A chuva serviu de fundo para as cores e sons do jongo que abriu as atividades artísticas do evento Zumbi Vive promovido pelo Projeto Criolice no espaço do Viaduto Negrão de Lima, em Madureira em comemoração ao Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro.
O tempo ruim não intimidou dezenas de participantes que aproveitaram a entrada gratuita para conhecer o trabalho do Projeto Criolice. Além de samba e jongo, as atividades de empreendedorismo estavam representadas em barracas de vendas de produtos típicos da cultura afro-brasileira.
Um dos diretores do evento, Dayvison Gomes falou das dificuldades enfrentadas nesses oito anos do projeto. A falta de incentivos governamentais é vencida com muito trabalho:
“O Criolice é um movimento negro. É um grito de liberdade. Estamos sempre pedindo o apoio de todos. Aqui estão reunidos artesãos, empreendedores, microempresários, e damos uma pequena oportunidade para eles”, disse.
O evento possibilitou aos empreendedores um espaço para mostrar trabalho, sem preconceito. Negros, brancos, produziam e exibiam comidas, roupas e acessórios para as dezenas de pessoas que visitavam a festa. Dayvison destaca os resultados positivos da iniciativa:
“De um tempo para cá achávamos que não existia preconceito, mas sempre vai existir. Mesmo mascarado. A gente quer dar um ‘acorda’ nas pessoas. Estão aderindo à ideia do Criolice. É para mostrar um pouco o que o negro tem”, justificou.
Cultura ampla
Depois do jongo do grupo Afrolage, o evento prosseguiu com a Roda de Samba do Projeto Criolice, com vários convidados e a bateria do Império Serrano.
Apesar da grande aceitação, projetos como o Criolice enfrentam a falta de apoio governamental:
“A dificuldade é que não temos apoio ou incentivo do governo. Nem só a verba, mas o apoio é importante. É aquele apoio de dizer “estamos com você”, “tem um espaço” para você. Não é apenas o apoio financeiro. Trata-se de um incentivo para mostrar que temos um trabalho. A grande dificuldade é a falta de apoio do governo federal, do governo estadual e de município”, reclamou Dayvison.
O evento contou com a participação de produtores de comidas típicas afro-brasileiras, a tradicional feijoada, e produtos manuais. Entre deles, as peças da Turbante e Cia, um projeto das irmãs Simone e Mônica Carvalho. Renato Carvalho fala do trabalho das irmãs:
“Tudo começou a partir da novela “Salve Jorge”. Algumas personagens usavam turbantes e a ideia se propagou. A mulher que usa pela primeira vez acaba gostando”, disse.
Outro produto típico presente na festa é produzido por Salete e Lúcia - as batas masculinas com motivos africanos:
“Acho bem-vindo o projeto Criolice. O público aceita muito bem e já começa a virar uma moda”.
Dayvison explica que a decisão para tornar o evento gratuito teve o objetivo de divulgar mais a cultura afro-brasileira em um dia significativo.
“Nosso país é um país de negros, só que não se assume. Há uns seis anos, as pessoas não usavam cabelo Black, tinham vergonha de assumir o cabelo e botar um turbante. Hoje, até mulheres que, apesar de não terem cabelos ‘black’ assumem e querem botar turbantes para afirmar a cultura negra. É muito importante o que eu faço. O negro tem que se valorizar mais e acreditar mais no seu potencial”, concluiu.