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Henrique Morelenbaum: maestro, parceiro e amigo

Admiradores do musicista, falecido anteontem (22), comentam a importância de sua obra na música de concerto, dentro e fora do Brasil

Por Daniel Israel em 24/07/2022 às 23:05:27

Aluno-emérito do Colégio Pedro II, Henrique Morelenbaum é uma referência musical e como humanista. Imagem: Reprodução/YouTube

A morte do maestro Henrique Morelenbaum, na última sexta-feira (22), continua a repercutir entre colegas de profissão e admiradores, fato que se deve à excelência de sua obra. Também reconhecido como violinista, o musicista foi o primeiro diretor artístico da Sala Cecília Meireles. Inaugurada em 1 de dezembro de 1965 - um ano após a poetisa escrever a última estrofe de sua vida -, hoje é saudado por quem aprendeu diretamente com ele e agora ocupa o mesmo posto.

"Fui aluno de Henrique Morelenbaum na Graduação e Mestrado da Escola de Música da UFRJ. Teria muito a escrever sobre sua importante atuação como maestro e gestor no Brasil e exterior, mas foi na convivência de anos que testemunhei como o grande artista coincidia com o grande ser humano. Morelenbaum encarnou o papel de Mestre da maneira mais profunda, abrangente e responsável", destaca o compositor e regente João Guilherme Ripper.

De família judia, nasceu em 5 de setembro de 1931, em Lagów, no extremo-oeste da Polônia. Quase na fronteira com a Alemanha e mais perto de Berlim do que da capital Varsóvia, distante 432 quilômetros. Aos três anos, dois após Adolf Hitler ser nomeado primeiro-ministro no país vizinho, ele e a família desembarcaram no Brasil, onde o maestro cursou violino, viola, regência e composição na Escola de Música da UFRJ. Em 1987, reassumiu a direção da Sala Cecília Meireles por quatro anos, período de reformas estruturais e durante o qual foi construído o Espaço Guiomar Novaes.

Assessor de Programação da Diretoria Artística do Theatro Municipal (TMRJ), Eduardo Pereira comenta a relação do professor e artista com a instituição, que a exemplo da Sala é gerida pelo Governo do Rio de Janeiro.

"Estudou com Paulina d'Ambrósio, era doutor em música e professor pela mesma universidade. O início de sua carreira como regente ocorreu casualmente em 1959, num espetáculo de balé onde Margot Fonteyn era a artista principal. Morelenbaum assumiu a batuta em virtude de um impedimento repentino do regente programado. A ligação do maestro Morelenbaum com o Theatro Municipal e especialmente com a Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal (OSTM) foi tão grande, que coincidentemente o dia de seu nascimento foi o mesmo do primeiro concerto da OSTM regida por Francisco Braga", conta.

Antes um armazém que vendia comida, o imóvel foi adquirido pelo então Estado da Guanabara e transformado em uma das principais salas de concerto do Brasil, em 1965. Foto: Divulgação

Compositor e maestro da Escola de Música do Colégio Pedro II (CPII), Ricardo Szpilman rege o Rancho Praça Onze Klezmer Carioca, orquestra popular que toca músicas judaicas com arranjos típicos do cancioneiro brasileiro, sobretudo samba. "Em 2015, fizemos uma entrevista com ele no Pedro II, onde é aluno-emérito, e na entrevista diz o quanto aprendeu com Dona Elza, professora de música do campus Centro", relata. Para ler a entrevista na íntegra, da qual também participou a coordenadora de Educação Musical da escola, Inês Rocha, clique aqui (parte 1) e aqui (parte 2).

Professor do CPII, Szpilman se emociona quando recorda da proximidade com Henrique Morelenbaum. Como músico e além, como amigo e parceiro de seus antepassados.

"Foi uma das pessoas mais incríveis que eu tive a oportunidade de conhecer. Ele se tornou um grande violinista, depois um grande maestro, sempre foi um grande professor pelo que eu vi. Sou de uma família de músicos, meu avô e meus tios-avós tocaram muito com o Morelenbaum, gravaram um disco chamado 'Violinos de Varsóvia'", lembra-se.

Fora do país que o acolheu na primeira infância, onde ocupava a cadeira 16 da Academia Brasileira de Música, Morelenbaum também regeu orquestras, inclusive na sua terra-natal. Em 1973, foi convidado a participar da temporada de balé da Ópera de Paris. Para o coordenador da Rádio MEC FM - "a rádio de música clássica do Brasil" -, Thiago Regotto, "é um grande nome que se vai". "A rádio homenageou-o ao longo do dia, tocando o que tem no acervo, falando sobre a trajetória dele", pontua.

Ripper concorda e cita, ainda, o tratamento tão humanista quanto rigoroso que o mestre oferecia a seus pupilos.

"Ensinou contraponto, fuga, orquestração, técnicas de composição, mas nunca deixou que se apagasse em nós a individualidade e as ideias próprias. Insistia na frequência a ensaios e concertos; dava grande importância à formação humanística do compositor. Através de suas "parábolas" (quem estudou ou tocou com ele, deve lembrar da história do menino que conseguiu levantar o touro), nos ensinava o dever de ofício, a prática diária da criação musical e a responsabilidade que o músico precisa ter com o exercício de sua arte", enumera. "Morelenbaum formou duas gerações de compositores, muitos de nós ainda ativos no meio musical. Teve sua bela trajetória como regente ligada ao Theatro Municipal".

Gravação em vinil pode ser encontrada à venda na internet. Imagem: Divulgação

Nas últimas semanas, o Theatro Municipal recebeu algumas sessões da ópera "Don Giovanni", de Mozart, que não era apresentada nesse palco há 31 anos, desde 1991. "A récita de hoje [anteontem] será [foi] dedicada à memória deste artista e homem que fez de sua vida e de sua carreira um exemplo para todos desta casa", diz o diretor da instituição.

Naquela ocasião, o maestro tinha sido Saul Herz Morelenbaum. Ou, como se tornou reconhecido, Henrique Morelenbaum.

Assista, no vídeo abaixo, ao comentário do compositor e maestro e professor de música do Colégio Pedro II, Ricardo Szpilman.


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