A Baixada Fluminense é um espelho dos problemas da segurança pública do estado Rio de Janeiro: facções de tráfico de drogas, grupos de extermínio, milícias e crimes de rua compõem o mapa da violência armada, que também conta com ações e operações policiais com vítimas frequentes. A Baixada Fluminense concentrou 7.704 tiroteios de arma de fogo nos últimos seis anos, segundo dados do Instituto Fogo Cruzado. Deste número, 21% dos tiroteios ocorreram durante ações ou operações policiais.
Neste 30 de abril, data em que é celebrado o Dia da Baixada Fluminense, a região, que abriga 13 municípios, teve 3.685 baleados em seis anos: 2.315 mortos e 1.370 feridos. Entre os mortos, 344 foram vítimas das 91 chacinas ocorridas na Baixada, outra face triste da violência local. 58 das chacinas ocorreram durante ações/operações policiais.
O Dia da Baixada foi criado pela Lei Estadual 3.822, em maio de 2002. A data é uma homenagem à primeira ferrovia do Brasil, ligando a Estação de Guia de Pacobaíba (Estação Mauá) até Magé. A Estrada de Ferro, construída por Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, foi inaugurada em 30 de abril de 1854.
“A Baixada Fluminense é uma região de concentração de desigualdades, mantidas através da alta repressão policial e poucas políticas sociais de fato desenhadas para melhorar o dia a dia dos moradores. Essa situação se reflete no trágico número de chacinas na região”, explica Maria Isabel Couto, diretora de programas do Instituto Fogo Cruzado.
A violência na região tem o 31 de março de 2005 como a data mais triste. Neste dia, ocorreu a Chacina da Baixada, quando 29 pessoas foram mortas por policiais armados à paisana que percorriam de carro as cidades de Nova Iguaçu e Queimados e atiravam contra as pessoas que cruzavam o caminho. Essa chacina foi o caso com o maior número de vítimas da história do Rio de Janeiro. O motivo era a insatisfação com a linha-dura imposta nos batalhões. A troca do comando foi o estopim para a explosão de violência.
A violência armada dentro da política da Baixada tem Tenório Cavalcanti como figura principal. Radicado em Duque de Caxias e deputado federal na década de 50, Tenório era conhecido como o ‘Homem da Capa Preta’ e foi um dos ‘precursores’ da violência contra políticos na região, tendo seu nome associado a dezenas de mortes contra políticos na região.
Duque de Caxias, município hoje bem mais populoso do que na época de Tenório, segue como um lugar violento para fazer política. Em 2021, três vereadores do município foram mortos a tiros. Danilo do Mercado, morto junto com o filho, Joaquim José Quinzé e Sandro do Sindicato foram executados em um intervalo de sete meses.
Casos como o das primas Emily Victória Silva dos Santos, de 4 anos, e Rebecca Beatriz Rodrigues dos Santos, de 7 anos, que morreram vítimas de bala perdida quando brincavam na porta de casa perto das mães em Duque de Caxias, não foram exceções na região. Ao todo, 32 crianças, 73 adolescentes e 42 idosos foram vítimas da violência armada na Baixada Fluminense, provando que não somente quem está em cargos de poder são vítimas de arma de fogo na região, mas os mais vulneráveis também. Emily e Rebecca também são parte das 126 vítimas de balas perdidas na Baixada Fluminense. Ao todo, entre essas vítimas, 39 morreram e 87 ficaram feridas.
Baixada Fluminense: Região composta pelos municípios de Belford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaguaí, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, São João de Meriti e Seropédica.
Chacinas: Eventos onde há 3 ou mais mortos civis em uma mesma situação: chacinas – mesmo que o motivo dos disparos seja outro, como: assalto, ataque, operação etc (SSP de SP).
Entenda-se por políticos: (i) pessoas que estão em cargos eletivos; (ii) pessoas que já tiveram cargos eletivos; (iii) pessoas que já concorreram a cargos eletivos mas não ganharam; (iv) pré-candidatos e candidatos a cargos eletivos; (v) assessores ou pessoas que ocupam cargos de confiança de políticos eleitos; (vi) cabos eleitorais declarados.
O Unicef considera crianças com idade inferior a 12 anos.
O Unicef considera adolescentes com idade entre 12 anos e 18 anos incompletos.
O Estatuto do Idoso considera idosos com idade igual ou superior a 60 anos.
“Vítima de bala perdida”: a pessoa que não tinha nenhuma participação ou influência sobre o evento no qual houve disparo de arma de fogo, sendo, no entanto, atingida por projétil (ISP).