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Flávio Bolsonaro vai do céu ao inferno em menos de dois meses

Senador mais bem votado do Rio está enfrentando várias acusações

Por Sérgio Meirelles em 26/01/2019 às 11:10:52

Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

A política tem dessas coisas. Quando menos se espera, vêm à tona todas as mazelas que foram ocultadas durante muito tempo. Flávio Bolsonaro (PSL), o primogênito do presidente da República, foi do céu ao inferno em pouco tempo. Em menos de dois meses e prestes a tomar posse como o senador mais bem votado do Rio de Janeiro, Flávio enfrenta uma série de acusações que podem lhe custar o fim do prestígio político adquirido nas últimas eleições e até a perda do mandato.

Flávio Nantes Bolsonaro, de 37 anos, iniciou na vida pública em 2002, quando foi eleito pela primeira vez deputado estadual pelo Rio de Janeiro. Depois disso, se elegeu mais três vezes para o mesmo cargo eletivo, o último deles em 2014. Durante esse período, Flávio mudou três vezes de partido. Esteve filiado ao Partido Progressista (PP), entre 2003 e 2016, ao Partido Social Cristão (PSC), de 2016 e 2018 e, por último, ingressou no Partido Social Liberal (PSL), mesma legenda do pai, o presidente Jair Bolsonaro.

A carreira política de Flávio teve um impulso no ano passado, quando o seu nome foi confirmado como candidato do PSL, na disputa por uma vaga no Senado Federal. Na carona do pai, que despontava como um dos favoritos à Presidência da República, Flávio elegeu-se senador com facilidade, obtendo mais de 4,3 milhões votos do eleitorado fluminense. A posse acontecerá no dia 1º de fevereiro.

Caso Queiroz

Tudo ocorria às mil maravilhas, para Flávio. Até que, no dia 6 de dezembro de 2018, veio a público um relatório elaborado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e divulgado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ). O documento apontava Fabrício Queiroz, ex-segurança e ex-motorista de Flávio na Assembleia Lagislativa do estado (Alerj), de ter movimentado, de maneira suspeita, R$ 1,2 milhão em sua conta corrente.

O ex-policial militar Fabrício Queiroz é amigo da família Bolsonaro desde os anos 80. Ele esteve ao lado de Flávio de 2002 até outubro de 208, quando foi exonerado do cargo na Alerj. Queiroz foi convocado várias vezes para prestar esclarecimentos aos procurados do MPRJ sobre a movimentação financeira atípica em sua conta corrente, mas não compareceu a nenhuma das convocações. Quando era questionado sobre as acusações que pesavam sobre Queiroz, Flávio dizia que as explicações teriam que ser dadas pelo ex-assessor.

O levantamento do Coaf apontou que os depósitos feitos na conta corrente de Queiroz eram realizados no mesmo dia do pagamento dos funcionários da Alerj.  Os promotores suspeitam que os assessores de Flávio Bolsonaro devolviam ao parlamentar, por intermédio de Queiroz, parte dos salários que recebiam. Entre as pessoas que trabalhavam no gabinete de Flávio, se encontravam a mulher e duas filhas de Queiroz.

A situação foi se tornando incômoda para Flávio Bolsonaro. Ele chegou a ser convidado para prestar esclarecimentos aos promotores que investigam o caso, mas, assim como Queiroz, Flávio também não compareceu ao MPRJ. No dia 17 de janeiro, atendendo a um pedido de Flávio Bolsonaro, o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a suspensão temporária da investigação que vinha sendo feita pelo MPRJ.

Movimentações suspeitas

Um dia após a decisão do STF, uma nova denúncia contra Flávio veio à tona. O Coaf apontou movimentações suspeitas na conta corrente do senador eleito. Em um mês, foram efetuados 48 depósitos bancários na conta de Flávio, no total de R$ 96 mil. Em seu relatório, o órgão federal diz que o fracionamento podia representar uma forma de ocultar a origem do dinheiro.

No mesmo documento, o Coaf detectou que Flávio pagou um título bancário da Caixa Econômica Federal, no valor de R$ 1 milhão. O favorecido pelo pagamento não foi identificado pelo órgão.  

Flávio se defendeu dizendo que os depósitos efetuados em sua conta e o pagamento do título bancário eram frutos de uma transação de compra e venda de um imóvel.

Milicianos

No dia 22 de janeiro, a polícia prendeu cinco homens acusados de participar de uma milícia envolvida na grilagem de terras na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. Entre os detidos, está o ex-policial militar Maurício Silva da Costa, que já foi homenageado por Flávio Bolsonaro, na Alerj.

A polícia procura por Adriano Magalhães da Nóbrega, outro ex-policial militar que também foi homenageado por Flávio Bolsonaro, na Alerj. A mãe e a mulher de Adriano trabalharam para Flávio, durante seu mandato de deputado estadual, até novembro do ano passado.

Adriano e Maurício são suspeitos de integrar uma quadrilha denominada de “Escritório do Crime”, grupo que pode ter envolvimento nos assassinatos da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista da parlamentar Anderson Gomes, em 14 de março de 2018.

Ao se justificar sobre as homenagens aos ex-policiais, Flávio disse que, quando era deputado, ofereceu centenas de moções parabenizando profissionais de segurança pública e que não sabia sobre as acusações que pesavam contra Adriano e Maurício.

Mandato sob risco

Em entrevista ao SBT, na quinta-feira (24/01), Flávio Bolsonaro descartou a possibilidade de se afastar do mandato de senador que começará na próxima semana.

"É mentira. Não sei nem de onde surgiu essa história. Eu nem tomei posse ainda. Vou tomar posse e vou trabalhar muito", afirmou.

Na entrevista, Flávio voltou a acusar o Ministério Público de vazar dados sigilosos e também falou sobre declarações que deu como deputado estadual defendendo a atuação das milícias. Em 2007, ao discursar na Alerj, Flávio disse que as milícias não deveriam ser estigmatizadas.

Segundo Flávio, naquela época, ainda estava se discutindo o que era uma milícia, mas que é contra a qualquer tentativa de se implantar "um estado paralelo".

"Eu sou contra milícias, só que nesse momento (em 2007) estava começando uma discussão sobre o que era isso. Eu sempre fiz a defesa dos profissionais de segurança pública. E qualquer lugar onde moravam dois ou três policiais já era considerado milícia".

    

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