega do novo terminal está previsto para o último trimestre de 2023. O terreno onde o Terminal Padre Henrique Otte se localizava dará lugar a um empreendimento residencial, com cerca de dois mil apartamentos.
A Secretaria Municipal de Transportes informou que o novo terminal será o ponto de chegada do BRT à região central da cidade no antigo terreno do Gasômetro. Nomeado em homenagem ao Profeta Gentileza, o terminal integrará o sistema do BRT Transbrasil, linhas municipais alimentadoras e três linhas do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) – que será estendido em cerca de 700 metros a partir da Rodoviária Novo Rio.
Sem uso desde 2012, quando foi desativado por conta da expansão dos serviços de gás canalizado, o terreno do antigo Gasômetro de São Cristóvão começa a receber operários nos próximos dias. O projeto está orçado em cerca de R$ 250 milhões, segundo a Cdurp. A nova estação ocupará uma área de 25 mil m2. A estimativa é que, em operação plena, o terminal receba até 150 mil pessoas por dia.