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Terapia inovadora contra leucemia e linfoma de Hodgdkin, doenças letais, entra em ensaios clínicos no Brasil

Butantan, USP e Hemocentro cooperam para oferecer gratuitamente, pelo SUS, tratamento que custa US$ 500 mil no Primeiro Mundo

Por Portal Eu, Rio! em 07/03/2023 às 11:16:43

Butantan, USP e Hemocentro cooperam para oferecer gratuitamente tratamento contra leucemias agressivas que custa US$ 500 mil no exterior. Foto: Ascom Butantan

O ensaio clínico da terapia celular CAR-T no Brasil, tratamento inovador para câncer de sangue que tem se mostrado altamente promissor, será feito inicialmente em pacientes com linfoma não Hodgkin de células B, um dos tipos mais comuns e agressivos, e em pacientes com leucemia linfoide aguda. O estudo será conduzido pelo Butantan, Universidade de São Paulo (USP) e Hemocentro de Ribeirão Preto. A terapia já foi utilizada em testes compassivos (por decisão médica, como último recurso) em nove pacientes, e a maioria alcançou remissão total ou parcial do câncer. A tecnologia deverá entrar em fase 1 de ensaios clínicos, com o objetivo de avaliar a segurança do tratamento, no primeiro semestre de 2023.

A CAR-T é aprovada desde 2017 pela Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos, e já é aplicada em outras oito regiões: Canadá, Europa, China, Japão, Israel, Austrália, Nova Zelândia e Singapura, mas ainda é muito inacessível e chega a custar US$ 500 mil por paciente. O objetivo da parceria entre Butantan, USP e Hemocentro é oferecer o tratamento gratuitamente.



A primeira fase do estudo irá durar um ano e será conduzida nos hospitais da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Serão incluídos na pesquisa 20 pacientes com linfoma não Hodgkin de células B e 20 pacientes com leucemia linfoide aguda do tipo B, com idades entre 18 e 70 anos, que tiveram recidiva da doença após tratamentos convencionais e não são elegíveis para transplante de medula óssea.

Essa etapa irá avaliar a segurança da terapia, ou seja, o surgimento de efeitos adversos de curto e longo prazo; a resposta clínica após 30 e 90 dias da infusão das células; a duração da resposta e a sobrevida geral dos voluntários. Os indivíduos serão acompanhados por 12 anos após o procedimento - somente depois desse período sem a doença é que a medicina considera o paciente curado.

O estudo clínico é uma etapa primordial para contribuir para a aprovação da CAR-T pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e para a disponibilização do tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS). Até então, a terapia é considerada experimental no Brasil, e os resultados dos testes compassivos, apesar de positivos, não influenciam na aprovação. Para isso, é necessário conduzir ensaios clínicos de fase 1, 2 e 3, e avaliar a segurança e a eficácia do tratamento em um número maior de voluntários.

Como funciona o tratamento com CAR-T (receptor quimérico de antígeno)

Lucas Visconti, 27 anos, foi um dos primeiros pacientes brasileiros com leucemia a ser indicado para a terapia experimental com células CAR-T

A terapia com células CAR-T (sigla em inglês para receptor quimérico de antígeno) é composta por um vetor lentiviral que contém os linfócitos T do próprio paciente reprogramados para expressar um receptor que reconhece o antígeno CD-19. Esse é um antígeno específico que está presente na superfície das células de certos tipos de câncer de sangue (caso do linfoma) – e é assim que a terapia permite que os linfócitos reconheçam e eliminem as células cancerosas.

De forma resumida, o processo em si consiste na coleta de sangue do paciente, modificação das células T em laboratório e, depois, infusão das células de volta à corrente sanguínea do indivíduo, que fica em observação no hospital por alguns dias após a aplicação. Tudo isso dura em torno de dois meses.

Uma das maiores vantagens é que a terapia é específica para o câncer e não danifica células saudáveis, causando menos efeitos adversos do que tratamentos convencionais como quimioterapia. Além disso, pacientes tratados com CAR-T apresentam maior chance de remissão, e estudos já mostraram que as células modificadas continuam circulando no organismo após 10 anos, podendo agir e combater células tumorais que eventualmente apareçam.

Linfoma não Hodgkin acomete mais de 12 mil pessoas por ano no Brasil

No Brasil, estima-se que sejam diagnosticados por ano 12.030 novos casos de linfoma não Hodgkin, sendo 6.580 homens e 5.450 mulheres. Anualmente, são registrados 4.357 óbitos pela doença, sendo 2.422 homens e 1.933 mulheres, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA).

O linfoma não Hodgkin engloba mais de 20 tipos diferentes e tem origem nas células do sistema linfático, uma parte essencial do sistema imune, podendo afetar linfócitos T ou linfócitos B. A maioria (85%) ocorre nas células B e, dentro dessa categoria, existem mais de 10 tipos, que podem acometer desde crianças até adultos. Entre os linfomas infantis, os não Hodgkin de células B são os mais comuns.

Em geral, a doença é caracterizada pelo aumento dos linfonodos (gânglios) do pescoço, axilas e/ou virilha, suor noturno excessivo, febre, coceira na pele e perda de peso maior que 10% sem causa aparente.

Novos casos de Leucemia linfoide aguda ultrapassam 10,8 mil a cada ano

Em 2020, o Brasil registrou 10.810 novos casos de leucemia, segundo o INCA, sendo 5.920 homens e 4.890 mulheres. Existem mais de 12 tipos de leucemia – os quatro primários são leucemia mieloide aguda (LMA), leucemia mieloide crônica (LMC), leucemia linfoide aguda (LLA) e leucemia linfoide crônica (LLC).

A LLA é o tipo mais comum em crianças, mas também atinge adultos. A doença é caracterizada pelo surgimento de linfócitos imaturos e danificados na medula óssea, que rapidamente se espalham pelo organismo. Em crianças, há cerca de 80% de sobrevida, que pode chegar a 90% com o diagnóstico precoce. Já nos adultos, a taxa de sobrevida é de 20% a 30%.


Fonte: Instituto Butantan

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