Quando estava solto no Paraguai, o traficante Marcelo Fernando Pinheiro Veiga, o Marcelo Piloto, chegou a enviar de uma vez só um carregamento de 4,5 toneladas de maconha para o Rio. Detalhes da investigação, feita pela Polícia Federal, constam em processo que tramitou na 16ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio em 2015. A descoberta foi feita em uma escuta telefônica feita no dia 15 de junho daquele ano em que Piloto conversa com o comparsa Paulo Roberto, vulgo PLT. Na ocasião, há menção também a chegada de três fuzis, além de carregadores e munição.
Essa droga teria sido apreendida em pouco mais de um mês. Segundo os autos, no dia 22 de julho daquele ano, foram apreendidos 700 kg de maconha na Favela Bandeira Dois, em Del Castilho, na Zona Norte da capital, droga que foi enviada por Piloto.
Dias depois, no dia 28 de agosto, foi recolhido em um galpão utilizado pela quadrilha de Marcelo em Olaria, também na Zona Norte, mais 3,2 toneladas de maconha.
No período entre uma apreensão e outra, a polícia conseguiu interceptar também 229,6 kg de cocaína dentro de um veículo em Maria da Graça.
Piloto também vendeu uma metralhadora antiaérea ponto 50 para o traficante Ricardo Castro Chaves Lima, o Fu. O pagamento seria feito em dinheiro e com uma pick up no valor de R$ 120 mil. Como estava com dificuldades de pagar pelo armamento, Fu quis devolver a arma, mas Marcelo determinou que deixasse a metralhadora com ele.
O bando chegou a vender três fuzis para o traficante Bruninho BR, que comandava na época a venda de drogas na Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, na Zona Sul da capital.
De acordo com os autos, Piloto, que também era chamado de Mano ou Ferrari, era o chefe do grupo criminoso e durante o monitoramento foi identificado como a pessoa que sempre exerceu ´voz de comando. Era o responsável pela aquisição e pelo envio das drogas e armas negociadas para as comunidades dominadas pela facção criminosa Comando Vermelho (CV).
O traficante Leonardo Teixeira Cupolllo, vulgo Botafogo, era o responsável pela logística do recebimento, guarda e distribuição de armas e drogas enviadas por Piloto. Apurou-se, ainda que Botafogo ficava encarregado de repassar ao chefe toda a contabilidade dos valores obtidos com a venda de drogas e do montante das quantias depositadas em contas bancárias abertas em nome de ´laranjas´. Ele usava a expressão laptop para designar cocaína e a expressão verde, para designar maconha. Fuzil era caneta e crack era TV ou cavalo.
A quadrilha utilizava de uma rede de comunicação fechada, no sistema ´ponto a ponto´ (BlackBerry Messenger), que acreditavam ser indevassável, para implementarem a logística de envio, transporte, recebimento e distribuição de grandes carregamentos de drogas, armas de fogo e munições.
Uma escuta telefônica feita com autorização judicial mostrou uma conversa de Piloto com Barney em que o traficante debocha da polícia pelo fato de o Disque-Denúncia ter aumentado na época o valor da recompensa por sua captura para R$ 10 mil. "Passou na TV. Esses caras de amam. Não me esquecem". Mas tranquilo, estou acostumado, disse na época Piloto.
Marcelo Piloto foi expulso do Paraguai no início desta semana e voltou ao Brasil. O fato aconteceu depois que o traficante foi acusado de matar uma jovem de 18 anos dentro da cadeia, em Assunção, no país vizinho. Piloto chegou a dizer que recebia proteção policial. Dentro da sua cela, possuía um telefone celular com internet e cinco chips diferentes. Ele está no penitenciária federal de segurança máxima de Catanduvas (PR)