Projeto cria galeria de arte urbana a céu aberto na Ladeira da Glória

Com curadoria da museóloga Mariana Varzea, criadora do site Ó Glória! (www.ogloria.art.br), o projeto CAMINHO ANCESTRAL DA GLÓRIA (www.caminhoancestral.ogloria.art.br) criou um espaço cultural de arte urbana na Ladeira da Glória. Trata-se de uma verdadeira galeria de arte a céu aberto, retratando por meio de diferentes linguagens visuais o patrimônio cultural material e imaterial do bairro. Tanto quanto valorizar mais ainda a vocação da Glória para a arte, o patrimônio e o turismo, o mural resgata as matrizes indígenas e africanas, misturando o passado ancestral do bairro com o tempo contemporâneo da cidade. A inauguração foi hoje, quinta-feira (22).

A intervenção artística ocupa 300m2 de muro na Ladeira da Glória, e resulta numa obra de arte inédita, criada por um conjunto de artistas de diferentes linguagens. São eles: Mana Bernardes, Antonio Ton e Anapuaka Tupinambá, além do fotógrafo Cesar Duarte e do antropólogo e fotógrafo Milton Guran.

O projeto CAMINHO ANCESTRAL é uma criação da empresa cultural Inspirações Ilimitadas e tem os apoios do Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria Estadual de Cultura e Economia Criativa, por meio do edital Rua Cultural 2002, da Escola Superior de Propaganda e Marketing / ESPM e da Casa da Glória. O edital #ruacultural, da Secretaria Estadual de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro, tem como objetivo incentivar a cultura urbana, o turismo cultural e a economia criativa. De acordo com a Curadora Mariana Varzea, o mural multilinguagem

CAMINHO ANCESTRAL DA GLÓRIA conjuga as diferentes técnicas dos artistas envolvidos para recontar a potência cultural da Glória, realinhando a história do bairro, que foi berço da civilização cultural carioca, com a sua matriz indígena tupinambá. O resultado é uma obra de arte pública contemporânea e única, com alto impacto visual e sonoro, que se torna um atrativo para a região, dialogando com os demais bens culturais do bairro e da cidade. O público também poderá acessar mais informações sobre a obra, os artistas, a trilha sonora e a história da região por meio do QRCode no mural e da página www.caminnhoancestral.ogloria.art.br

O artista Antonio Ton foi escolhido criou um mural com referências a essas várias camadas históricas. Já a artista Mana Bernardes fez um poema inédito e o registrou com sua linguagem manuscrita sobre o mural, enquanto o radialista indígena Anapuaka Tupinambá, criador da primeira rádio indígena do Brasil – a rádio Yandê – é responsável pela composição sonora inédita para a obra. Somam-se a estas intervenções as fotografias em grande formato do antropólogo Milton Guran e do fotógrafo Cesar Duarte. O projeto conta também com a participação, como convidado, do designer Jair de Souza, que trabalhou na unidade visual da obra. Jair é integrante do coletivo Rio Tupinambá Karioka, que atua pelo reconhecimento da matriz indígena na região da Glória.

Antecedentes

A Inspirações Ilimitadas lançou, em março de 2021, o site www.ogloria.art.br, sobre o patrimônio cultural, histórico e arquitetônico do bairro da Glória. O site conta detalhes da presença indígena na região por mil anos antes da chegada dos europeus por essas terras. Na região da Glória estava localizada a principal aldeia dos tupinambás, a Karioka, que deu nome ao rio que corta a região e ao gentílico dos que nascem na cidade do Rio de Janeiro. E foi no morro da Glória (na época chamado de Uruçumirim, que, na língua tupi, significa abelha pequena, que os tupinambás ergueram uma paliçada para defesa, junto com os franceses, da iminente invasão dos portugueses liderados por Estácio de Sá, que estavam acampados no sopé do Morro Cara de Cão desde 1565.

Acredita-se que a atual LADEIRA DA GLÓRIA tenha sido originalmente uma trilha aberta pelos indígenas para acesso à paliçada. A Batalha de Uruçumirim em 1567, ocorrida no morro da Glória, marca não só a conquista definitiva dos portugueses sobre o território carioca, como também o inicio da dizimação das populações indígenas. Mas a história da Ladeira e do bairro não para aí. Nesse lugar é que foi erguida a Igreja da Glória, uma das joias arquitetônicas do Rio de Janeiro.

NDurante séculos, nas festividades da igreja, os cariocas se encontravam. Participavam das confraternizações desde os membros da família imperial até os grupos sociais das mais diferentes matrizes culturais. Foi ali na Ladeira da Glória que Hermínio Belo de Carvalho ouviu pela primeira vez Clementina de Jesus cantar, quando ela justamente descia de uma destas festividades. A história do bairro da Glória se confunde com a história do Rio e do Brasil.

Através do bairro, é possível recontar várias de essas origens como do paisagismo e da arquitetura brasileira, da abolição da escravatura e do samba, do museu e do parque, formando um tecido cultural com infinitas conexões. Hoje, a ladeira da Glória faz parte de um circuito turístico nacional e internacional, e esse mural será uma forma de recontar essa história de maneira monumental, lúdica e singular. A ladeira é um caminho ancestral da memória social, cultural e urbana do Rio de Janeiro e do Brasil, um verdadeiro território Uruçumirim.