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Bolsonaro liga para Renan logo que MDB no Senado o consagra candidato a Presidência

Voto secreto aprovado no Supremo e gesto do Planalto tornam ainda mais improvável derrota do alagoano que serviu a Collor, FHC, Lula e Dilma, de quem liderou o processo de impeachment

Por Cezar Faccioli em 31/01/2019 às 22:24:53

Foto: Agência Brasil

Política é como nuvem, muda de desenho a cada vez que se olha.O senador Renan Calheiros recebeu um telefonema de congratulações do presidente da República, Jair Bolsonaro, logo depois de derrotar Simone Tebet por sete a cinco e tornar-se candidato do MDB, a maior bancada do Senado. Nas redes sociais, os adeptos dos presidente fizeram campanhas sucessivas contra a recondução de Renan e exigiram seu indiciamento e prisão. A vitória do veterano Senador foi por margem estreita, sete a cinco, sobre Simone Tebet, do MDB do Mato Grosso do Sul, e filha do ex-presidente do Senado Ramez Tebet. O protocolo só obrigava a um gesto depois que a presidência do Senado estivesse decidida formalmente. Ao antecipar-se, Bolsonaro reforça a maré em direção a Renan.

O telefonema do presidente Bolsonaro, com isso, torna muito improvável uma surpresa. Renan tem a seu lado a tradição de respeitar-se a indicação da maior bancada,  o voto secreto, que limita os efeitos da pressão da opinião pública e, agora, o reconhecimento de sua força pelo presidente Bolsonaro. Prevaleceu no Planalto o mesmo pragmatismo que levou o PSL, segunda maior bancada da Câmara, a engrossar a candidatura de Rodrigo Maia, do DEM, antes que legendas de centro e esquerda aderissem ao atual presidente da casa.

A maior renovação na composição do Senado, com 46 das 54 vagas em disputa ocupadas por desafiantes dos atuais senadores, enfrentará muito provavelmente uma presidência que encarna, nos defeitos e qualidades, a política que os novos parlamentares, na maioria de legendas que aderiram a Bolsonaro, prometeram combater. A Reforma da Previdência, ainda mais agora que os militares, esteio do presidente eleito, terão que entrar com uma cota de sacrifício, como os demais trabalhadores, é o maior desafio do governo recém-eleito.

É com a reversão de expectativas do mercado, no rastro de um novo modelo previdenciário que diminua benefícios e busque novas fontes de financiamento junto aos trabalhadores, que o ministro da Fazenda, Paulo Guedes, joga suas fichas para um novo ciclo de crescimento sustentado. E a Reforma exige quórum de três quintos, mais do que os 220 votos firmes que os analistas apontam como a base firme, o núcleo duro dos apoiadores de Bolsonaro na Câmara. Sem atrair o MDB e o DEM, a equação fica difícil, quase impossível de fechar. É essa conta que arrefeceu o ânimo de emparedar os políticos tradicionais, substituído pela negociação, a troca de favores, o toma lá dá cá amaldiçoado pelo presidente durante a campanha. Renan, um dos articuladores do impeachment de Dilma Rousseff, mas também o autor da costura que impediu que a presidente afastada perdesse os direitos políticos por oito anos, tem caminho livre para demonstrar sua força à frente do Senado.

O presidente Bolsonaro, por sua vez, mesmo com seus 57 milhões de votos e uma retórica inflamada mesmo depois da eleição, dá uma mostra a mais de pragmatismo e rápida capacidade de adaptação. Correndo o risco de se desgastar com os segmentos mais radicais de sua base, opta pela composição com legendas que preservam a influência e a capacidade de articulação no parlamento. Esse tipo de movimento surpreende a quem tenha uma leitura mais literal de retórica e promessas de campanha, mas não aos cronistas da política em Brasília, essa mesma com p minúsculo.

Os historiadores, que tratam da Política em maiúsculas, tem amplo rol de surpresas a examinar, do acordo depois frustrado entre o fascista Hitler e o comunista Stálin à visita de Richard Nixon à China de Mao Tsé-Tung, ou o aperto de mão entre os arquirrivais Kim Jong-Un e Donald Trump. Quem quiser um olhar ainda mais em direção ao passado, tem o exemplo de Henrique IV, que como líder dos protestantes venceu batalhas, mas que para assumir o trono pacificando os conterrâneos, se converteu ao catolicismo. No trono, unificou o País, proibindo a perseguição religiosa aos protestantes, mas manteve as prerrogativas da Igreja Católica. A quem cobrasse a surpreendente conversão, respondia: "Paris bem vale uma missa". Brasília, que já moderou Lula, pode se candidatar ao paralelo.

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