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Conheça a diferença entre seletividade e dificuldade alimentar em crianças

Fonoaudióloga explica cada quadro e possíveis causas do distúrbio pediátrico

Por Portal Eu, Rio! em 21/01/2023 às 05:00:00

Foto: Divulgação

Você sabe a diferença entre seletividade e dificuldade alimentar? Segundo a fonoaudióloga Carla Deliberato, especializada em pacientes com dificuldades alimentares, o quadro de seletividade alimentar é quando a criança, na hora de comer é relutante em aceitar alguns tipos de alimentos, seja por sabor, textura, odor ou aparência.

Mas no geral, elas toleram todos os grupos alimentares que incluem os carboidratos, as frutas, verduras e legumes e proteínas, tanto de origem animal como vegetal. Por exemplo: ela não come todos os tipos de proteína animal (carne, frango e peixe), mas aceita um tipo pelo menos, o frango. Por outro lado, a criança com dificuldade alimentar tem menos facilidade em aceitar alimentos de todos os grupos e pode chegar a desprezar um ou mais grupos alimentares inteiros. Por exemplo: ela nunca come nenhum tipo de proteína animal, independente do tipo de preparo e da situação.

“Eu recebo em meu consultório muitos pacientes com seletividade alimentar 'extrema' e essa dificuldade é classificada como um distúrbio alimentar pediátrico", revela a profissional, citando a Resolução 659 do Conselho Federal de Fonoaudiologia, publicada em 30/03/2022.

Carla vivenciou de perto essa experiência quando sua filha, Isabela, tinha resistência em comer alimentos, além de sofrer com náuseas recorrentes durante o processo de introdução alimentar.

“No caso da dificuldade alimentar, a criança nem quer saber ou tem interesse em um alimento novo e, muitas vezes, ao chegar perto dessa comida diferente da sua rotina, pode apresentar também náuseas e vômitos. Fica muito incomodada com a textura e o cheiro do alimento”, diz.

Essas situações muitas vezes acabam por fazer, segundo a especialista, que a família fique “refém” dessa situação, sem conseguir ter uma rotina diferenciada, como fazer uma viagem ou ir a um restaurante.

“Tudo se torna muito difícil no caso da criança com dificuldade alimentar. Ela fica acostumada ao ambiente da casa, a comer a comida que a mãe, a avó ou a babá preparam e, muitas vezes, a família não consegue sair daquela rotina do dia a dia e fazer um passeio”, explica a fonoaudióloga.

Outro caso comum que Carla atende em seu consultório são os de pais que acham que seus filhos são vegetarianos por não conseguirem comer proteína. Carla chama atenção para o fato de que muitas vezes esse quadro - que nem sempre é percebido pelo pediatra - também está associado a uma dificuldade para mastigar e que exigirá da criança mais esforço. A criança rejeita a proteína da carne porque ela é mais fibrosa e difícil de mastigar e não necessariamente porque tem uma tendência a ser vegetariana.

“Algumas crianças, desde a introdução alimentar, começam o processo de alimentação com alimentos muito pastosos e moles e acabam não desenvolvendo tanto a habilidade da mastigação. Por isso que, em alguns casos, a aceitação de carnes pode ser difícil, porque talvez exista uma inabilidade de mastigação”, explica.


Fonoaudióloga Carla Deliberato. Foto: Divulgação

Mas quando procurar ajuda profissional?

Carla explica que a dificuldade alimentar se divide em diferentes graus que precisam ser analisados e que quando a criança despreza grupos alimentares inteiros, os pais precisam procurar ajuda profissional a fim de evitar que a criança tenha risco de deficiência de nutrientes, o que pode aumentar o risco de doenças no futuro.

A especialista complementa que o profissional mais indicado nesses casos é o fonoaudiólogo especialista em motricidade oral, pois ele tem a formação específica para avaliar o sistema sensório motor oral frente à queixa de dificuldade de alimentação apresentada.

“É fundamental que o especialista investigue se, associada à dificuldade alimentar, a criança tem questões emocionais ou quadros orgânicos relacionados que possam interferir nessa não aceitação dos alimentos, como doenças respiratórias (sinusite, hipertrofia de adenóide, amígdala aumentada), doenças neurológicas de base no geral, alterações gastroenterocológicas (refluxo gastroesofágico, alergias alimentares, constipação intestinal), dentre outros fatores”, exemplifica.

No caso de fatores emocionais, Carla esclarece que essa dificuldade de alimentação também pode se relacionar com a dinâmica familiar.

“Nessa situação, talvez seja necessário a intervenção de um psicólogo, pois muitas vezes a criança come o alimento na escola ou na terapia comigo. E quando está em casa, na presença da mãe ou dos parentes, não come para chamar a atenção. O importante é analisar cada caso de forma única e, dependendo, se faz muito importante o acompanhamento terapêutico emocional dessa criança” , analisa.

O tratamento só será feito após avaliação detalhada, exames complementares e, se houver indicação, o fonoaudiólogo irá realizar a Terapia de Alimentação com exercícios que façam com que a criança se aproxime dos alimentos mais difíceis de aceitar.

“A criança vai se relacionando de forma diferente com os alimentos e criando novas conexões positivas. Por exemplo, uma das estratégias que eu adoto é: se a criança não come arroz, mas gosta de bolinho. Vamos fazer bolinhos de arroz? E aí, a criança vai lidando não apenas com o conceito do arroz, mas ressignificando e construindo uma nova relação com o alimento, até chegar na forma in natura”, finaliza, lembrando que a família sempre participa de todo esse processo terapêutico.


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