A bacharel em Direito C.C.O.A, de 35 anos, conversava com amigos sobre política na academia onde malha, no bairro de Ramos, na Zona Norte do Rio, na última sexta-feira (14), quando foi xingada e agredida a socos por um rapaz que não fazia parte da roda e a ouviu defendendo o voto no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Com hematomas no corpo, ela foi levada ao Hospital Estadual Getúlio Vargas. O caso foi registrado na 21ª DP (Bonsucesso) e encaminhado, na última segunda-feira (24) à Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam).
“O ocorrido foi na academia, onde eu malho já há oito anos. Conheço quase todas as pessoas lá. Sempre converso com todo mundo e respeito a todos. A academia fica próxima à minha casa. Então, eu conversava com alguns amigos a respeito de política, de forma saudável, descontraída. Alguns amigos são bolsonaristas e eu sou petista, mas eu respeito a todos. Foi quando eu me dirigi a outro setor da academia, onde estava o meu agressor e o personal trainer dele, que eu conheço já alguns anos, o Fábio. Fui e brinquei com o Fábio: “Pô , você também votou no Bolsonaro, Fábio?”. Aí ele riu e falou: “Não, eu votei na Simone”. E perguntei: “E agora no segundo turno?” “Eu vou votar nulo”. Eu falei pra ele: “Pô, não deixa de votar não”. “Quem não vota é governado por quem vota né?”. “A gente tem que exercer a cidadania, a democracia, né?”, conta a bacharel.
Nesse momento, segundo ela, o rapaz, identificado como Ariel Barbosa, se intrometeu na conversa.
“Eu não tenho nenhum tipo de ligação com ele. Nunca falei com ele, conheço de vista na academia. E ele começou a me ofender com palavras, ofender o meu partido. Ele bateu no peito e falou que é empresário e empresário não vota no Lula não. Que eu sou uma morta de fome. Me chamou de bafuda. Disse: 'vai escovar o dente para falar comigo'. A academia cheia, me humilhou, me constrangeu. E falou que não era para eu desfilar perto dele nem encostar nele, que ele ia me arrebentar. Aí o personal dele tentou me segurar, me acalmar. Algumas pessoas estavam na academia, tentaram segurar ele também. Segundo o personal trainer dele, é uma pessoa perigosa, que anda armado. Mesmo assim, ele conseguiu me atingir. Ele desferiu um soco no meu olho direito que deformou meu rosto na hora. Fiquei com hematomas. O outro soco foi na boca, perto do maxilar, onde tive uma fratura. Estou com um machucado por dentro também. No segundo golpe, eu caí de cara no chão, ensanguentada. Levantei cambaleando e lesionei o joelho também, além de ter machucado o cotovelo”, relata.
Em seguida, de acordo com a vítima, Ariel teria saído da academia com a namorada dele, em direção à 21ª DP, acompanhado de segurança.
“Levou o segurança para a delegacia, acredito eu com a intenção de nos intimidar. Logo em seguida, cheguei na delegacia, ele já estava lá. Eu recebi orientação do policial de ir no hospital primeiro, para pegar a numeração do BAN. Fui atendida no Getúlio Vargas, ouvida por uma assistente social, pela psicóloga e medicada. Levei um ponto. De lá, fui para a DEAM, Delegacia Especial de Atendimento à Mulher, do Centro. Fui encaminhada ao IML, onde fiz o exame de corpo de delito. Fiz a denúncia no Ministério Público, na Ouvidoria da Mulher e estive com a Comissão de Direitos Humanos da OAB. Solicitei que um membro da Ordem me acompanhasse até o Fórum de Olaria, que é próximo do crime, minha localidade, onde eu moro, com a intenção de fazer um pedido de medida protetiva de urgência. Eu temo pela minha integridade física, pela minha segurança, da minha família, porque ele é uma pessoa perigosa, envolvido com coisas erradas, anda armado. Eu não sei o que pode acontecer. Eu soube que ele é faixa preta de luta livre e usou disso para me agredir como se tivesse batendo num homem. Estou com o lado direito do meu rosto dormente’, lamenta.
“Eu estou indignada, muito revoltada, além de minha família toda e meus amigos. Ele veio até mim com muito ódio, uma pessoa com quem eu nunca falei, sabe, pelo simples fato de eu ser petista. Eu nem estava falando com ele, mas se meteu na conversa, mesmo eu conversando sobre política com os meus amigos. Gosto de falar sobre o assunto, mas de forma saudável. Sei que essas coisas não se discutem, política, religião, time, mas estávamos conversando quando ele se envolveu na conversa para me ofender. Quando estive na delegacia eram 3 horas da manhã, o policial devia estar sonolento e não colocou nem metade do que eu falei. Aí retornei na segunda-feira para completar o registro de ocorrência”, disse a jovem, que é pós-graduada em Direito Penal e Processual.
Segundo a Secretaria de Estado da Polícia Civil, o caso é investigado pela Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) do Centro e segue sob sigilo. Também procurado, o empresário Ariel Barbosa não se pronunciou até o momento. O espaço continua aberto.