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Manifestantes bolsonaristas param ônibus com estudantes da UFRJ em Barra Mansa

Os alunos seguiam para um trabalho de campo de Estratigrafia no município de Uberaba, em Minas Gerais

Por Anderson Madeira em 01/11/2022 às 20:45:10

Estudantes da UFRJ ficaram retidos por manifestantes. Fotos: Divulgação

Um grupo de alunos e professores do curso de Geologia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), denunciaram que tiveram o ônibus em que estavam, na cidade de Barra Mansa, no Sul Fluminense, barrado em um bloqueio de manifestantes bolsonaristas, na última segunda-feira (31). Eles seguiam para um trabalho de campo de Estratigrafia no município de Uberaba, em Minas Gerais.


Segundo relatos dos estudantes, quando os manifestantes viram o símbolo da UFRJ no ônibus e constataram que os passageiros eram estudantes, bloquearam a passagem e hostilizaram os alunos.

“Hoje nós iríamos viajar a campo para Minas Gerais. A gente está desde 10 horas sem conseguir sair. Quando a gente começou a passar a barreira, pararam o ônibus da UFRJ, uma multidão de bolsonaristas não deixou a gente passar, eles deixaram outros ônibus passarem. Deixaram um carro passar, mas não deixaram a gente passar. A gente se sentiu intimidado a todo momento. Xingaram a gente e começaram a filmar. A gente teve que sair do ônibus, atravessar a pista, onde havia uma churrascaria ali próxima e agora a gente está andando muito, essa hora da noite, procurando um lugar para ficar. A gente anda pela cidade e passa gente provocando, gente nos olhando, gente rindo, perguntando se a gente votou no Lula. A coisa não está legal, não está bonita. Nós não estamos nos sentindo seguros e nós vamos passar a noite em algum lugar dessa cidade com medo. É assim que nós estamos finalizando o nosso dia hoje, um dia que era para ser legal, era para a gente chegar em Minas e nos prepararmos para o campo de amanhã. Nós tivemos que sair só com documento, mochila e celular. A gente deixou mala com roupa de campo, bota, tudo no ônibus. A gente está com medo deles tacarem fogo no ônibus”, disse uma aluna, que preferiu não ser identificada.

No ônibus havia quatro professores e mais de 30 alunos.

“Eles começaram a cercar o ônibus, passavam filmando, depois um homem começou a circular carregando um pau com uma bandeira, e fomos sentindo que o clima estava muito ruim”, contou um estudante que pediu para não ser identificado. Segundo ele, os professores que conduziam o trabalho de campo desceram do ônibus e tentaram negociar a passagem do veículo com os manifestantes e policiais, sem sucesso. Decidiram, então, retirar os estudantes do ônibus e levá-los para um hotel em segurança, até que a liberação fosse conseguida.

“Os professores organizaram grupos para irem caminhando até um hotel. A gente deve ter caminhando uns seis ou sete quilômetros e, durante todo o trajeto, ia ouvindo gente gritar 'Bolsonaro' para tentar hostilizar a gente”, conta o estudante.


O diretor do Instituto de Geociências da UFRJ, Edson Farias Mello, informou que o departamento já sabe dos fatos e está intervindo na situação juntamente com a reitoria da universidade. A instituição divulgou nota e lamentou a atuação da Polícia Rodoviária Fedeal, que não se esforçou pela liberação dos estudantes para que eles continuassem a viagem.

"Nesta segunda-feira, 31/10, um ônibus e uma van que levavam cerca de três docentes, 30 estudantes do Instituto de Geociências da UFRJ e quatro motoristas foram bloqueados e obrigados a permanecer retidos na Rodovia Presidente Dutra, em Barra Mansa (RJ). Os veículos transportavam o grupo para um trabalho de campo com destino a Uberaba (MG). Eles foram interceptados por caminhoneiros manifestantes apoiadores do candidato derrotado, que se posicionam contra o resultado das eleições presidenciais realizadas no último domingo, 30/10.

Para minimizar a obstaculização e proteger a vida do grupo, os professores orientaram os estudantes a se dividirem em grupos e se encaminharem até o hotel mais próximo, portando apenas as roupas do corpo e documentos. Durante o caminho, os estudantes foram xingados, filmados, ameaçados e hostilizados pelos manifestantes, que impediram o direito constitucional de ir e vir.

A Reitoria repudia veementemente o bloqueio e a hostilização protagonizados pelos manifestantes que impossibilitaram os estudantes de prosseguir viagem de pesquisa acadêmica. Além disso, nos solidarizamos com cada discente, docente, motorista e seus familiares. Além dos sucessivos bloqueios orçamentários que a UFRJ atravessou por todo o ano de 2022 levando a um estado de penúria financeira, ter, agora, que encarar bloqueios terrestres que impedem o livre tráfego para produzir pesquisas é surpreendente para uma instituição centenária como a UFRJ.

A Reitoria da UFRJ lamenta, ainda, a postura da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que, para não criar conflito com os caminhoneiros manifestantes, não se esmerou inicialmente para que a comunidade acadêmica da UFRJ ali representada pudesse ter o direito a estudar e prosseguisse com sua viagem de trabalho de campo.

Caso os estudantes e professores não sejam liberados até hoje, 1º/11, a reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho, irá pessoalmente ao local do bloqueio para diálogo e intercessão junto à PRF para que haja liberação pacífica e imediata do tráfego para minimização dos prejuízos causados à comunidade acadêmica e liberdade do fazer acadêmico. A Reitoria e a Prefeitura Universitária acompanham o caso.

A UFRJ não permitirá que seus estudantes, professores e funcionários sejam ultrajados e hostilizados e com anuência de outros entes do Poder Executivo. Vivemos em uma República. A Universidade não se calará e não permitirá que ataques sucessivos à comunidade acadêmica continuem em marcha contra a educação e a democracia, nem tampouco compactuaremos com discursos de ódio e ataques antidemocráticos. Seguimos lutando e acreditando na ciência e na educação de qualidade como rota para um Brasil melhor, como acontece em todo país verdadeiramente independente e desenvolvido”.

O Diretório Acadêmico Joel Valença, do curso de Geologia, também se manifestou e exigiu que sejam “tomadas todas as medidas cabíveis para a suspensão da atividade do campo de Estratigrafia e o retorno imediato de todos os participantes, incluindo motoristas, em viatura descaracterizadas com intuito da manutenção da saúde e segurança de todos aqueles que participam das atividades. Além disso, requeremos também a negociação mais ágil possível para liberação dos carros presos pelos manifestantes uma vez que os pertences dos alunos alojados no bagageiro do ônibus não foram retirados. Não existem condições seguras para a continuação das atividades do campo de Estratigrafia. Os alunos estão receosos de continuar viagem, afinal não se sabe quão seguros estarão no resto do deslocamento em estradaEsperamos que medidas para proteger a integridade física e mental de todos os participantes sejam tomadas de maneira célere".

O ônibus e os motoristas foram liberados de madrugada desta terça-feira (01). Segundo a Reitoria da UFRJ, os professores e estudantes desistiram da viagem e decidiram retornar ao Rio de Janeiro.

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