O avanço da tecnologia trouxe consigo inúmeros benefícios para a sociedade, mas também desencadeou uma preocupante condição conhecida como esgotamento digital – ou burnout digital. O excesso de exposição aos dispositivos eletrônicos tem levado muitos profissionais a experimentarem exaustão e dispersão, resultando em prejuízos à saúde física e mental.
De acordo com um relatório publicado em janeiro pela agência We Are Social, em parceria com a empresa de monitoramento de mídia online Meltwater, os brasileiros passam em média mais de nove horas e meia por dia conectados à internet, o que nos posiciona em segundo lugar no ranking global, perdendo apenas para a África do Sul.
A psicóloga Mariana Zieza, especialista em saúde mental e bem-estar, destaca que muitas pessoas têm o hábito de verificar seus celulares logo ao acordar e antes de dormir, o que pode mantê-las hiperestimuladas. Os efeitos da exposição prolongada às telas podem ter um impacto negativo na saúde e no bem-estar. Dificuldades de concentração, falta de motivação, irritabilidade, insônia e percepção de aumento da carga mental são apenas alguns dos sintomas associados ao uso excessivo de dispositivos eletrônicos.
No caso do burnout digital, os sintomas são semelhantes aos do burnout "clássico" relacionado ao trabalho: exaustão emocional, despersonalização (sentimento de distanciamento afetivo em relação às pessoas ao redor), ansiedade, angústia e baixa realização profissional.
Sinais de Alerta
Mariana destaca alguns sinais de alerta que indicam o esgotamento digital e seus efeitos na saúde e no bem-estar:
"Diminuição da concentração, motivação, da autoestima e até mesmo a transformação da nossa sensibilidade. Somos constantemente atravessadas por uma cultura da produtividade, que nunca pode parar, onde o outro lado, é sempre a desvalorização do ócio. Acessar constantemente dispositivos, verificar as redes sociais, se tornou mais uma tarefa importante a cumprir, um meio para mostrar não só que existimos, mas que existimos de forma sensacional, o que gera também gasto de energia, pois tudo deve aparecer perfeito para o outro", afirma a psicóloga.
"A atenção exige esforço, então muitas vezes, pode ser uma distorção acreditar que se está descansando nas redes sociais. Normalmente, estamos capturados com informações que nunca cessam. Quanto ao trabalho remoto, os profissionais se veem na necessidade de checar e-mails e permanecer online o tempo todo, para provar que estão trabalhando, gerando um estresse constante, explica a especialista.
Para evitar o burnout digital, é necessário tomar medidas preventivas, tais como:
- Estabelecer limites saudáveis para o uso da tecnologia, como desconectar-se regularmente;
- Viver atividades sensoriais como dança, pintura, tocar um instrumento ou meditação;
- Experimentar o silêncio enquanto se faz atividades automáticas, como dirigir ou lavar louça, por exemplo;
- Respeitar o horário do fim do expediente, também no trabalho remoto.
"Além disso, é fundamental reservar tempo para atividades fora do mundo digital, como hobbies, exercícios físicos e interações sociais no mundo real, a fim de manter um equilíbrio saudável. Com essas medidas, é possível desfrutar dos benefícios da tecnologia sem prejudicar a saúde e o bem-estar", finaliza Mariana.