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Exclusivo: casal de 95 e 84 anos vota, mesmo sem obrigação, e reafirma crença na democracia

Heitor e Maria Vieira lembram de amigos perseguidos na ditadura militar e sumiço de conhecidos, mesmo sem militância política

Por Portal Eu, Rio! em 16/09/2022 às 06:26:48

Heitor e Maria: cidadania. Foto: Anderson Madeira

O casal de aposentados Heitor Moita Vieira, de 95 anos, e Maria Moreno Pereira Vieira, 84, morador do bairro do Andaraí, na Zona Norte do Rio, nem precisaria sair de casa para ir votar nas eleições deste ano. Mesmo assim, exercerá o direito democrático para escolher o próximo presidente, governador, senador, deputado federal e estadual. Antes de escolher o candidato, eles pesquisam o que o político fez de bom (o que todos os eleitores deveriam fazer). Heitor e Maria acreditam na democracia brasileira e fazem questão de participar dela.

“Vou votar porque é um direito que nos assiste e um dever também. Se ninguém votasse, não haveria nem democracia, nem eleição. Então, precisamos colaborar”, ressaltou Heitor, comerciante aposentado. “Já moramos em Santa Teresa, num local de difícil acesso e, mesmo assim, comparecíamos às urnas”, disse.

“Votar faz parte da vida da gente, assim como comer, descansar... tudo na vida é importante”, conta Heitor. "A gente vota no candidato para trabalhar, não adivinhamos o que ele vai fazer. Esperamos que ele faça o melhor. Normalmente pesquisamos a vida do político antes de ir votar. Não acredito muito em propaganda eleitoral. Para mim, é comércio e não funciona. Vemos o que o candidato já fez de bom. A gente percebe, acompanha e toma conhecimento”, explicou o aposentado, garantindo que nunca anulou o voto. “Votar nulo é falta de conhecimento!”, opina.

O casal assiste ao horário eleitoral gratuito, onde vê os nomes do candidatos. “É um comércio, né? Após ver os candidatos, procuramos saber sobre eles. Uma coisa curiosa é que a gente não se decepciona, porque esquece em quem votou”, admite Heitor. “Eu sei que não votei em Bolsonaro”, conta Maria. O casal também não confia muito nas pesquisas eleitorais. “Mais ou menos. Não damos muita confiança. Podem ser manipuladas. Não tem ninguém para conferir”, disse.

A respeito de vários idosos que não querem mais saber de votar, após atingir a idade de 70 anos, Heitor afirma: “cada um pensa de um jeito. Acho que política e eleições são para ser acompanhados. Ah, eu não vou votar porque o meu candidato se decepcionou. Ora, tem outro!’, ressalta.

Heitor não se considera politizado, mas Maria sempre se interessou por política. “Desde que voltou o voto, eu sempre tive vontade. Eu gosto de política e tenho o meu partido. ‘A gente acompanha mais ou menos o que o eleito faz”, afirmou Maria.

Heitor tem duas filhas dos casamentos anteriores e três netos. “Uma neta nossa vai nos dar um bisneto. Eu quero escolher ótimos candidatos para o meu bisneto ter uma vida melhor e um futuro melhor. Eu nunca vou deixar de exercer a minha cidadania”, diz Maria.

Contudo, os dois evitam conversar sobre política na família. “Nós não temos quase nenhum relacionamento com a família em matéria de política”, disse Heitor. “Com a minha neta de 30 anos, nós temos. Nós somos do mesmo lado”, disse Maria. A neta em questão, grávida de um filho, trabalha na Petrobras como engenheira marítima e oceânica. “Eu não passei nada de política para os meus enteados”, explicou Maria, que é costureira aposentada.

Eles não sentem a menor saudade da ditadura militar que comandou o país por 21 anos. “Estamos melhor do que antigamente. Antes era prisão. Não faz isso, não faz aquilo. Hoje se tem mais liberdade. Estou satisfeito com a democracia” disse Heitor. “Durante o regime militar, eu não sabia de nada que acontecia. Depois que veio a redemocratização, comecei a entender alguma coisa. Eu só ouvia falar que sumiu alguém, mas não sabia por que”, contou Maria.

Eles reconhecem a importância da redemocratização do país, a partir de 1985. “Eu gostei que voltasse a democracia e sempre lutei para ajudar. Tenho uns parentes em Fortaleza que são profundamente democráticos. Eu sempre acompanhei os pensamentos deles lá. Tive um amigo perseguido pela ditadura. Não foi preso porque ele não era muito bom da cabeça. Ele ia andando assim na rua com a machadinha na mão. Aí pegaram e levaram para a polícia. Foi um sofrimento para a gente. A irmã dele, que era minha amiga, sofreu muito. Ele não sabia o que estava fazendo. O pessoal perguntou porque ele estava com a machadinha e ele disse que era para capar um coelho. A irmã era amiga de um desembargador e conseguiu a soltura dele. Foi antes de 1972. Amigos da gente, de lá onde eu trabalhava, estudantes, foi muita gente presa... Sumiram e nunca mais apareceram! A pessoa que morava com ela não passava esses medos para a gente. A gente não tinha muito medo porque não sabia tudo. Depois que vim para o Rio, eu passei a conhecer bem”, relata Maria.








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