No último dia 16, durante uma partida válida pelas quartas-de-final do torneio, o time da UFF jogava contra o da Atlética Unificada de Administração e Economia da PUC-RJ, quando uma jogadora deste time, em uma bola dividida com outra, do time da UFF, lhe dirigiu uma ofensa racial.
O time da UFF fez na página da equipe, no Facebook, um relato do episódio:
"No dia 16 de novembro, sexta-feira, durante partida das quartas de final de handball feminino, vencida por nós com larga vantagem, na quadra do Senai, contra as atléticas unificadas de Administração e Economia da Pontifícia Universidade Católica do RJ, após uma dividida de bola normal de jogo, a atleta e atual presidente da atlética do curso de Economia da PUC, agrediu verbalmente uma atleta da Economia UFF, sendo relatado pela arbitragem ofensa de cunho racial. O que foi dito não merece ser repetido. Imediatamente, o árbitro da partida expulsou a atleta e dirigiu-se até a mesa para registrar na súmula, relatando detalhadamente o ocorrido. A Atlética ADM/ECO PUC foi eliminada da competição por decisão unânime das 26 atléticas presentes no campeonato. As medidas legais cabíveis já estão sendo tomadas".
A Atlética de Economia da UFF registrou queixa na 95ª DP (Vassouras), local onde ocorreu o fato.
Em resposta à nota da Eco UFF, o time da PUC divulgou também uma nota, negando a ofensa racial:
"No último dia 16/11/2018 durante o jogo de handebol feminino entre Adm/Eco PUC e Eco UFF, no transcurso do 2º tempo, uma atleta da UFF cometeu falta grave atingindo com o seu dedo o olho de uma atleta da PUC, a qual sentindo-se agredida pela jogada desleal, revidou com um xingamento, sem, contudo, ter usado qualquer expressão de cunho racista.Naquele momento, após a marcação da falta, o árbitro apresentou cartão vermelho para a atleta da PUC, indicando com isto sua expulsão da quadra.
Após o incidente, o jogo prosseguiu e foi finalizado normalmente, sem que mais ninguém houvesse se manifestado. Encerrada a partida, a atleta da PUC foi comunicada de que havia também recebido o cartão azul, não compreendendo o time o que estaria acontecendo. Por essa razão, a equipe se dirigiu até a mesa de arbitragem para obter informações, tendo esta, esclarecido a ocorrência de um ato de racismo. Logo em seguida, após o árbitro conversar com a equipe da UFF, atletas desta última foram em direção à atleta da PUC iniciando insultos, acusando-a de racista, dentre outros xingamentos, culminando até mesmo em ameaças de agressão física.
Muito rapidamente, diferentes versões foram criadas e circularam entre grupos de WhatsApp, acusando a atleta da PUC de ato de racismo - que se repita, não ocorreu. Analisado o teor da Súmula, afirma-se que definitivamente não condiz com o que ocorreu.
Na plenária, a empresa responsável pela administração dos jogos deixou que as duas Atléticas relatassem suas versões e, por fim, sugeriu a eliminação do curso ADM/Eco PUC e as demais Atléticas acataram. Estes são os fatos, como ocorreram. Em momento algum, nenhuma atleta da PUC desferiu contra atletas da UFF palavras de cunho racista."
Em seguida, a equipe da UFF divulgou outra nota, criticando a posição do time da PUC:
"Esta foi a resposta da Atlética de Economia PUC-Rio à nossa nota. O texto, extremamente triste e preocupante, reforça a necessidade de luta pela causa e pelo ocorrido, além da urgência na conscientização da sociedade e dos alunos da universidade sobre o racismo. Desmerecendo todo o peso do ocorrido, a Atlética de Economia da PUC-Rio mostra seu desrespeito pelo esporte universitário e pelos seus iguais. Não passarão".
A postura do time da PUC recebeu críticas até de alunos da instituição na página desta no Facebook: "Parabéns pela coragem de postar tanta mentira. Esqueceram da existência da súmula? Haja coragem", postou uma internauta. "Eu tenho a honra de poder dizer aqui que a Atlética de Economia da PUC-Rio foi fundada por pessoas que em nada compactuam com o que foi escrito nessa "nota", o que deixa absolutamente claro que o problema não é a instituição, mas, sim, quem a comanda atualmente", postou um internauta. Uma outra internauta, que jogou a mesma partida pelo time da PUC, confirma a ofensa racial: "Que falta de caráter! Como atleta presente em quadra nesse jogo, sou prova que não houve sequer falta grave da atleta da Economia da UFF, tanto que não foi falta, nem 2 minutos. Isso é uma covardia. Defender o agressor e culpabilizar a vítima é um absurdo", disse.
Outras faculdades participantes da competição manifestaram repúdio ao episódio de racismo. "É inaceitável que o racismo ainda persista no comportamento dos jovens universitários e se manifeste de forma ainda maior na sociedade de maneira geral.Convocamos todas as atléticas universitárias, incluindo a nós mesmos, a fazer mais na luta por um esporte universitário mais igualitário e justo e no combate a quaisquer atitudes que contrariarem esse ideal", disse um trecho da nota da Associação Atlética Acadêmica da Faculdade Nacional de Direito.
A Atlética Direito Unirio (da Unirio), também se manifestou: "Nós da AAATF prestamos total solidariedade não apenas à atleta da UFF, que foi absurdamente agredida por esse ato verbal que dilacera mais do que muitas agressões físicas, mas, também, manifestamos total apoio e respeito à causa antirracista", disse um trecho da nota.
O advogado Humberto Adami, presidente da Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra do Estado do Rio e da Comissão da Verdade da Escravidão Negra do Conselho Federal da OAB, defende que o caso seja investigado.
"Deve ser aberta a investigação. A penalidade deve se dar no âmbito esportivo e criminal. É preciso dar repressão a este tipo de assunto. Não precisa necessariamente haver uma prisão. Pode ser uma penalidade diversa. A lei tem interpretações. A questão da injuria racial e a do racismo. Quando há ofensa à coletividade vai para racismo. Não tem fiança. Quando é injuria racial, é contra um negro específico. Pode haver fiança. Isso acaba gerando sensação de impunidade. É crime de menor poder ofensivo. É preciso haver repressão, mas, uma penalidade mais justa, para não encher ainda mais as cadeias", explica.
Procurada, a direção da PUC-Rio não se manifestou até o momento. A assessoria de imprensa da Polícia Civil confirmou o registro do crime na 95ª DP e confirmou que as alunas envolvidas poderão ser chamadas para prestar esclarecimentos.
Em junho deste ano, estudantes de Direito da PUC-Rio que integravam a torcida do time nos Jogos Jurídicos Estaduais, em Petrópolis, na Região Serrana, foram acusados de atirar cascas de banana contra um aluno negro da UFF. De acordo com a Liga Jurídica Estadual, responsável pelo evento, foram três episódios denunciados envolvendo alunos da instituição. Na ocasião, a Polícia Civil, contudo, concluiu que não houve ato racista no torneio.