Beatriz Rodrigues Lucas da Silva, de 22 anos, não estuda atualmente e nem está trabalhando. Bia, como ela gosta de ser chamada, está inserida no grupo classificado como "nem-nem". Ou seja, jovens brasileiros, com idade entre 15 e 24 anos, que não estudam e nem trabalham. O Brasil é um dos países da América Latina com um dos maiores índices percentuais - 23% - de pessoas nessa faixa etária que não estão na escola e nem estão á procura de emprego.
O país só perde para El Salvador (24%) e para o México (25%). O estudo foi realizado este ano pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e cujos resultados foram divulgados nesta terça-feira (04).
Bia concluiu o ensino médio há dois anos e parou de procurar emprego há pouco menos de um ano quando engravidou. Mas se engana quem acha que a jovem não almeja algo melhor para a sua vida. Após o nascimento do filho, Bia pensa em especializar-se em massoterapia e, paralelamente a isso, arrumar um emprego para ajudar o marido nas despesas de casa.
"Eu quero, sim, voltar a estudar e trabalhar. Só parei de procurar emprego porque ninguém quer contratar uma grávida que se encontra no sétimo mês de gestação", disse, esperançosa, Bia.
O relato da jovem Bia representa quase que fielmente as conclusões que chegaram os pesquisadores do Ipea, após entrevistarem 1.488 jovens da cidade de Recife, em Pernambuco, no período de abril e maio deste ano. Segundo a economista Joana Simões de Melo Costa, uma das coordenadoras do estudo, a maioria dos jovens brasileiros que não trabalham e não estudam não está nessa situação por opção própria e sim por razões diversas que incluem, em outras causas, a falta de políticas públicas e problemas com habilidades cognitivas e socioemocionais.
"O grupo dos jovens classificados como "nem-nem" no Brasil é formado, na nua maioria, por mulheres e pessoas de baixa renda. E eles têm, sim, vontade de estudar e o desejo de melhorar de vida, mas se esbarram em problemas como dificuldade financeira, inexperiência e falta de qualificação profissional", analisou Joana Costa.
O estudo recebeu o nome de "Millennials na América Latina e no Caribe: Trabalhar ou Estudar". Ele foi organizado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e pelo Centro de Pesquisa para o Desenvolvimento Internacional (IDRC, sigla em inglês), uma instituição canadense. Além do Brasil, Chile, Colômbia, El Salvador Haiti, México e Paraguai também realizaram a pesquisas com os jovens dos seus respectivos países.
A pesquisa realizada pelo Ipea no Brasil também apontou que 49% dos entrevistados se dedicam exclusivamente ao estudo, 15% deles trabalham e estudam simultaneamente e 13% dos jovens só trabalham.