Um grupo de pesquisa que reúne professores de diferentes centros da UFRJ, assim como da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), procura combater a rabdomiólise, doença caracterizada pela destruição das fibras musculares. A pesquisa se dá a partir de diagnósticos de análise rápida e avalia se as proteínas identificadas nos testes podem indicar outras formas da doença.
Coordenada por Andréia Carneiro da Silva, capitão de corveta da Marinha do Brasil e doutora em Bioquímica pela UFRJ, a proposta teve origem em 2017, com o objetivo de definir estratégias para a prevenção e o monitoramento da síndrome em militares submetidos a exercício físico intenso.
A partir de 2021, por meio de incentivo do Ministério da Defesa, da Marinha e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), os pesquisadores avançaram no estudo e trabalham no desenvolvimento de um teste de análise rápida, baseado na coleta de sangue e urina dos examinados. O kit observa a validação de potenciais biomarcadores de monitoramento e de susceptibilidade para rabdomiólise por esforço, facilitando o diagnóstico e dispensando uma equipe de bioquímica para a prevenção.
A iniciativa também conta com parceria do o Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (Cefan), responsável pela capacitação de tropas e de atletas militares olímpicos e paralímpicos da Marinha. Na UFRJ, a equipe de cooperação técnica é composta pelos professores Francisco Radler de Aquino Neto e Marcos Dias Pereira, do Instituto de Química; Mariana Amaral Alves, do Instituto de Pesquisas de Produtos Naturais Walter Mors; e Diego Viana Gomes, da Escola de Educação Física e Desportos.
De acordo com o grupo, a rabdomiólise (rabdo: estriado; mio: músculo; lise: quebra) é compreendida como a degradação dos tecidos musculares do corpo humano, resultada a partir da liberação de diferentes substâncias na circulação sanguínea e capaz de regiões como os rins e o sistema urinário.
As causas dessa síndrome são diversas e podem ser motivadas pela prática excessiva de atividades físicas, especialmente quando realizadas em condições climáticas intensas, ou até pela ingestão de fármacos e outras drogas. Em um artigo publicado em 2021, a equipe esclarece que, apesar de existirem ocorrências seculares de rabdomiólise, a expressão só viria a ser cunhada pela primeira vez em 1956 e teria seu primeiro relato moderno em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial.
Em entrevista ao Conexão UFRJ, o professor Diego Viana relatou que, de acordo com estudos recentes, a incidência da enfermidade por esforço físico é de aproximadamente 30 para cada 100 mil pacientes por ano. No campo dos esportes, o atletismo é a modalidade com mais ocorrências.
Segundo ele, o estresse emocional e as baixas horas de descanso também despontam como outros sintomas. Em casos mais intensos de dano na fibra muscular, a partir do extravasamento das proteínas da célula para o sangue, essa complicação pode gerar uma sobrecarga renal aguda e levar o paciente a óbito.
“O teste é tido como um preditor do agravamento de um dos sintomas e até de uma parada cardíaca, que antes não seria compreendida como algo decorrente da rabdomiólise. Ou seja, é por meio dele que nós conseguimos identificar o momento anterior a uma lesão tecidual precoce em profissionais submetidos a um treinamento físico intenso. Felizmente, desde que nós iniciamos a aplicação do teste, não tivemos mais casos de óbitos. O que é um resultado muito significativo para a pesquisa”, reforçou Viana.
Além de uma patente registrada junto ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), a proposta também foi aprovada pelo Conselho de Ciência e Tecnologia da Marinha (Concitem) e apresentada na 20ª Reunião de Projetos de Interesse para a Defesa Nacional (20ª Repid), realizada em junho do ano passado.
Atualmente, com a colaboração do Laboratório de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (Ladetec), a pesquisa está em fase de aplicação e aperfeiçoamento do teste junto aos militares da Marinha. Algumas das etapas do projeto podem ser acompanhadas em vídeo promocional, publicado pelo professor Diego Viana no Instagram.
A expectativa é de que em breve o diagnóstico também esteja disponível para atletas e outros profissionais do grupo de risco, como estivadores, trabalhadores rurais e operários da construção civil, especialmente quando expostos ao estresse térmico durante atividades laborais. Por fim, um dos propósitos da equipe é também alertar a sociedade civil sobre os riscos da doença e divulgar os resultados obtidos com o estudo, para que mais vidas possam ser preservadas.
Fonte: UFRJ